Após anos de isolamento do mundo humano, os irmãos tartaruga decidem conquistar a simpatia dos Nova Iorquinos e serem aceitos como adolescentes normais. Sua nova amiga, April O’Neil, os ajudam a enfrentar um misterioso sindicato do crime, mas eles rapidamente percebem que abocanharam mais do que conseguem mastigar.
Tartarugas Ninja: Caos Mutante volta às raízes dos personagens com bastante humor, ação e ficção científica. O grande diferencial aqui em relação às mais recentes adaptações cinematográficas é por se tratarem de adolescentes mesmo. Na história, 15 anos se passaram desde que as quatro tartaruguinhas acidentalmente entraram em contato com a “gosma” e mutaram para suas versões antropomórficas. Splinter cuida deles e, por conta de seus traumas, não permite que os irmãos fiquem vagando pelo mundo humano a não ser que seja absolutamente necessário. A falta de contato com a realidade e uma vida inteira imaginando o que é fazer parte disso atiça a curiosidade e eles se arriscam cada vez mais para ter um gostinho dessa vida. A cena deles assistindo de longe à mostra a céu aberto de “Curtindo A Vida Adoidado” é uma apresentação forte da fantasia na qual eles acreditam que seja a vida de aventuras na escola.
Tudo no filme é motivo de piada, até mesmo o conceito por trás dos personagens título. Apesar de ter elementos de ficção científica clássica, existem fatos que não são fáceis de serem levados a sério, como suas irônicas proezas acrobáticas e em lutas marciais, e isso é apresentado numa montagem hilária com vídeos no estilo Telecurso 2000 que Splinter tirou do lixo e levou para seu lar no esgoto para treinar e ensinar defesa pessoal a Leo, Donny, Mike e Rafa – como eles próprios se apelidaram. Durante um rolê proibido, o quarteto esbarra com April O’Neil, uma adolescente deslocada que busca um furo de reportagem para o jornal da escola, ela percebe o potencial que as tartarugas têm de mudar a opinião pública sobre serem monstros perigosos se usarem suas habilidades para combater criminosos, e aí começa a parceria deles com April coletando informações sobre uma quadrilha perigosa liderada pelo nunca visto Superfly (“Super-Mosca” em tradução livre, mas que pode ser interpretado em inglês como “Mandrake” pros jovens e “Borogodó” pra quem é das antigas).
O vilão Superfly é um personagem original que já se tornou icônico! Ele e sua gangue de mutantes que dividem suas origens com as tartarugas são personagens super carismáticos e roubam a cena – com destaque para Mondo Gecko, o calango parceria. Eles são o retrato do que as Tartarugas Ninja poderiam ter sido: criaturas amarguradas com relação aos humanos e que, poluídos pelas idéias vingativas de Superfly, executam roubos para construir uma máquina capaz de virar o jogo para os mutantes e torná-los a raça dominante no planeta. O acolhimento sentido pelos irmãos os faz titubear sobre a índole da gangue e tentam mudar a mentalidade dos vilões. No meio desse conflito de ideologias, Splinter encara a realidade de que talvez tenha sido duro demais quanto ao assunto com seus filhos e que por pouco ele não teve o mesmo efeito que Superfly sobre a gangue de jovens mutantes.
O estilo da animação é outro ponto alto. Muitas comparações serão feitas com o Aranha-verso, mas sinceramente não há similaridades entre eles. O que Aranha-verso tem de influência aqui é ter sido pioneiro e quebrado com padrões de animação que eram muito ditados pela Disney/Pixar. Após seu sucesso estrondoso, estúdios sabem que o público está aberto a novos estilos e aqui isso é usado em sua totalidade. Eu descreveria o traço como um misto de caricatura e rascunho. Objetos e feições são propositalmente tortos e irregulares – e não estou falando somente dos mutantes – deixando tudo com um visual bem relaxado e sem preocupações com a realidade, o que casa 100% com os personagens. A trilha sonora também reflete bem Nova Iorque com bastante hip hop da Costa Leste e combina perfeitamente com o espírito jovem e periférico da história.
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é uma aventura adolescente recheada de estilo, humor e visuais alucinantes. Tem tudo para dominar a bilheteria nesse momento pós Aranha-verso e de escassez de filmes do gênero. Torço para que o público vá em peso aos cinemas e mostre que variedade nos estilos de animação pode trazer retorno financeiro para que os estúdios apostem cada vez mais em novidades.
“As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” chega aos cinemas em 31 de Agosto.