O aguardado filme The Flash, estrelado por Ezra Miller como Barry Allen, traz finalmente a perspectiva do velocista escarlate do Universo Estendido da DC. Nesta aventura repleta de ação e viagem no tempo, o filme apresenta alguns pontos notáveis, mas também enfrenta desafios que nos deixam preocupados sobre o status deste vindouro universo cinemático da DC.
O longa-metragem inicia em um momento em que a Liga da Justiça já está há anos estabelecida como um grupo de super-heróis conhecidos na Terra, coordenados por Alfred Pennyworth (Jeremy Irons), Barry Allen tem a oportunidade de salvar um prédio em colapso em uma sequência fantástica que utiliza efeitos visuais impressionantes. Essas cenas, com soluções baseadas na Força de Aceleração, evocam lembranças das sequências de bullet time do personagem Mercúrio nos filmes dos X-Men. No entanto, o destaque dessa sequência inicial é a forma como Barry lida com sua própria insegurança e se supera para salvar vidas, demonstrando um crescimento significativo como herói. Porém o Flash, agora com um traje modernoso, ainda sente-se inferior aos seus colegas de equipe, como Superman e Mulher-Maravilha, cujas habilidades superam as suas. O protagonista também enfrenta dilemas pessoais, como a ansiedade e a luta para provar a inocência de seu pai, Henry Allen (Ron Livingston) no julgamento pelo assassinato de sua mãe, Nora Allen (Maribel Verdú).
Barry tem certeza que seu pai não foi o assassino de sua mãe, pois vira que ele não havia ainda chegado em casa durante o ocorrido, porém, as câmeras de vigilância não conseguem confirmar o álibi e Barry se convence de que pode mudar isso ao decidir voltar no tempo para evitar o assassinato de sua mãe, retornando então para um mundo alternativo onde seus pais estão vivos e o panorama da Liga da Justiça é completamente diferente. Nessa realidade paralela não existem meta-humanos e nem mesmo um Superman, mas o Batman é ainda mais velho que o seu e é interpretado por Michael Keaton. Além disso, a chegada de Supergirl, Kara Zor-El (Sasha Calle), na Terra em lugar do Superman Kal-El, traz uma nova perspectiva da invasão de General Zod (Michael Shannon), acrescentando uma camada interessante à narrativa e estabelecendo um contexto peculiar para o Flash explorar. Porém, é notável que Michael Shannon retornou ao papel sem vontade e acaba não nos dando a alegria que esperávamos ao rever o melhor vilão do DCEU.
The Flash começa de forma promissora, mas, ao longo da trama, é difícil evitar encontrar alguns furos que podem levar a uma sensação de inconsistência e falta de coesão na narrativa. Embora, porém, não seja uma adaptação fiel ao material original, o filme traz mais uma abordagem diferente do aclamado arco Flashpoint, logicamente inferior ao longa-metragem animado que trouxe essa história à vida pela primeira vez, mas ainda supera a versão televisiva da CW.
A interpretação de Ezra Miller é um dos pontos altos do filme. O ator consegue transmitir de forma convincente a distinção entre as duas versões de Barry Allen de cada Terra, evidenciando as diferenças sutis em suas personalidades. A química entre os dois personagens, mesmo sendo o mesmo indivíduo, é cativante e aprofunda a exploração das possibilidades dos multiversos no enredo. A presença da Supergirl também é um destaque, embora sua participação seja limitada. Ela entrega e eu queria ver muito mais dela. Michael Keaton também está muito a vontade, aparentemente feliz de ter retornado ao papel. É importante ressaltar que The Flash apresenta algumas participações surpresas que podem agradar os fãs mais ávidos, mas não espere por muitas.
Contudo, o filme enfrenta desafios em relação à escrita do terceiro ato, uma questão recorrente nos filmes da DC. A resolução final não é tão clara e pode deixar o público confuso quanto ao status atual do Universo DC no cinema. Além disso, embora a computação gráfica tenha apresentado melhorias significativas em relação aos trailers iniciais, ainda há espaço para críticas de especialistas em CGI. Outro aspecto que merece destaque é o uso de músicas licenciadas no filme. Por vezes, a escolha das faixas não se encaixa perfeitamente na cena, dando a sensação de que estamos assistindo a uma versão não finalizada do filme. Esse mal uso das músicas pode distrair o público e afetar a imersão na história. E quanto a trilha sonora original, Benjamin Wallfisch tenta emula o estilo de Danny Elfman, mas acaba apenas se destacando nos momentos com o Batman de Keaton, ainda sem termos uma trilha oficial marcante para o próprio Flash ou mesmo para a Supergirl ou outros personagens na trama.
Embora tenha suas falhas, The Flash apresenta momentos emocionantes, uma visão interessante do multiverso e performances cativantes. Existe uma cena no final dos créditos, mas eu não sei dizer se vale a pena segurar a vontade de ir no banheiro para tal.