Policiais, criminosos, turistas e adolescentes convergem em um parque florestal da Georgia onde um imenso urso preto entra num frenesi assassino após ter acidentalmente ingerido cocaína.
Baseado de forma superficial no real evento no qual um urso preto morreu de overdose após ingerir pacotes de cocaína que caíram de um avião de tráfico, “O Urso do Pó Branco” é uma comédia com pitadas de horror que vai te fazer se perguntar constantemente “mas que p*rra que eu to assistindo?!”. Aliás, isso é um elogio. Apesar da idéia já parecer absurda o suficiente, sua execução supera a expectativa.
Gostaria de ressaltar aqui que na direção temos Elizabeth Banks, mais conhecida por seus trabalhos como atriz em comédias e por viver a personagem Effie nos filmes Jogos Vorazes. Seu trabalho como diretora também merece destaque, pois toda sua experiência mistura de maneira homogênea diálogos cômicos de um roteiro caprichado e sequências de terror, resultando em algo que consegue divertir, apavorar e explodir sua mente, tudo ao mesmo tempo. Aliás, espero que seu próximo projeto seja um terror puro, pois o filme tem ótimos momentos de tensão no estilo “Um Lugar Silencioso”.
Achei o filme ótimo, porém não posso dizer que minha experiência foi igual a de outras pessoas. Sou instrutor de inglês e consigo acompanhar a maioria dos filmes sem depender de legenda, mas sempre presto atenção em como o texto foi adaptado para o público brasileiro e é aqui que mora o problema. É compreensível que nem tudo das piadas americanas seja possível traduzir de maneira que faça sentido, portanto deveria ser adaptada da maneira mais aproximada possível.
Algumas piadas passaram despercebidas ou totalmente descaracterizadas a ponto de não haver mais o elemento cômico original. Um exemplo: a guarda florestal Liz (Margo Martindale) é muito afim do especialista em vida selvagem, Peter (Jesse Tyler Fergusson), e numa cena está tentando atrair sua atenção. Após Peter não se tocar disso, ele aponta para um castor empalhado e diz “Nossa, mas seu castor tá todo empoeirado! Não vai dar um jeito nisso?” e ela diz “Estou tentando”. Em inglês, “castor” (“beaver”) também é usado como referência à genitália feminina, do mesmo jeito que brasileiros usam “aranha”. No momento, ouvi poucas risadas além da minha, pois a tradução não adaptou isso. Poderia ter sido “Nossa, tá na hora de tirar a teia de aranha!” para remeter à piada brasileira. Não assisti a versão dublada, então é possível que isso tenha sido melhor adaptado, já que são processos de tradução distintos. Aliás, falando em dublagem, o Rafael Portugal precisava ter sido convidado a dublar um deles. Você saberá quem quando assistir.
O elenco é excelente, com uma variedade de núcleos que funcionam tanto separados quanto após inevitavelmente se cruzarem na história. É realmente curioso como um filme com tanta mutilação consegue injetar doses de humor que funcionam dentro do horror. Um momento em particular envolve desmembramento e cocaína de maneira inédita e hilária. Agora preciso falar aqui de uma oportunidade perdida: qualquer fã de Game of Thrones olha para Kristofer Hivju e lembra de Tormund Giantsbane, o selvagem que alega já ter tido relações com uma ursa. Ter o ator no filme sobre uma ursa chapada de cocaína e, além disso, fazer uma cena em que essa ursa se esfrega toda em outro personagem que não é o de Kristofer é um descuido com as referências à cultura pop. Falo com propriedade, já que o personagem de Kristofer se chama Olaf e sua esposa se chama Elsa, ou seja, referências à cultura pop são parte da comédia do filme.