Nova comédia para adultos com direção de Tomás Portella, que começou como 1º Assistente de Direção em Meu Nome Não É Johnny e acumula projetos diversos na direção, como Qualquer Gato Vira-Lata, Operações Especiais, Isolados, Desculpe O Transtorno e Impuros. Com certeza não é um diretor com um só gênero em mente e La Situación é a junção de seus trabalhos anteriores.
A história acompanha Ana (Natália Lage) que não está no controle de sua vida profissional, social e amorosa, até que recebe a notícia de que herdou terras na Argentina de sua avó que faleceu. Assim ela convida para a viagem sua amiga Letícia (Júlia Rabello), a sobrecarregada mãe de 3 que precisa de um tempo para si, e sua prima Yovanka (Thati Lopes), uma trambiqueira drogada encostada que vive com ela contra sua vontade. Juntas elas são confundidas com mulas de drogas, passam por um caos inacreditável e descobrem em si facetas que suas vidas corriqueiras não haviam, até então, deixado aflorar. Um clássico “filme de estrada” com ar de independente e com algumas das melhores da comédia brasileira.

Ser uma co-produção Brasil/Uruguai possibilitou filmar em locação, o que abre um leque de dificuldades que um set fechado não tem, afinal o Sol uma hora se põe e aí só no dia seguinte. Mas um roteiro bem trabalhado e ensaiado, como dito em entrevista, possibilitou que tudo ocorresse como planejado com o bônus de parecer natural e até mesmo bem improvisado. Além disso, passa uma veracidade adicional que é um detalhe menos esperado ou cobrado de comédias. Existe também uma trama paralela que vai crescendo ao longo da história que é muito divertida de acompanhar até que ela se encontre com a principal e tenha importância maior no desfecho. Também há uma preocupação em manter detalhes contextualizados, por exemplo, o bonequinho de Elvis Presley pendurado no espelho do carro possivelmente fazendo referência a uma teoria da conspiração de que Elvis forjou sua morte e foi viver na Argentina e por isso o artista ainda tenha relevância no país. Tudo isso só destaca ainda mais um roteiro bem pensado na pré-produção.
Alguns momentos o elenco de apoio fica a desejar (como os policiais da escuta) e em outros são a escalação mais acertada (como a atriz Soledad Pelayo como “A Duquesa”) o que afeta um pouco o ritmo do filme, pois ora se quer avançar logo para quem interessa, ora se quer viver dentro de uma cena. Há também momentos de ação que são muito bem pensados e filmados – e outros que nem tanto. Talvez na hora de injetar um movimento de câmera mais dinâmico o diretor tenha se segurado demais. Entretanto, nada que ofusque a produção.
La Situación é mais um filme de comédia brasileira sim, mas não no sentido pejorativo como tem sido cada vez mais comum de se ouvir. É uma produção que, apesar dos desafios, é muito bem feita e que atinge seu objetivo: entreter. Viva la Gran Mamá!