Infelizmente perdemos a oportunidade de comentar sobre o filme Gato de Botas 2: O Último Pedido quando este estava para sair no cinema e deixei para ver somente agora após todos os elogios que o filme teve, então gostaria de fazer um artigo sobre o filme, mas não um review, pois isto vários sites já postaram, mas ressaltar os motivos pelo qual esse filme foi aclamado e porque eu acho que ele é o melhor filme do Shrekverso desde Shrek 2!
- Atenção: spoilers é claro!
1 – O tema
Pra começar, a produção de “Gato de Botas 2” não foi fácil. Depois do primeiro filme Gato de Botas, o spin-off da franquia Shrek, ter dividido opiniões e duras críticas, a sequência, que a princípio teria o Gato enfrentando Alibabá e os 40 Ladrões, quase foi cancelada devido à incerteza sobre o sucesso de uma sequência. No entanto, uma série de eventos inesperados acabaram levando à produção do filme.
Uma dessas circunstâncias foi um infarto sofrido por Antonio Banderas, o ator que empresta sua voz ao personagem do Gato (no original, pois no Brasil é o Alexandre Moreno). Durante esse período, Banderas teve uma experiência de quase morte que o fez refletir sobre a vida e a morte. Essa experiência acabou influenciando diretamente o enredo do filme onde o Gato foge da face da morte ao encarar sua nona e última vida.
Além disso, o filme aborda temas delicados, como aposentadoria e crises de pânico. Em uma cena emocionante, o Perrito (Harvey Guillen no origianl e Marcos Veras no Brasil) ajuda o Gato a controlar seus batimentos cardíacos, encostando em sua barriga. Esses temas são tratados com delicadeza sutileza, o que eleva o Shrekverso a outro nível e torna o filme ainda mais cativante para todas as idades.
2 – Os personagens
Além de ser uma obra emocionante, “Gato de Botas 2” é repleto de referências ao universo do Shrek. Diferente do primeiro filme, que não fazia menção aos personagens de Shrek, aqui podemos ver o Homem-Biscoito, Pinóquio, o próprio Shrek e o Burro (numa cena que parodia O Rei Leão), entre outros personagens familiares.
Além disso, Selma Hayak volta como a Kitty com uma personalidade muito mais agradável do que foi no primeiro filme e temos também personagens novos bem interessantes! O primeiro deles é o Perrito, que esse cachorro falante que a princípio se disfarça de gato. Aliás, a cena em que eles se conhecem, que é numa espécie de orfanato de gatos, mostra como os animais desse universo não são todos falantes, isso é especialidade de alguns, inclusive o Gato de Botas não é fluente na língua de gato, o que acaba sendo uma piada também.
3 – Os vilões
Outra adição intrigante é a personificação da própria entidade Morte, representada por um lobo branco de olhos vermelhos em um capuz preto e com foice, com a voz original de Wagner Moura! – Não entendi por que Wagner Moura não reprisou na dublagem no Brasil, dando lugar a Sérgio Moreno – A Morte é um dos melhores e mais assustadores antagonistas desde a Fada Madrinha e o Rumpelstiltskin, mas ao contrário destes, a Morte não é má, apesar de seu ranço contra gatos especialmente o Gato de Botas por rir na cara da morte, motivando-o a perseguir pessoalmente o Gato em sua última vida.
Temos outros vilões também como os Três Ursos e a Cachinhos Dourados (Florence Pugh no original e Geovanna Ewbank no Brasil) que tem aqui um visual meio celta e sujo, o que achei interessante. Mas o vilão principal que é um personagem não muito conhecido especialmente pelo público brasileiro que é o João Trombeta, aqui representado como um colecionador de ítens mágicos. Ele é sádico e não dá valor a vida, o que faz dele o vilão mais desprezível de toda o Shrekverso.
Todos estão atrás da Estrela, escondida na Floresta Negra, para realizar um desejo definitivo, cada um com sua ambição que acaba trazendo assuntos delicados como foi o caso da Goldi (a Cachinhos) querendo desejar uma família de verdade e mesmo com sua família Urso compreendendo isso, decidindo ajudar por amor a sua filha adotada.
4 – A animação
o filme se destaca por usar um novo estilo de animação que se popularizou com Aranha-verso e Arcane que é o de alternar com cenas em 2-D no meio das movimentações e não somente em flashbacks ou interlúdios. O 2-D permite ações mais caricatas que ajudam a aumentar a tensão, como por exemplo, com o corpo sendo distorcido. As sequências de ação foram coreografadas com muito cuidado e detalhe, usando técnicas de animação avançadas para criar movimentos fluidos e realistas. Ressalto aqui o incrível confronto logo no começo com o Gato contra um gigante que os próprios animadores já admitiram que a sequência teve inspirações do anime Shingeki no Kyojin (Attack on Titan).
Outra curiosidade técnica é que o filme contou com um grande trabalho de design de produção e direção de arte, que trouxe um estilo de fantasia medieval para o mundo do Gato de Botas, com cores escuras e tons de marrom e verde predominantes. E, é claro, uma melhoria até mesmo no character design tanto dos personagens quanto do próprio Gato que está ainda mais carismático!
5 – A trilha Sonora
Também vale ressaltar a trilha sonora, que foi composta por Heitor Pereira, um renomado compositor brasileiro que já trabalhou em diversos filmes de animação, incluindo o primeiro Gato de Botas e os filmes da franquia Madagascar. A trilha sonora mistura elementos medievais com músicas modernas, criando um clima único e empolgante.
Além disso, vale lembrar que uma das coisas que fez Shrek ficar conhecido foi as músicas licenciadas, que foram mais marcantes no primeiro e segundo filme, mas este traz de volta isso com canções como “This is the End” do The Doors , “Por Que Te Vas” da Gaby Moreno”, “La Vida Es Una” da Karol G e outras compostas para o filme, mas ainda assim chicletes como “Um Herói Destemido” (Fearless Hero). Músicas que emocionam, divertem, e fazem muito mais sentido para a trama do que algumas jogadas sem contexto como acontece em Shrek Terceiro.
Extra: pós-créditos.
O Universo Cinemático da Marvel popularizou o uso de pós-créditos com fim de empolgar para o próximo filme e no Shrekverso isso não poderia faltar também. Já estava nos planos da Dreamworks de voltar com Shrek 5 e o final, com o Gato de Botas retornando para Tão Tão Distante pode indicar uma possível sequência talvez de Shrek ou de Gato de Botas mesmo, mas com os personagens de Shrek.
Mesmo com todos os obstáculos e incertezas, “Gato de Botas 2” acabou sendo um sucesso. O filme conquistou críticos e fãs, e abriu novas possibilidades para o universo do Shrekverso. Certamente, Antonio Banderas e sua influência na produção do filme foram fundamentais para o sucesso da obra.