Drama semi-autobiográfico do cineasta Steven Spielberg é um interessante retrato de sua juventude e de seu amor pelo cinema.
Sobressai, em meio às temáticas, a força transformadora do audiovisual na vida dos indivíduos, desde acalentar uma pessoa durante um momento difícil até modificar relações interpessoais ou, sobretudo, encantar alguém a ponto dele perseguir de maneira incansável esse sonho de se tornar um diretor de cinema. Começamos desse ponto, quando os pais de Sam Fabelman decidem levá-lo pela primeira vez ao cinema para assistir a “O Maior Espetáculo da Terra” (1952), de Cecil B. DeMille, e o jovem sai da sessão profundamente impactado pelo que acabou de presenciar.
Embora obviamente bem dirigido, senti falta de ver mais técnica, como visto, por exemplo, em “Amor, Sublime Amor” (2021), em que a belíssima direção de fotografia de Janusz Kamiński e a complexidade das sequências e dos planos-sequências elaborados por Steven Spielberg saltam aos olhos. Uma hipótese válida para justificar esse contraste seria alegar que, como dito pelo próprio cineasta em uma mensagem antes da sessão começar, essa é sua obra mais pessoal e, portanto, não é absurdo imaginar que ele tenha feito esse filme mais para si do que para nós.
Situações cômicas intermitentes que, por vezes, soaram excessivas e, por outras, soaram brilhantes permeiam a narrativa tal qual o dilema entre a razão e a emoção, entre o científico e o artístico. Conflitos esses que, por sua vez, encontram-se no cerne da dinâmica familiar do protagonista, com a narrativa retornando mais uma vez às questões pessoais e introspectivas. É admirável ver um cineasta renomado olhar para trás, de uma maneira que só poderia ser realizada como resultado de anos de experiência. Esse parece ser o filme que o mundo esperava há meio século para assistir, embora não soubesse disso.
Uma ode aos registros dos momentos e das imagens, além de como ambos podem ser uma forma de imortalizar e resgatar memórias. Segundo o próprio Spielberg, esse filme é uma carta de amor não somente ao cinema, mas à arte de fazê-lo e à experiência cinematográfica em si. Um deleite, em suma, àqueles que, igual Sam Fabelman, são fascinados pela sétima arte.