Aviadores navais, contexto de guerra fria, mísseis e um homem protagonista quebrando as regras. Mensagens sobre companheirismo, amizade e confiança. Esses elementos tornam Irmãos de Honra (J.D. Dillard, 2022) uma narrativa familiar – e quase previsível – para o espectador, que já assistiu a este mesmo filme diversas vezes desde que Top Gun foi sucesso de bilheteria em 1982. 40 anos depois, porém, um diferencial salta aos olhos: a abordagem direta e contundente ao racismo que compunha o contexto retratado.
Baseado em uma história real, Irmãos de Honra traz como centro narrativo a amizade entre os aviadores navais Jesse Brown e Tom Hudner. Brown é um personagem histórico: foi o primeiro aviador negro da Marinha dos EUA e, ao lado do colega branco Tom Hudner, se tornou um dos nomes mais celebrados da instituição por seus feitos ‘heroicos’ na Guerra da Coréia.
Enquanto fã de histórias de guerra e alguém que busca conforto em narrativas conhecidas, Irmãos de Honra foi uma grata surpresa. O filme conta com cenas de ação envolventes e muitas falas em ‘militarês’ e ‘avionês’, além de uma boa dose de momentos de descontração: cenas de Brown em família e momentos de diversão entre os amigos que funcionam para aliviar a carga psicológica do espectador, mas sem quebrar o tom da narrativa. As cenas de Brown com a filha e a cena do casino são, sem dúvidas, algumas das minhas favoritas; mas, mesmo nelas, propostas para serem leves, a sobriedade do filme não se perde – e a equipe faz um excelente trabalho ao conseguir manter a discussão sobre o racismo como pano de fundo.
A todo momento, somos relembrados da negritude de Brown – o que, para mim, que nunca fui taxada pela cor da minha pele, foi uma experiência interessante. Através do filme, cheguei o mais perto que jamais consegui de entender a experiência real de uma pessoa negra, que é relembrada de sua negritude (para bem ou para mal) o tempo todo. Em Irmãos de Honra, Jesse Brown é um incômodo para muitos de seus pares, e motivo de orgulho para soldados negros de outras divisões que não a sua; é questionado sobre sua capacidade profissional pelo fato de ser negro, e se prova, mais do que qualquer outro aviador, destacando-se na equipe por sua habilidade – e obrigando seus superiores serem tolerantes com sua identidade frente a sua competência. Ainda que seja um retrato de época, infelizmente os apontamentos e a crítica construída dentro do filme às estruturas sociais racistas permanece atual, e mesmo que todos os outros aspectos do filme fossem ruins, só esse já bastaria para que a obra ganhasse a minha recomendação. Porém, não é o caso.
O elenco, por exemplo, cabeceado por Jonathan Majors e Glen Powell, entrega uma performance sólida. Dentre tantos atores possíveis, talvez a escalação de Jonathan Majors para o papel de Brown tenha sido uma estratégia mercadológica; porém, é inegável que o ator vem conquistando espaço nas produções de Hollywood pela qualidade inquestionável de seu trabalho, que vem sendo notada desde 2020, com seu protagonismo na série Lovecraft Country. Por sua vez, a escolha de Powell para o papel de Hudner me parece relativamente óbvia, dada sua participação em Top Gun: Maverick. Outros membros do elenco também merecem destaque: Christina Jackson, que dá vida a uma Daisy Brown memorável; e Joe Jonas (SIM!), que foi capaz de se misturar com maestria ao grupo de aviadores no papel de Goode, sem chamar mais atenção que os outros – o que seria fácil ocorrer, dado o destaque que seu nome em si possui.
Em relação a outros aspectos fílmicos, não há muito o que dizer. É um bom filme de narrativa clássica hollywoodiano, sem grandes destaques de direção, cinematografia ou roteiro. Nada surpreende, nesses quesitos; mas tudo traz uma sensação de familiaridade – o que, é sabido, costuma ser ponto positivo na opinião dos espectadores em geral.
Irmãos de Honra estreia já amanhã, dia 08 de dezembro, em todas as principais redes de cinemas do Brasil. Se você é dos que apreciam narrativas de guerra ou retrô, ou dos que se interessam por conhecer mais histórias de personalidades negras, vale o ingresso.