Com roteiro e direção do polêmico Lars Von Trier, Dançando no Escuro é com toda certeza uma experiência para a qual devemos estar minimamente preparados antes de dar o play. Com uma narrativa de tirar o fôlego e fazer soluçar, somos convidados, através de uma filmagem estilo documentário, a estar com a protagonista Selma (interpretada pela famosa cantora Björk), uma mulher estrangeira que cria o seu filho sozinha nos Estados Unidos, na década de 60.
Trabalhando em uma fábrica e apaixonada por musicais, vamos acompanhando a vida pacata que ela leva, sempre com alegria e bom-humor. Com exceção da cena em que ela briga com o seu filho devido ao mesmo ter faltado à aula, Selma aparenta uma singela ingenuidade e até mesmo infantilidade para lidar com as situações e relacionamentos dentro de seu meio, se colocando sempre disponível a ajudar e mostrando grande interesse em agradar a todos.
Tudo vai indo bem até que uma informação já especulada por quem assiste se confirma: Selma está perdendo a sua visão aos poucos devido a uma questão hereditária, e o seu filho também terá o mesmo conflito quando for mais velho. Pensando nisso e se sentindo culpada por ter colocado ao mundo uma pessoa que involuntária e certamente ficará cega, Selma guarda e economiza ao máximo para poder pagar uma cirurgia e impedir que a sua herança biológica atinja seu filho (que não por coincidência se chama Gene).
Mas a tensão chega de vez quando nos deparamos com Bill, vizinho e locador do trailer em que Selma vive, quando este desabafa sobre os gastos excessivos de sua esposa e declara estar endividado. Com boa fé e querendo confortar o amigo, ela conta a ele seu segredo, e a partir daí é só pra trás.
Atenção: Spoilers abaixo
A vida é justa? Não! Essa com certeza é uma das mensagens que o filme traz. Como pode uma mulher correta e justa ter o destino mais cruel possível por manter sua integridade? Essa indignação amarga é o que acompanha os telespectadores a partir do momento em que Selma se vê numa encruzilhada cruel: atirar num homem para resgatar o seu dinheiro ou permitir que todo o seu trabalho em poder proporcionar a visão para o seu próprio e único filho seja aproveitado por outra pessoa.
Tirando a vida de Bill, a 1ª coisa que Selma faz é ir ao doutor que será o responsável pela já combinada cirurgia de seu filho. Mesmo sem ter conseguido juntar a quantia necessária para a operação, o médico garante que a cirurgia será realizada.
Procurada pela polícia e condenada à morte, mas sendo antes desmentida no tribunal, Selma representa mais do que a si própria. Pobre e estrangeira, tendo contado uma mentira sobre o destino de seu dinheiro, os Estados Unidos não a perdoaram, mesmo sabendo depois sobre o nobre motivo que a motivou a fazer o que fez, e a lançaram à forca.
Com momentos tensos que se contrapõem com poéticas canções e cenas musicais, Dancer in the Dark, vencedor do Palma de Ouro, é um filme doloroso e agoniante, e por isso o título dessa resenha, porque depois de me debulhar em lágrimas e escrever muitos palavrões enquanto eu assistia, concluí, sem exageros, que um tiro no peito doeria menos. Realmente uma experiência.
Ficha técnica
Dançando no Escuro
20 de outubro de 2000 No cinema / 2h 19min / Comédia Musical, Drama, Policial
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Björk, Catherine Deneuve, Peter Stormare
Título original: Dancer in the Dark