Ando reforçando a ideia de que Arlequina (Harley Quinn) é uma das melhores mídias envolvendo o universo do Batman atualmente, por vários motivos. Como, acredito eu, não teve nenhuma crítica de alguma das temporadas anteriores de Harley Quinn aqui no site, farei um breve resumo.
A série animada apresenta a trama da Arlequina (Kaley Cuoco, a Penny de The Big Bang Theory no original e Evie Saide que já faz a voz da Harley nos filmes no Brasil) desde quando ainda era parceira do Coringa (Alan Tudyk/Márcio Simões que faz o Coringa no Brasil desde Batman: O Cavaleiro das Trevas), mas percebendo como ele sempre a deixava para trás e a usava para fugir do Batman (Diedrich Bader/Duda Ribeiro voz oficial do Batman no Brasil desde 2004), que era seu verdadeiro amor. Tornando-se companheira da Hera Venenosa (Lake Bell/Miriam Ficher que faz a Hera no Brasil desde Batman & Robin) no Arkham, as duas fogem e decidem criar um novo caminho onde a Arlequina se emancipa do Coringa – é neste momento que ela passa a usar o traje dos Novos 52 e o cabelo e maquiagem do Universo Cinemático da DC – e resolve criar seu nome como vilã independente, fazendo de tudo para ingressar na Legião do Mal, porém, falhando e criando seu próprio grupo que inclui a Hera, o Tubarão Rei (Ron Fuches/Malta Junior), o Cara de Barro (Alan Tudyk, que também faz o Coringa no original, e Filipe Albuquerque no Brasil), o Dr. Psycho (Tony Hale/Hercules Franco), o Sy Borgman (Jason Alexander/Ricardo Schnetzer) e Frank (J. B. Smoove/Pablo Argólio), a planta falante da Hera.
A primeira temporada tem a narrativa da emancipação da Arlequina criada originalmente por Bruce Timm para a série animada do Batman e aqui adaptada para uma visão um pouco mais moderna e bem mais desenvolvida que a do filme Aves de Rapina, explorando os motivos pelos quais a Alrequina tinha essa dependência do Coringa enquanto trabalha seu novo rumo de caos que culmina na aparente morte do Coringa e do estado de caos em Gotham com uma segunda temporada levemente inspirada no arco Terra de Ninguém em que Gotham é declarada como território independente do governo americano e começando daí uma guerra de gangues lideradas pelos supervilões de Gotham em que todos acabam enfrentando a Arlequina levando a morte do Pinguim (Wayne Knight/Alfredo Martins) e do Senhor Frio (Alfred Molina, o Doutor Octopus dos filmes do Homem-Aranha no original, e Marco Moreira no Brasil).
Enquanto isto, Hera Venenosa desenvolvia um curioso relacionamento com o Homem-Pipa (Matt Oberg/Raphael Rossatto), vilão terciário das histórias do Batman, mas que acaba culminando no seu casamento frustrado pois Hera Venenosa e Arlequina se amavam e acabam ficando em vários momentos durante a segunda temporada e, assim, fugindo juntas no final. O que nos leva a terceira temporada que começa a partir de sua lua de mel – que inclusive faz piada jogando a Rainha Elizabeth de um avião poucas semanas antes de seu falecimento, vale ressaltar.
É notório que esta temporada é bem inferior especialmente a segunda que foi incrível em todos os sentidos. Mas é difícil superar uma trama em que a Harley faz uma aliança com Darkseid (Michael Ironside) só para esconder que estava apaixonada pela Hera. A terceira temporada começa meio perdida e sem rumo, trabalhando mais uma vez os sentimentos de correlação entre as duas recém-casadas super-vilãs que tem objetivos diferentes. Hera, motivada por Harley, decide voltar a seu projeto da criação do Heden – um paraíso verde, enquanto Harley não tem tais pretensões e se vê, especialmente com sua relação cada vez mais próxima com a Batfamília. Sendo humanizada e deixando de ser uma vilã completando aqui o arco de construção da Hero Harley criada por Tom Taylor em Injustice e que agora está presente em todas as mídias.
Aliás, quero falar do maior acerto da temporada que foi a relação da Harley com o Bruce Wayne! Uma decisão completamente acertada que nos faz perguntar por que não haviam feito isso antes? Bem diferente do filme animado Batman e Arlequina em que Batman e Asa Noturna precisam da Arlequina para deter os planos da Hera Venenosa e do Homem-Florônico, aqui, vemos uma aproximação surpreendente de Harley tornando-se a psiquiatra casual de Bruce Wayne. Tratando finalmente todos os seus traumas não-superados envolvendo a obsessão por seus pais que o levam a cometer um apocalipse zumbi só para trazer seus pais de volta.
Mas não só Bruce Wayne foi o único destaque da Batfamília nesta temporada, Batgirl (Briana Cuoco, irmã de Kaley Cuoco que faz a Arlequina no original, e Guilene Conte que faz a Batgirl desde o desenho O Batman no Brasil) também volta com tudo agora declarando-se amiga da Harley e buscando sua atenção em quase todo momento. Asa Noturna (Harvey Gullen/Sergio Cantu que faz o Asa Noturna na série Titãs e nas animações da DC no Brasil) é finalmente apresentado, mas mais uma vez não conseguem acertar em sua personalidade – o que é estranho, já que na HQ da série ele é bem apresentado. Damian Wayne (Jacob Tremblay, o August de Extraordinário, no original e Eduardo Drummond que já dubla o Damian nas animações da DC no Brasil) é aqui só um adolescente despretensioso.
Mas até mesmo Alfred (Tom Holander/Bruno Rocha) teve seu espaço como o herói Macaroni; ao mesmo tempo o Comissário Gordon (Christopher Meloni/Ronaldo Julio) se unia ao Duas-Caras (Andrew Daly/Hélio Ribeiro que faz o Duas-Caras desde Batman: O Cavaleiro das Trevas no Brasil) para sua campanha a prefeito completamente alusiva aos políticos trumpistas enquanto o Coringa, que retornou reabilitado e morando com uma família latina, também se candidata a prefeito. Porém, num viés muito mais socialista que tem apoio inclusive de Barbara, filha do candidato Gordon. Já o Tubarão Rei tem uma trama similar a de Aquaman: O Trono de Atlântida numa briga de trono com seu irmão, o Tubarão Príncipe, enquanto o Cara de Barro tem finalmente seu papel de destaque – literalmente – quando acaba por substituir o falecido ator que intepreta Thomas Wayne num filme dirigido por James Gunn – que inclusive faz piadas com o bigode de Henry Cavill e com o fato da Martha Wayne nunca ter falas em quaisquer filmes.
Devo dizer que a melhor coisa da temporada foi a dublagem brasileira. Em vários momentos temos memes completamente atualizados e piadas que ficaram melhores na tradução – destaque para o Duas-Caras recitando a letra de Café da Manhã da Luisa Sonza. Porém, o roteiro perdido e sem rumo forçando muito mais o humor do que uma trama que desenvolve os personagens – o que era o alto da segunda temporada que sabia mesclar muito bem o humor com o bom roteiro – dá um certo desânimo aqui.
A segunda temporada termina num ponto em que te deixa super ansioso pela próxima e agora com o final da terceira eu sinceramente estou muito mais curioso pela série spin-off do Homem-Pipa. Parece até que o orçamento da animação diminuiu – tem momentos que me deram dor de cabeça de tão poucos frames animados, sendo que a animação na temporada anterior era impecável e casava muito bem até mesmo com a trilha sonora original que aqui muitas vezes faltava – sim, faltava! O penúltimo episódio não tem fundo sonoro e é irritante demais como parece que simplesmente esqueceram de editar isso!
Enfim, a série animada da Arlequina ainda é um vislumbre do que podemos ter de bom de entretenimento para adultos no universo DC, seguindo a linha de animações como Rick & Morty e outras do Adult Swim, espero que façam mais deste tipo! As três temporadas estão completas e disponíveis no HBO Max.
Escute nosso podcast sobre a trilogia de filmes da Arlequina.