Amsterdam é uma obra de mistério e comédia a qual mistura ficção e fatos históricos da década de 30 sobre testemunhas de um assassinato acusadas do crime e na tentativa de provar sua inocência revelam uma das tramas mais sinistras e absurdas da história americana.
Surpreendente é um bom adjetivo para essa narrativa. Desde seu trailer, não fica claro sobre o que exatamente é e por bom motivo. O ponto de partida e o de chegada são muito diferentes e isso proporciona uma jornada misteriosa, interessante e recheada de humor com personagens variados, desde os mais constritos até os mais estapafúrdios.
Seu elenco é cheio de estrelas e a fotografia não deixa ninguém passar despercebido. Com a maioria de seus diálogos filmados em close up ela tira o espectador de sua zona de conforto atrás da quarta parede e o coloca dentro das cenas, cara a cara com os personagens, dando a sensação de participação. Pode ser um pouco intimidador ter Zoe Saldana ou Christian Bale olhando nos seus olhos e você nos deles. O tom nesses momentos é intimista e carrega um ar corriqueiro e isso aumenta o impacto dos momentos mais inacreditáveis e revelações absurdas, pois você se sente em meio aos personagens quando elas acontecem. Mas apesar da impressão sisuda de uma investigação noir há bastante humor do cotidiano que lembra séries como Modern Family e The Office. Mesmo assim, a história revela acontecimentos graves e não os diminui através da comédia, o que seria bastante desrespeitoso.
O enredo é contado de forma parcialmente não linear. Não é como se fosse uma bagunça desordenada, entretanto chega um momento no qual já foram apresentados muitos nomes e há uma certa confusão. Apesar disso o roteiro é consciente e sem parecer forçado os personagens recapitulam o que é necessário para continuar acompanhando. Aliás, o jeito como novos fatos são apresentados casa bem com a fotografia intimista, aumentando a ilusão de que estamos juntos dos protagonistas desvendando a autoria do crime.
Talvez seja difícil imaginar que tudo isso resulte num produto uniforme, então vou exemplificar com um recurso usado de duas formas opostas no decorrer do filme sem trair a proposta. Primeiro os personagens se apresentam como querem ser vistos por outros para então uma legenda abaixo de cada um revelar suas verdadeiras identidades. Como vários são insinceros sobre quem são, isso de cara se estabelece como uma piada até o momento em que a imagem do verdadeiro autor do crime e sua legenda são iguais, revelando a gravidade do ocorrido. O que era engraçado agora é revoltante.
A combinação de ficção com fatos, fotografia intimista, cores predominantemente quentes e uma trilha sonora comedida ajuda a suspender a descrença e torna os momentos cômicos naturais ao invés de deslocados. Os personagens são diversos o suficiente para serem marcantes. Prevejo conversas sobre o filme mencionando “os caras dos pássaros” entre outros. Além disso, mostra mais um pouco da história suja do mundo o que é importante já que, parafraseando o teórico político Edmund Burke, “um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”.
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