Em primeiro de outubro de 1989, 43 mulheres ao redor do mundo deram à luz apesar de nenhuma delas estar grávida quando o dia começou. Sir Reginald Hargreeves, um excêntrico bilionário, decide adotar sete dessas crianças e, ciente de suas capacidades extraordinárias, ensiná-las a usarem seus poderes. É formada, assim, a Academia que dá nome à série. Recapitulações se mostram necessárias, uma vez que os dois anos de ínterim desde a última temporada fazem o espectador casual esquecer algumas informações importantes. Tal fato é no mínimo irônico, porque há não apenas uma clara repetição da trama, mas também uma certa autoconsciência do roteiro sobre isso.
Na primeira temporada, vemos que após a morte do sexto irmão cada um dos restantes seguiu seu próprio caminho, lidou com suas próprias questões e se reencontram somente após a morte de Sir Reginald Hargreeves. Durante a despedida, um portal aparece com o quinto irmão ressurgindo após quase duas décadas, ele veio do futuro avisar que o mundo iria acabar em poucos dias. Em seu segundo ano, a série recorre novamente ao recurso do apocalipse iminente, o quinto irmão envia os demais para o passado e, surpresa, essa alteração na linha temporal causará o colapso da civilização em alguns dias. Resolvidas essas questões temporais que, por algum motivo, têm a ver com o assassinato de John F. Kennedy, os protagonistas retornam ao presente apenas para descobrir que sua casa é lar de um outro grupo.
Enfim, chegamos à terceira temporada, na qual a estrutura familiar disfuncional assume proporções nunca antes vistas com a contraposição entre a Academia Umbrella e a Academia Sparrow. Logo nos momentos iniciais, temos o inevitável e aguardado embate das duas famílias retratado de maneira divertidíssima em uma sequência musical ao som de footloose, isso foi motivo suficiente para que eu embarcasse nessa nova jornada apesar de todas as minhas ressalvas. Caso não estivesse claro até agora, essa é uma série que entretém muito mais pela sua excentricidade — e pelo carisma de seus personagens — do que pela excepcionalidade de seu roteiro, mas isso não quer dizer que ele seja ruim, nem toda produção audiovisual precisa ser impecável, complexa ou revolucionária, às vezes mero entretenimento é exatamente o que o espectador precisa.
Dessa vez, o artífice da aniquilação se materializa em um conceito emprestado da astrofísica que equivaleria, grosso modo, a um buraco negro feito de luz que, convenientemente, destrói os obejtos e pessoas ao seu redor de maneira intermitente e arbitrária. Apesar da supracitada repetição — e quiçá superficialidade — da trama, a série nunca deixa de desenvolver a história de seus personagens, apresentando novos e interessantes conflitos. Enquanto a segunda temporada tratava de temas mais politizados como a brutalidade policial, o movimento de direitos civis e a Guerra do Vietnã, dessa vez, as temáticas são mais sobre dramas individuais como paternidade, aceitação e propósito. Acredito, no entanto, que eles deviam ter encerrado esse arco apocalíptico de vez e, a partir daí, focar em novas ideias.