Desde a cena de abertura, a diretora por trás do projeto demonstra vislumbres de potencial, retratando em plano-sequência a invasão ao Templo Jedi de Coruscant. Entretanto, ao decorrer da série, é perceptível a ausência de uma aura colaborativa como ocorreu, por exemplo, nas duas temporadas de O Mandaloriano, em que cada episódio era dirigido por um diretor diferente, com ocasionais reincidências. Nesse tipo de série, o realizador – ou realizadora – pode focar toda sua energia em apenas um episódio. Além disso, se tivéssemos mais mãos por trás da obra, poderíamos ter tido mais episódios, algo que essa série precisava e muito para desenvolver melhor o seu problemático roteiro.
Não há lugar para eufemismos, o roteiro da série é péssimo. Entre soluções fáceis, diálogos rasos e contradições ao material original, talvez o que mais incomode seja as oportunidades desperdiçadas. Dito tudo isso, Ewan McGregor está excelente, aliás, ele nunca esteve tão bem, lidando agora com o remorso de ter fracassado na tarefa de treinar seu aprendiz em meio à solitude das dunas. Mas isso não dura muito tempo, porque o drama psicológico é preterido ante a apoteose das sequências de ação, de comédia ou que existem pelo simples fato de agradar os espectadores de longa data. Sob esse viés, atender à demanda por ação nos afasta do aspecto mais interessante do personagem: a introspecção.
Uma alternativa simples para suprir essa necessidade de conteúdo mais dinâmico seria intercalar o exílio com memórias das guerras clônicas, não meramente para agradar uma parcela específica dos espectadores, mas sim no intuito de fazer a série se sustentar por si só além de usar ensinamentos do passado a fim de enfrentar dilemas atuais. Kenobi, entretanto, não passou por uma transformação ao decorrer da narrativa que justificasse sua vitória sobre Vader, o que mais se aproxima de uma verdadeira trajetória é a temática implícita sobre a transição da desesperança à esperança, que fica relegada a segundo plano, assim como o protagonista.
Em conclusão, essa série se prova mais uma consequência da era de produção industrial de conteúdo em que vivemos, influenciada e muito pela necessidade compulsória de serviços de streaming terem um excedente conteudístico disponível para justificar sua existência. Assim, é estabelecida uma verdadeira linha de montagem, na qual incontáveis produções são desenvolvidas simultaneamente, mas, raramente, com uma genuína preocupação criativa e, muitas vezes, sem atingir seu potencial. Resta, portanto, a convicção de que a Disney precisa privilegiar qualidade ao invés de quantidade, e a certeza, ainda maior, de que essa reinvidicação não será escutada.