Que a Pixar tem o dom de impressionar o público não é novidade, mas lembro bem de quando Lightyear foi anunciado e do misto de opiniões que vieram. É uma reação reflexo comum a quem vê seu objeto de paixão como algo intocável, quase como uma obra de arte frágil que, se passada de mão em mão muitas vezes, corre o risco de cair e quebrar. A boa notícia é que somente outros fãs tanto do personagem quanto de filmes de ficção científica espacial estiveram “por trás das câmeras” para trazer essa incrível aventura ao público.
Um detalhe importante ao qual quero dar destaque é a dublagem. É estranho inicialmente depois de ouvir Guilherme Briggs ser a voz do patrulheiro espacial desde meus 3 anos de idade. Mas rapidamente tudo se encaixa na interpretação de Marcos Mion e você se lembra que não está assistindo o brinquedo Buzz Lightyear. Você está assistindo ao próprio, aquele que encantou Andy e o fez fissurado ao ponto de repaginar todo seu quarto e deixar de lado seu outro ídolo. A tradução e o elenco de vozes dão um show de interpretação, caprichando tanto no humor com regionalismos muito bem colocados quanto nos momentos que tocam o coração.
Aliás, pensando no efeito que este filme teve em mim, entendo completamente o que aconteceu com Andy em Toy Story (1995). O efeito imediato é o de trazer à tona a vontade de ser um patrulheiro espacial, explorar novos mundos, sobreviver às formas de vida hostis que lá habitam e concluir sua missão. Se esse efeito acontece em adultos de 30 anos, pode ter certeza que a criançada vai adorar essa carta de amor ao personagem e ao cinema de ficção científica espacial.
Lightyear facilmente pode ser classificado como um dos grandes filmes do gênero sci-fi já feitos e também serve de história de cautela para quem dá muito foco ao que acredita que seja seu dever e esquece de criar relações. Já dizia Ferris Bueller em Curtindo a Vida Adoidado (1986): “A vida passa muito rápido. Se você não parar pra olhar de vez em quando, vai perder.”
Por falar nisso, Lightyear se estabelece muito bem como um produto dos anos 90 e de 2022. Afinal, estamos assistindo o filme de dentro do universo de outro filme de 1995, então as referências vão de clássicos como 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), Star Wars (1977) e Alien (1979) até a novas obras como Interestelar (2014) e Gravidade (2013). Notar um certo rifle de pulso nas mãos de Buzz, a frase “El riesgo siempre vive!” na armadura de um personagem, uma piada com cartucho e toda a estética de painéis repletos de botões largos e coloridos são só alguns dos Easter eggs que aquecem o coração de quem cresceu nos anos 80 e 90.Por fim, o que fica é a vontade de repaginar meu quarto, comprar bonecos, jogar video games e consumir tudo que tenha relação com o personagem. Lightyear estará na lista de melhores do ano de muita gente, pode apostar. Não duvide que a Pixar vai confirmar uma continuação logo após a estreia. Não se surpreenda se quebrar recordes de bilheteria. Tudo isso é merecido. Há uma missão secreta no espaço não mapeado. Vamos lá?