Como disse Ian Malcolm (Jeff Goldblum) a Peter Ludlow (Arliss Howard), em O Mundo Perdido: “Quando você tenta soar como John Hammond, parece um golpe. Não é sua culpa. Dizem que o talento pula uma geração, então tenho certeza que seus filhos serão afiadíssimos”. O mesmo pode ser dito desse filme, que tenta se firmar como propaganda ativista sobre como a humanidade caminha a passos largos em direção à sua própria ruína causada por irresponsabilidade e ganância deixando os dinossauros apenas como plano de fundo.
O filme começa com imagens de dinossauros em áreas urbanas no estilo de reportagem com narração em off dando toda a exposição necessária para quem não assistiu aos filmes anteriores. É dito que 4 anos se passaram e por conta do tráfico ilegal desses animais, agora eles existem em diversas partes do globo. Contam sobre Maisie Lockwood (Isabella Sermon), entrando em detalhes sobre a suspeita dela ser um clone da neta de Ben Lockwood, interpretado por James Cromwell em Reino Ameaçado. Como esse segredo de família veio à público é incerto, mas essa exposição de sua imagem na mídia é usada como desculpa para justificar a situação dela que vive escondida com Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e Owen Grady (Chris Pratt) e não pode ser vista por ninguém para sua própria segurança.
Claire é apresentada como uma ativista que expõe criações ilegais de dinossauros. Ela trabalha junto de Zia (Daniella Pineda) e Franklin (Justice Smith), ambos retornando em seus papéis de Reino Ameaçado. Entretanto, Franklin passa a trabalhar para a CIA. Owen agora ajuda a capturar dinossauros para uma agência de proteção animal.
Daí pra frente o filme apresenta Kayla Watts (DeWanda Wise), uma das novas personagens que acompanha Owen e Claire em sua jornada. Além de, vilões secundários de mínima importância e extremamente estereotipados, incluindo um líder dos caçadores ilegais que sequestram Beta (filhote da dinossauro Blue) e Maisie, que sorri de forma malévola e tem um esqueleto de dinossauro tatuado no rosto e uma traficante de dinossauros do submundo de Malta que mais parece saída de Velozes e Furiosos.
Mas se a nova geração de personagens não consegue sustentar o filme, então sobra a torcida pelos personagens do filme original de trazer, pelo menos, uma dose saudável de nostalgia para os fãs de longa data, certo? A ideia é certa, mas a execução passa longe de acertar.
Ellie Sattler (Laura Dern) voltou à pesquisa científica e, devido a uma “super-praga” envolvendo gafanhotos geneticamente modificados de Lewis Dodgson (Campbell Scott), CEO da Biosyn. Então ela vai atrás de Alan Grant (Sam Neill) pedir que ele vá com ela até as instalações da Biosyn investigar a convite de Ian Malcolm (Jeff Goldblum) que trabalha lá numa posição de “coach corporativo”. Sua posição na empresa claramente só serve para justificar o reencontro dos três, usar frases de efeito e salpicar a trilha sonora original na esperança de que isso seja suficiente para agradar os fãs.
Assim temos os núcleos em rota de colisão. Todos estão indo para uma reserva ecológica / unidade de pesquisa da Biosyn isolada do mundo. Temos um novo personagem lá, Ramsey Cole (Mamoudou Athie) que é o braço direito de Dodgson e o guia do trio clássico pelas instalações. Com ações que telegrafam de longe suas intenções, o trio sabe exatamente aonde ir e provar a culpa da Biosyn.
Já o trio Owen, Claire e Kayla caem de avião na reserva em meio aos dinossauros, e aí temos vários encontros com dinossauros em que os personagens escapam porque precisam, mas o problema é que nunca parece algo merecido. Não existe naturalidade no jeito que se comportam dentro da ação ou segundos depois de algo perigoso acontecer. Muitas vezes me senti assistindo Velozes e Furiosos ou Missão Impossível.
Chegamos no momento de fazer sentido disso tudo. Uma cena de imensa exposição e retcon pesado de fatos do filme anterior para justificar a importância de Maisie e Beta pro filme. Essa parte é tão longa e claramente feita para tocar o coração da audiência que não deu pra me sentir emocionalmente investido a essa altura. Depois disso entramos na reta final. Dinossauros aparecem em todo canto, até em cantos que não faz o menor sentido aparecerem, algumas referências bem mal colocadas, personagens tomam atitudes que beiram momentos heróicos da Marvel e um embate de dinossauros que mais parece luta livre daquelas bem coreografadas do WWE.
A conclusão da saga Jurassic é frustrante, beirando a paródia. A maldição de criar uma conclusão épica que precisa sempre superar seus antecessores em quantidade mas não em qualidade. A necessidade de fazer cada pessoa que já apareceu em um dos Jurassic World voltar ao seu papel só pra dar tchau. Parafraseando novamente Ian Malcolm, “por que eles sempre precisam fazer eles maiores?” Realmente, por quê? Só posso esperar que o talento realmente pule uma geração para que talvez na próxima trilogia (convenhamos, vai acontecer) surja algo de valor.