A animação Flugt ou Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar (2021) foi indicada ao Oscar de melhor documentário, melhor filme em língua estrangeira e melhor animação. Infelizmente não ganhou nenhuma estatueta, mas ganhou muitos outros prêmios internacionais.
Eu achei genial toda a criação e estilo do documentário. O fato de ser animação dá uma liberdade gigante para o diretor e a criatividade foi muito bem explorada.
Jonas Poher Rasmussen, diretor do filme, entrevista seu amigo de muitos anos Amir* (pseudônimo para não ser identificado) que é um refugiado. Amir fugiu durante a guerra do Afeganistão e desde então teve que esconder todo o seu passado para proteger sua família e evitar de ser deportado. Depois de muitos anos a sua história finalmente vai ser contada.
O documentário usa a técnica da animação para reviver as memórias do passado de Amir alternando com imagens gravadas de reportagens de acontecimentos históricos. Vemos durante o filme imagens da guerra no Afeganistão, a Rússia após a queda da União Soviética, imigrantes tentando entrar ilegalmente em países da Europa, etc
Me encantou a sensibilidade e o estilo da obra. É interessante como pensaram em pequenos detalhes. Eu gosto da ideia da narração usar o conceito de que toda memória é falha e confusa. Uma parte bem legal é quando o protagonista diz que não se lembra da sua mãe com cabelos pretos, apenas mais idosa com cabelos brancos. Então enquanto ele conta a história de quando era criança sempre a vê com cabelos brancos por mais que ela ainda não fosse idosa na época.
As cenas mais turbulentas e traumáticas usam traços mais simples e sem cores representando a dificuldade de lembrar e falar sobre esses momentos. Por muito tempo nas memórias parece que ele ainda se vê no corpo de uma criança. Isso pode ser entendido por ele ter praticamente perdido a adolescência.
O filme trabalha muito a empatia do telespectador. Nos encantamos com a história dele e sentimos a dor de ter que esconder a vida toda sua nacionalidade e sexualidade. Sabemos que existe muitas histórias semelhantes e a maioria não tem final feliz. Não que o final dele seja feliz, mas dá uma certa esperança de um futuro melhor para quem já sofreu tanto.
Nota: