The Batman, ou só Batman no Brasil, é o novo filme da DC do diretor Matt Reeves que serve de reinício para as franquias protagonizadas pelo Homem-Morcego – ou A Vingança – mostrando como um reboot não precisa necessariamente ser um filme de origem e como dá pra introduzir o personagem sem ser muito expositivo.O reboot prova como pode haver um filme sombrio e violento sem necessariamente ter classificação etária para maiores. O roteiro é uma adaptação amálgama bem visual das graphic novels O Longo Dia das Bruxas de Jeph Loeb, Batman: Terra Um de Geoff Johns e Batman: Ano Zero de Scott Snyder. A trama começa no Halloween com o serial killer autodenominado O Charada (Paul Dano) assassinando figuras autoritárias de Gotham a cada noite seguida. Enquanto isto, cerca de dois anos após o surgimento do Batman como vigilante mascarado, sua presença é um medo sobre os criminosos, mas ao mesmo tempo acaba causando um efeito contrário gerando criminosos ainda mais loucos, dedicados e teatrais como o principal antagonista.
Aproveite e leia aqui a lista de quadrinhos que inspiram a trama do filme.
Apesar de contar uma boa história relacionando muito bem o protagonista Bruce Wayne (Robert Pattinson), seu mordomo e figura paterna Alfred Pennyworth (Andy Serkis), o capitão de polícia e único detetive justo James Gordon (Jeffrey Wright), a garçonete, ladra e justiceira Selina Kyle (Zoe Kravitz), o chefe mafioso Carmine Falcone (John Turturro), seu braço-direito Pinguim (Colin Farrel) e o serial killer Charada, peca em alguns excessos como algumas subtramas que não contribuem completamente para o roteiro final, porém sua ausência deixaria o filme melhor. E por falar em excessos, apesar de ser um filme na linha do sombrio e realista, fortalecido pela trilogia consagrada de Christopher Nolan, o filme é muito mais super-heróico do que estes anteriores, com alguns exageros que exigem suspensão de descrença para um bom proveito.
Ainda assim, Batman não é mostrado como um herói na maior parte do filme, mas sim como um vigilante violento e vingativo e também um detetive consultor. Apesar de ser muito legal ver finalmente o Morcego como um detetive, pois assim que ele foi criado por Bob Kane e Bill Finger em 1939, dá ainda a impressão de que não sabem trabalhá-lo desta forma, pois o vigilante ainda salva o dia usando de seus atos heróicos, e não de seus esforços investigativos. Como fã, é muito emocionante ver o personagem sendo representado como muito mais do que só um ninja de armadura, tal como é reconfortante ver como a narrativa contribui para desmitificar todas as críticas ao herói com seu filantropia idealizada e seu ultrapassado e violento senso de justiça, mas trabalha com louvor em sua desconstrução e cria a imagem do herói para uma nova e preparada geração que pode aceitar melhor sua existência admitidamente questionável, porém aceitavelmente necessária dentro deste universo, é claro.
É um filme longo, o que chega a ser cansativo no momento em que você percebe que já aconteceu bastante e ainda falta muito para acabar. Quem está acostumado com filmes da Marvel Studios pode acabar achando o longa monótono. É um filme muito mais sério, lento e reflexivo, bem pontual com a ação. Para quem gosta de longas do Batman, incluindo os animados, pode acabar já se preparando para este ritmo, pois assim são os melhores filmes e histórias do Morcego, mas não que eu ache que este ritmo funcione sempre para o cinema de hoje em dia, especialmente quando o público-alvo, segundo a faixa etária, são os jovens.
Apesar de o filme apresentar este tom na maior parte do tempo, pode acabar por de vez em quando se perdendo no gênero, tendendo ao ridículo fazendo-lhe lembrar que está assistindo a um filme de super-herói baseado em quadrinhos e não um thriller investigativo de detetive consultor atrás de um assassino em série. No entanto, todos os atores estão impecáveis. O elenco é grandioso, em especial Robert Pattinson que casa perfeitamente com esta visão mais melancólica, introspectiva e apática de Bruce Wayne, como vemos em suas principais histórias. Paul Dano também deu muito bem uma cara nova a Edward Nashton, o vilão Charada, muito mais psicopata e perturbador e menos palhaço colorido e excêntrico das versões mais conhecidas, distanciando-se totalmente da anterior interpretada por Jim Carrey em 1995. Aliás, o visual escolhido baseado no Assassino do Zodíaco contribuiu bastante para o horror.
Tal como já se espera de um filme do Batman, não há muito o uso de efeitos visuais especiais, ao mesmo tempo em que a fotografia é escura e quase fosca, o que não atrapalha o filme, mas pode incomodar quem está acostumado ou esperando cores. O filme foi realizado em IMAX e é muito mais vantajoso quando assistido em salas com tal tecnologia, especialmente por sua edição de som – destaque para a sequência do Batmóvel com seu ronco de motor inesquecível. Quanto a trilha sonora, a música original composta por Michael Giacchino parece que veio com o intuito de substituir o tema de Hans Zimmer, sendo ainda mais viciante, porém ainda mais repetitiva, sendo em alguns momentos até mesmo exaustiva.
The Batman é um filme excelente, com alguns excessos e furos, é claro, mas que não atrapalham a experiência. Ainda não chega a ser o melhor de todos os tempos, sem querer comparar, mas o próprio diretor aparentemente repete muitas das inovações de diretores anteriores com menos autencidade, porém com mais ambição e ousadia.
Aproveite e ouça mais sobre o filme em nosso podcast (com spoilers):