Indo direto ao ponto: não é engraçado e nem é ácido. O que sobrou? Um filme com críticas sociais e muitas questões em aberto sem a menor preocupação de aparar as pontas.
Sinopse: Tom (Joel McHale) e Janet (Kerry Bishé) estão casados há 14 anos. Mesmo após mais de uma década juntos, a fase de lua de mel do casal nunca terminou. No entanto, a visita de um estranho misterioso (Stephen Root) os leva a uma série de acontecimentos inesperados, incluindo uma crise existencial, um cadáver e uma viagem de casais muito tensa.
A Felicidade é de Matar é o típico filme com uma proposta cult. Ele tem uma comédia leve, um drama reflexivo, reviravoltas, suspense e a filmografia característica de um concorrente ao Oscar. Conclusão disso tudo: material demais, resolução de menos.
Oras, se o seu filme não é um indicado ao Oscar, mas possui todas as características de um, como deixá-lo mais palatável? Bem, olhemos para o filme Parasita (2019). Ele tem elementos de Oscar? Não. Mas as nuances de tom, direção e personagens fazem o filme ganhar esse status. Agora, voltemos para A Felicidade é de Matar. Nele contamos com dois protagonistas, Tom e Janet.
Joel McHale (Community, 2009 – 2015), Tom, é altamente conhecido por seu timing humorístico e mesmo não sendo protagonista em muitos casos, suas participações são focadas em alívio cómico. O ator consegue transpassar muito bem momentos constrangedores de forma engraçada sem parecer forçado.
Kerry Bishé (Argo, 2012), Janet, não possui uma expressividade tão grande assim por seus trabalhos, apesar de ser uma atriz excelente. Todos seus papeis são marcados por momentos de extrema atuação tornando-a de ponta mesmo sem ter o reconhecimento merecido.
Fiz questão de destacar os atores para explicar a complexidade que é deixar ambos maçantes. Precisa ter uma mão muito pesada para conseguir este feito. Graças a BenDavid Grabinski isso foi possível. BenDavid, diretor deste filme e roteirista de filmes como Clube do Terror e Fora de Rumo (sim, filmes que você talvez nem faz ideia), mirou em um alvo e acertou outro.
O fato de a comédia ser ausente por grande parte é realmente um incómodo. Você fica vendo aquelas situações programadas para serem engraçadas e elas simplesmente não são. É uma sensação ruim, porque a acidez deveria entrar em ação e ela também não aparece. Não há timing cômico, não há situações engraçadas, não há piadas boas… é difícil digerir uma comédia sem comédia.
O filme possui exatamente 1h e 36min de duração. Cortamos uns 15 minutos de créditos finais, uns dois minutos de abertura e temos cerca de 1h e 19min de puro material para desenvolvimento. Pois bem, prepare-se, pois esse tempo vai aparentar ser muito maior. A sensação é de um filme bem longo e isso, às vezes, não é bem quisto.
É uma pena ser assim. Você notoriamente consegue ver potencial ali. “Temos” o humor ácido, um mistério, uma teoria da conspiração, críticas sociais relacionadas a como invejamos a grama do vizinho, a não aceitar a genuína felicidade alheia, aos casais tradicionais, em como tentamos manter as aparências, momentos de investigação, suspense – por que não? – e por aí vai.
Olha quanta coisa temos neste filme e mesmo assim saímos com a sensação de vazio. Ele não tem um propósito. Você não consegue entender muito bem o plot principal e nem os motivações de quem está tentando movimenta-lo. É um mix de sentimentos, pois em momentos chave irá rir (e são realmente chave, guarde-as com carinho), em outros terá um drama bem forte, do nada vai para uma investigação, volta para o drama, aplicamos então a ficção-científica; é muita coisa para pouco aprofundamento.
A trama inicia é simples: os dois são um casal extremamente apaixonado e essa paixão não amornou com o passar do tempo. Isso incomoda fortemente os amigos. No dia seguinte um homem misterioso aparece oferecendo-os uma “cura”. Caso eles usem essa medicação passarão a ser um casal normal com discussões e menos frequência de sexo. Pegue essa premissa, muito boa por sinal, e a embaralhe com tudo já dito nesse texto.
Perceba que nem mencionei os coadjuvantes devido a nada acrescentarem. Há uma de destaque, Karen (Nathalie Zea), mas sinceramente, nem vale a pena também. Eles são literalmente personagens de apoio para os protagonistas saírem de um ponto A para o ponto B. No final até existe um desenvolvimento deles, porém como é em prol da crítica social e não o desenvolvimento em si me abstenho de falar mais sobre eles.
O filme poderia ter sido melhor se focasse na problemática de seu primeiro ato naquele ambiente específico. Tive a impressão do diretor tentar dar diferentes ambientações ao mesmo tempo que tentou manter tudo em um lugar só, gerando confusão. Não só pelo ambiente, mas os personagens e trama também. É tudo confuso se for analisar friamente.
O longa te levar à lugar nenhum, não te traz emoção alguma e acaba virando só mais alguma coisa assistida na sua vasta lista de “filmes apenas assistidos”.
A Felicidade é de Matar encontra-se disponível na Apple TV, Google Play Filmes, Claro Now e Youtube.