Confesso que já havia algum tempo não acompanhava os quadrinhos da DC Comics. Eu comprei quase todos os lançamentos do reboot dos Novos 52 quando chegaram no Brasil pela Panini, o que foi uma ótima oportunidade para introduzir na época jovem leitores como eu já que as histórias antes eram confusas de saber por onde começar – até por que, 80 anos de histórias não é fácil pra ninguém, não é mesmo? E me desanimei quando, em menos de 5 anos depois do reboot, anunciaram que alguns dos personagens, em especial o Superman e seus coadjuvantes, retornariam a seu status quo pré-reboot – ou seja, de que serviu eu acompanhar, certo?
Pois eu estava enganado. Com o novo Superman apresentado com a justificativa de ser aquele pré-reboot que retornava é substituia o mais novo foi que fomos apresentados a um dos melhores personagens introduzidos nos últimos dez anos e eu estou falando de Jonathan Kent – a popularidade, as vendas e o sucesso da série Superman & Lois (2021) confirma isso.
Não é de hoje que tentam introduzir um filho biológico do kriptoniano Clark Joseph Kent com a repórter Lois Lane, algo que por muito tempo foi dito ser impossível. Vimos um jovem interessante chamado Jason White no filme Superman: O Retorno (2006) e confesso que foi uma das poucas coisas que gostei muito naquela filme. A trama de um filho híbrido do Superman na Terra é tão interessante que inspirou uma das melhores séries de graphic novel de Robert Kirkman: Invencível (2003). A fim de não arriscar introduzir um híbrido de parto natural, nos anos 90 foi criado o Kon-El, clone do Superman com o DNA humano fornecido por Lex Luthor. Há alguns anos atrás, foi mencionada novamente a gravidez da Lois Lane na graphic novel Injustice: Gods Among Us (2013) escrita por Tom Taylor para o jogo de mesmo nome, mas isso foi retirado de nós no primeiro capítulo quando esta foi morta graças ao Coringa.
Somente com a saga Convergência que trouxe o Superman pré-reboot junto com sua esposa Lois Lane e seu filho Jonathan Kent que pudemos ler finalmente uma série em quadrinhos onde veríamos o crescimento e descoberta dos poderes de um menino híbrido de terráqueo e kriptoniano – DC Renasce: Superman (2016). Eu até cheguei a ler na época a edição 0 desta história quando ela lançou só para ver se entendia o que acontecia. Mas, como eu disse lá em cima, me desanimou toda a volta que tiveram de fazer só para tornar principal o Superman que o público gostava já que o dos Novos 52 não agradou de uma maneira geral. Somente agora com as notícias recentes sobre a sexualidade de Jonathan Kent que eu busquei cobre para poder falar sobre o assunto e, meu amigo, encontrei foi ouro!
A trama de DC Renasce: Superman parece que serviu bastante de inspiração para o seriado Superman e Lois – que você pode ler a minha crítica clicando aqui. Primeiro, precisamos estabelecer que Jonathan Kent nasceu no meio de uma crise dimensional, algo que serviu de inspiração para seu nascimento durante o crossover Crise nas Infinitas Terras (2019) das séries da DC e também de justificativa para a criação de Jordan Kent após a fusão do Multiverso criando a Terra Prime. No quadrinho, com Jonathan já criança e ciente de seus poderes tal como a identidade de seu pai, Clark e Lois mudam-se para o Rancho Kent na Terra Prime enquanto seu filho desenvolve seus poderes de forma perigosa. A fim de estudar e aprender melhor sobre seu filho, Superman o leva para a Fortaleza da Solidão onde são interrompidos pelo Erradicador, um andróide kriptoniano construído por General Zod antes da destruição de Krypton para carregar as almas de diversos kriptonianos a fim trazê -los de volta na Terra. Numa trama similar a que foi utilizada no seriado onde o Erradicador era um dispositivo em que Morgan Edge trazia a consciência de kriptonianos no corpo de terráqueos afetados pela exposição à radiação da kriptonita durante quase 30 anos. Não a toa que na HQ também vimos por um breve momento os fantasmas kriptonianos nos corpos de cidadãos de Smallville.
É claro que a seriado teve lá suas mudanças e a introdução dos gêmeos Jonathan e Jordan Kent onde, para a surpresa dos fãs, Jordan quem era aquele que mais parecia o Jonathan original, não só visualmente, mas por ser o que herdou os poderes do pai e passa por uma trama bem similar a série em quadrinhos. Além disto, no seriado vemos os super-filhos já adolescentes, coisa que só fomos ver nos quadrinhos a partir de 2018 quando Jonathan retorna com 17 anos do futuro com a Legião dos Super-Heróis.
Mais tarde, em 2021, com o resultado das sagas Dark Nights: Death Metal, Fronteira Infinita e Estado Futuro, foi que vimos que era plano da DC Comics de apresentar uma nova geração de super-heróis para substituir a Liga da Justiça – foi nessa que conhecemos a nova Mulher Maravilha brasileira Yara Flor, que inclusive é amiga próxima de Jonathan Kent. Jonathan Kent foi apresentado como o substituto de Superman no futuro e isto veio a acontecer no presente mais rápido do que podíamos imaginar com a nova série, também escrita por Tom Taylor, autor de Injustice, chamada Superman: Filho de Kal-El (2021).
Nesta, vemos um retcon do nascimento de Jonathan e, em seguida, este já quase adulto e agindo como Superman nos últimos dias antes de seu pai despedir-se da Terra para uma missão no espaço. Jonathan mostra sua humanidade ao salvar um jovem meta-humano que estava causando incêndios nas florestas enquanto era alvejado por militares. Questionando se fez a coisa certa em deixá -los com os militares após controlar a situação, foi desabafar com seu melhor amigo Damian Wayne, o Robin, filho de Batman e neto de Ra’s Al Ghul. Este, lhe apresenta no Youtube um jornalista anônimo que se intitula Verdade e fala como os super-heróis são unilaterais e não salvam em países onde a situação política é conflituosa com os Estados Unidos e a ONU. Damian diz que se tem alguém que pode usar seus poderes para intervir em situações complicadas, este alguém é Jonathan Kent, o novo Superman.
Enquanto isto, Jonathan também deve realizar seu primeiro dia como calouro na sua nova faculdade criando um disfarce já que sua identidade é pública e conhece um novo amigo chamado Jay Nakamura. Mas, para defender os alunos de um atentado, acaba por revelar -se logo no primeiro dia. Motivado pelo vídeo do Verdade, decidiu então salvar os refugiados de Gamorra, um país conflituoso, e os levou a Metrópolis, onde foram recebidos por ordem de prisão para evitar o conflito com o país asiático. É neste momento em que o Verdade se apresenta para ele e revela ser seu novo amigo da faculdade Jay Nakamura, além de explicar-lhe as consequências por ter intervindo nos conflitos de Gamorra.
Em outro dia, Jonathan e Clark realizam uma de suas última ações juntos salvando os moradores de um prédio habitacional que desabava em Coast City, alem de deter a meta-humana que causava os abalos sísmicos e a levam para os Laboratórios Star de Metropolis. Jonathan retira-se para ficar do lado de um protesto pela liberdade dos refugiados de Gamorra e é preso enquanto realiza um discurso sobre tal. Ao libertar Jonathan da prisão junto com todos os manifestantes, Clark acaba por conhecer pessoalmente Jay Nakamura e o convida para jantar no Rancho Kent onde o jovem jornalista se emociona ao conhecer sua ídola do jornalismo investigativo Lois Lane, mãe de Jon. É neste momento em que Clark se despede de sua família e sai em sua missão no espaço quando, segundo Jonathan, no futuro consta como o fim do Superman. Após uma emocionante despedida e retirada, o Rancho Kent é atacado pelo Presidente de Gamorra que lança dos céus a meta-humana sísmica que causa uma explosão enorme e assim termina a última edição publicada.
Só sabemos que tal evento não foi a morte de Jon e Jay, pois, sabemos que na edição do mês que vem veremos o tão esperado beijo entre os dois, algo que está gerando muita polêmica sendo anunciado como a revelação da bissexualidade do Superman. Confesso que, se não fosse tal notícia, eu não estaria tão curioso por esta série em quadrinhos que, por sinal, está muito boa, e eu teria perdido-a. Ao atiçarem minha curiosidade para ler a história de Jonathan Kent nos quadrinhos me tornaram um novo fã do personagem e, tal como a Mulher Maravilha diz na primeira edição, o fato de Jon ser meio-humano faz com que seja um Superman muito melhor do que seu pai – e devo concordar, pois, ele como um novo personagem, jovem, liberto de todos os preconceitos que seu pai poderia passar desde sua invenção em 1938, pode muito bem ser o que quiser. E, convenhamos, se tem alguém que pode ser bissexual, este é o filho de Superman e Lois.
E, falando em Superman e Lois, fico muito curioso para ver se vão adaptar isto no seriado de TV. O personagem Jonathan termina a primeira temporada solteiro enquanto Jordan, que por sinal é o que mais faria sentido em ter a trama com Jay Nakamura, termina a temporada namorando Sarah Cushing, filha de Lana Lang. Será que veríamos Jay criando um novo triângulo com Jordan e Sarah? E quanto a Damian Wayne? Poderíamos muito bem vê-lo numa próxima temporada como um possível rival de Jordan e melhor amigo e mestre de luta de Jonathan.
Agora quanto a bissexualidade de Jonathan Kent, fico muito feliz com mais essa representativade já que, hoje em dia, pelo menos 40% dos jovens devem se identificar no mínimo como bissexuais. Outro que veio a fina recentemente, mas que não criou tanto rebuliço foi o terceiro Robin, Tim Drake, que daqui a pouco terá sua idade alcançada pelo quarto Robin, Damian Wayne, já que Tim não envelhece. E vocês, o que acham do novo Superman oficial da DC ser assumidamente bissexual? Fique ligado nas redes sociais da Terra Nérdica pois falarei muito mais desse assunto ainda em breve.