Ridley Scott sabe como valorizar uma trama baseada em fatos reais. Muitas histórias se perdem ao serem adaptadas para o cinema por não saberem como conta-la ou interpreta-la em sua melhor performance, mas não essa adaptação de O Último Duelo, inspirado no livro de Eric Jager, que baseou o título e a história real do último duelo até a morte permitido pela corte francesa, no século XIV.
Sobre o Filme:
Na França do século 14 durante a Guerra dos Cem Anos, dois amigos : Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques Le Gris (Adam Driver), têm sua relação despedaçada ao longo da Guerra, principalmente quando Jean retorna de uma batalha e sua esposa Marguerite (Jodie Comer) conta que foi abusada por seu então amigo Jacques Le Gris.
Quando assisti ao trailer eu fiquei intrigada e tive a errada ideia de que as batalhas mostradas aconteceram em decorrer do estupro, que é o assunto central abordado no filme e com ele o comportamento de uma sociedade machista, patriarcal e muito tradicional, enquanto a parte subjugada e sofrida praticamente não tem voz e direito. Porém as cenas épicas de batalha são só o background pra trazer mais adrenalina e ânimo ao drama, que por vezes fica monótono e maçante ao se dividir em três capítulos :
” Capitulo 1 – A A Verdade de Acordo com Jean De Carrouges”, ”Capitulo Dois – A Verdade de Acordo com Jacques Le Gris”, e ”Capitulo Três – A A Verdade de Acordo com Marguerite De Carrouges”.
As três verdades muito semelhantes, mas com detalhes observados ou deduzidos pela visão de narrativa de cada um, nos intriga e nos remete ao quão gozado os fatos realmente parecem fatos, pelo prisma de cada um que viveu o acontecimento e isso nos traz anseio pela verdade-verdadeira e reflexões sobre como a mente consegue deturpar fatos.
O filme deixa uma reflexão sobre uma sociedade limitada de recursos científicos, religiosos e até humanos, que pouco se importava com a mulher. Que enxergava seu único valor o ato de gerar herdeiros. Deixa também a reflexão sobre o abismo entre o que hoje pode ser tomado como providências, do apoio e acolhimento, tratamento psicológico e físico à mulher, coisa que durante o filme Marguerite recebe o contrario, sofrendo humilhações, ataques psicológicos, e sua única forma de provar que fala a verdade é não temer a morte por injuria e não podendo lutar por si, depende de seu marido, Jean, para tomar providencias por ela.
Um filme que, eu como mulher, me senti por vezes revoltada, outras constrangida e enojada, até por ter que assistir a versão do estupro mais de uma vez.
O filme tem uma direção de arte empenhada na reprodução fiel da época e atuações de alto nível. As batalhas são bem trabalhadas, mas nada se compara a cena do último duelo que faz valer tudo que passamos assistindo o filme. Talvez concorra ao Oscar, potencial tem.
O Último Duelo estreia dia 14 de Outubro nos cinemas.