Nova série Netflix faz bonito em ter uma história básica, mas com extrema profundidade e personagens carismáticos.
Sinopse: Centenas de pessoas passando por dificuldades financeiras aceitam um estranho convite para um jogo. Um prêmio bilionário os aguarda, mas as apostas podem ser mais altas do que elas imaginam.
Criado por Hwang Dong-hyuk (My Father, 2007), esta série coreana promete entretenimento garantido e de qualidade à delonga dos seus nove episódios. Com média de 53min cada, Round 6 ensina veemente como montar uma história sem enrolação (barriga).
Há episódios de 1 hora, há de 32 minutos, e nenhum deles você sentirá o peso do tempo. De fato, ela mostra a indústria como fazer episódios concisos, apresentando todo o necessário sem te encher com informações aleatórias, levando-o a lugar algum com aquilo. Ouviu, Marvel?
Com ritmo frenético e muito bem estruturado, a série apresenta seu protagonista, Seong Gi-hun, de forma diferente do usual, lhe ponto em check em vários momentos futuramente por esse pensamento inicial. Ele de longe é uma pessoa adorável, mas será que é o pior?
Os personagens de apoio são tão principais quanto Gi-hun. Dão um tremendo peso a trama, fazendo a história se mover mais que o próprio protagonista, na maioria das vezes. Esse foco nos coadjuvantes os torna super interessantes sem a necessidade de mostrar seu background.
Um artifício comum é mostrar o passado dos personagens para termos empatia e temermos acontecimentos futuros com eles. Como a série não tem tempo a perder, ela opta por deixar essas histórias explícitas de outra forma. Nesse ponto tenho de reconhecer a maestria do roteiro.
Não sei quanto tempo demorou para estruturarem esse roteiro, mas admito que foi um tempo muito bem gasto. Você entra tão de cabeça nesse mundo que até elementos superficiais, como as vozes dos personagens mascarados, são legais. Isso é um mérito da produção? Claro. Mas nada disso seria criado sem um bom roteiro.
Me admirei com planos extremamente bem elaborados, devendo em nada para produções hollywoodianas. Round 6 é um show visual. Até momentos comuns são executados com perfeição. O timing da edição durante os jogos é fenomenal. Com certeza ficará animado nesses momentos. Pontos para o diretor.
A filmagem foi toda planejada para o imprevisível acontecer. Ninguém está salvo, NINGUÉM. A qualquer momento o seu preferido pode ser eliminado – escola George R. R. Martin formando roteiristas, pelo visto – tornando os jogos cada vez mais instigantes ao público. Tenha ciência que a série não economiza na violência gráfica.
Os antagonistas são misteriosos e possuem um toque de sinistro em sua atmosfera. Essa estranheza contínua é bem condizente com o ambiente onde os jogadores se encontram. Uma ambiguidade enorme surge das suas interações. Os organizadores são frios e rígidos, mas ao mesmo tempo respeitadores das regras criadas. Isso dá brecha para possíveis contestações dos jogadores, mesmo não sendo benéfico para organização.
Na história, a cada dia um jogo diferente acontece. Todos os jogos são baseados em brincadeiras infantis, logo imagina-se amarelinha, pique-pega, batatinha frita e por aí vai. Entretanto, as penalidades impostas nesses jogos são bem orquestradas, a ponto de ser inimaginável qual será o esquema do próximo jogo. Cada participante eliminado aumenta a quantia geral do prêmio.
A trama é simples inicialmente, porém ganha muita profundidade em seu decorrer. Há um dilema gigante dentro da série: vale tudo por dinheiro? – Má oie – Por várias situações, você como telespectador, se perguntará o que faria no lugar dos jogadores. Pensando de fora parece fácil, mas vendo toda a problemática de cada personagem não será tão fácil assim. Seu instinto de sobrevivência/ objetivos, passam por cima da sua moralidade?
Além da série ser ótima, esses questionamentos reais são imediatamente transportados para nós, consumidores. Todo o burburinho causado por ela não é à toa. Ritmo excelente, personagens carismáticos, trama profunda, inventividade… como não falar dela.
Receio ter o dever de citar um fato: o encerramento pode causa descontentamento para alguns. É ruim? Não. Todavia ele volta ao ritmo mais lento do primeiro episódio, contrastando com o frenesi imposto nos demais. Achei importante ser assim por questões de coesão de mundos, mas há quem torça o nariz.
Baseado nisso tudo, repito o questionamento mencionado na série:
– Você ainda confia nas pessoas?