Em 2010 fomos apresentados pela primeira vez no cinema a Natasha Romanoff (Scarlett Johannson), vulgo Viúva Negra, em Homem de Ferro 2. Apesar de roubar a cena, só mais tarde que viemos saber que era plano da Marvel Studios torná-la uma das principais heroínas do Universo Cinemático Marvel que estava sendo desenvolvido.
Sua importância foi mostrada pela primeira vez em 2012 com Os Vingadores onde tivemos somente alguns detalhes de seu passado que, ao contrário dos outros 4 principais Vingadores, tanto a Viúva Negra quanto o Gavião Arqueiro não tiveram filme apresentando suas origens. O público então clamou pelo filme solo da Viúva Negra, tanto quanto pelo passado em Budapeste envolvendo o Gavião Arqueiro e a Filha de Dreykov, mas graças ao antigo chefe da Marvel Enterteinment, Ike Permutter, que não acreditava que minorias poderiam vender produtos multimídia, só tivemos um pouco do vislumbre da Sala Vermelha nas memórias da Natasha em Vingadores: Era de Ultron (2015) e em Vingadores: Ultimato (2019) nos despedimos da personagem sem que esta ao menos tivesse seu primeiro filme solo que só veio a chegar agora em 2021, devido às complicações da pandemia do Covid-19, que deveria ter chegado em 2020 com o hype do luto pela personagem.
O filme Viúva Negra (2021) começa mostrando a infância de Natasha Romanoff e Yelena Belova, que aqui, ao contrário dos quadrinhos, são tratadas como irmãs adotivas, tal como filhas adotivas de Alexei Shotakov (David Harbour), o super soldado soviético Guardião Vermelho, e Melina Vostokoff (Rachel Weisz), a Dama de Ferro e mais antiga Viúva Negra viva. A família falsa vivia em Ohio, Estados Unidos, como fachada para uma espionagem a serviço do General Dreykov (Ray Winstone) que, ao encerrar suas atividades nos Estados Unidos, separou a família levando as duas jovens a Sala Vermelha para se tornarem suas Viúvas Negras.
Mais tarde, seguindo os eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016), – inclusive, aconselho aqui que assista o Marvel: Legends sobre a Viúva Negra para recapitular sua trajetória no Universo Cinemático Marvel, pois, a posição na linha do tempo pode ficar confusa para quem não acompanha fielmente as produções da Marvel Studios – Natasha, sendo caçada pela CIA e pelo Secretário Thunderbolt Ross (William Hurt), se exila dos Estados Unidos para a Noruega e prepara-se para viver foragida até ser atacada pelo Treinador a mando de Dreykov que estava atrás de frascos químicos enviados por Yelena (Florence Pugh). A partir daí, Natasha vai atrás de reencontrar sua irmã no esconderijo em Budapeste, onde ela conta brevemente sobre como conheceu Clint Barton, o Gavião Arqueiro – Jeremy Renner foi creditado somente por voz – e sua missão que lhe deu a porta de entrada para SHIELD.
O filme já inicia bem diferente dos demais da Marvel Studios, com um tom sombrio acompanhado da versão melancólica de Smell Like Teen Spirit da banda Nirvana reinterpretada por Malia J, uma fotografia que lembra bastante os filmes do Capitão América dos Irmãos Russo, tal como a série Falcão e o Soldado Invernal, que seguem o ritmo de espionagem e político mais do que de super-herói fantasioso, e contém até mesmo a fonte de Capitão América: Guerra Civil para destacar cada lugar no fundo, o que parece um pouco esquizofrênico já que em alguns momentos do filme este recurso é simplesmente esquecido ou mesmo desnecessário se os diálogos já deixam bem expostas as localidades, e por falar em diálogos expositivos, é exacerbada a necessidade de contextualizar que o filme se passa após os eventos de Capitão América: Guerra Civil com frases como vi nos noticiários que os Vingadores se divorciaram o que também chega a ser esquizofrênico já que vem logo em seguida de uma pergunta sem sentido sobre se poderia entrar em contato com Tony Stark buscando ajuda sendo que a personagem acabou de deixar bem claro que está muito por dentro das notícias de que a Natasha não tem mais afinidade com o Stark e muito menos pode entrar em contato, pois está foragida, o que a própria personagem que indagou acabou de afirmar que sabe muito bem! – sim, até minha explicação foi super expositiva, só pra você ter uma ideia de como foi.
Mas isto não atrapalha tanto o filme como a edição do terceiro ato que acaba tornando-se ridículo de tão expositivo. A protagonista ao revelar o plano pro vilão – ironicamente aqui é a heroína que faz o discurso de vilão – é acompanhada de um flashback tão instrutivo quanto um programa educacional infantil, tirando toda a genialidade do momento icônico entre Natasha e Loki em Os Vingadores que aqui tentou ser recriado para fanservice. E, pior, utilizando de recursos que nos próprios filmes de Capitão América foram admitidos de problemáticos pro roteiro como as máscaras holográficas e as falsas mortes. Além de que o filme termina sem o menor apelo emocional para todos os novos personagens apresentados a não ser Yelena que, também expositivamente, foi apresentada como a substituta para a Viúva Negra no UCM, o que, pelo menos isto conseguiu. Florence Pugh tem o carisma e a presença necessária para atuar como uma espécie de Viúva Negra Millennium com apelo jovial utilizando de frases de efeito e piadas com o próprio universo – trago em destaque uma muito boa que foi a personagem ridicularizando o pouso de super-herói da Natasha. Além de Florence, também espero ver muito mais de David Harbour como o super-herói soviético Guardião Vermelho em algum futuro filme ou série do Capitão América.
O filme não é o melhor do UCM, tal como também não é o pior. Porém, Viúva Negra merecia muito mais, mas a impressão que é passada é que, mais uma vez, um filme de protagonista feminina foi entregue para um estúdio terceirizado para não atrapalhar o andamento das produções principais – é triste de ver como, mesmo com o tempo que o filme teve para a pós-produção, até mesmo os efeitos especiais, especialmente os do terceiro ato, ficaram ainda mais mal renderizados do que os de Guerra Civil, coisa que nem mesmo as séries da Marvel no Disney Plus tem pecado. Por outro lado, eu fico feliz de o roteiro não superficializar como nos demais filmes e séries de super-heroína em que bota a identidade secreta da personagem como uma secretária e perde metade do tempo com um par romântico – como a bizarra tentativa de aproximação de Natasha com Bruce Banner em Vingadores: Era de Ultron. Não, o foco aqui é família, o transtorno emocional que isso causou para as duas meninas e a reconquista da liberdade que foi tirada das jovens Viúvas Negras.
Viúva Negra já está nos cinemas e também disponível no Premier Acess do Disney Plus e estará disponível para todos os assinantes a partir de 16 de agosto.