Os serviços de streaming vem apostando forte em produções nacionais em seus catálogos, buscando acirrar ainda mais a disputa pela sua atenção. Sabendo disso, a Prime Video investiu pesado na produção DOM, sua primeira série original brasileira, que é inspirada em fatos reais, sobre o assaltante de residências de luxo, Pedro Dom que estampou diversos noticiários no início dos anos 2000.
DOM conta com a direção de Breno Silveira, conhecido por trabalhos como Gonzaga – De Pai Pra Filho e Dois Filhos de Francisco. O personagem Pedro Dom é interpretado por Gabriel Leone, em sua versão adulta e por Guilherme Garcia na versão adolescente. Já o personagem Victor Dantas é interpretado por Flávio Tolezani na versão de meia idade, enquanto na versão jovem é interpretado por Filipe Bragança. Outro destaque com dois atores é o personagem Lico, enquanto Ramon Francisco atua como a versão adulta, o ator e cantor Mc Caverinha interpreta a versão adolescente. O restante do elenco é composto por nomes como Raquel Villar (Jasmin), Isabella Santoni (Viviane), Mariana Cerrone (Laura Dantas), Digão Ribeiro (Armário), Laila Garin (Marisa).
Atenção!!! Esta série possui cenas explícitas que podem gerar gatilhos!!!
Com bastante similaridade a séries internacionais, DOM vem arrancando elogios pelo incrível trabalho de sua produção, que consegue ambientar muito bem o Rio de Janeiro dos anos 90 e também dos anos 70, não só pela sua cenografia, mas também pela sua trilha cantada, com funks muito conhecidos pelo público. Breno Silveira não deixa a desejar na sua direção que sempre busca enquadramentos que intensificam os grandes momentos da série ao longo dos 08 episódios, principalmente os que cercam a batalha do Pedro contra o seu vício. O recurso do anacronismo focado em Victor Dantas é uma das maiores derrapadas, mesmo trazendo cenas de qualidade e uma atuação com mais camadas do personagem, os momentos facilmente se perdem com o tempo presente da série e não acrescentam muitas ligações.
O fio condutor das grandes emoções com certeza é Gabriel Leone, em sua atuação consegue levar Pedro Dom em dois extremos com facilidade, nos fazendo ter compaixão por ele em alguns segundos e odiá-lo logo em seguida. Mesmo sabendo seu destino final, me peguei agarrado em alguma possibilidade dele mudar completamente. Flávio Tolezani não manda mal, mas também não chega surpreender como um típico ex-policial arbitrário, seus melhores momentos é quando precisa acolher Pedro.
Nem tudo são flores, um grande desafio de produções que trabalham com fatos reais é a possível romantização e ou descuidados que algumas cenas podem apresentar. Apesar de todos os alertas de conteúdo forte que podem despertar gatilhos, algumas coisas me incomodaram por que poderiam reforçar alguns discursos. O primeiro é respeito a uma maternidade ausente, onde Victor, pai de Pedro culpa sua mãe por não estar acompanhando os passos dele da forma que deveria e por isso ele teria se envolvendo com entorpecentes, mas no decorrer da série, nem Victor consegue manter os olhos sob Pedro, mas o seu discurso ganha força por sempre deixarem a figura paterna como um herói.
Os outros momentos cercam ao personagem Lico, um jovem negro favelado que é o melhor amigo de Pedro. É perceptível que Pedro tá sempre quebrando regras em busca de adrenalina, mas decidem fazer com que o Lico introduza cocaína na vida de Pedro, como se ele tivesse aliciando o personagem. Além disso, em um outro momento onde ambos buscam sustentar o vício, Lico é usado como isca num plano de Pedro pra roubar vídeo games num shopping, e mesmo o roubo sendo efetuado de fato por Pedro, Lico é espancado por um segurança em frente de dezenas de pessoas, que só e interrompido quando o próprio Pedro se manifesta, reforçando um estereótipos além do arquétipo de “white savior”. Em mais uma cena envolvendo Lico, logo quando o personagem prejudica o andamento de um roubo, Pedro desfaz laços com Lico, em sequencia Lico tenta reatar a amizade com o amigo, mas é enxotado não só pelo Pedro, mas por todos do grupo de assalto. Frustrado Lico acaba tendo uma overdose de cocaína que é “patrocinada” pelo próprio Pedro durante a confusão e acaba morrendo implorando pela amizade do rapaz.
Essa ultima cena é bastante marcante, pois Pedro passa por situação parecida, momentos depois e acaba tendo todo amparo de uma família de classe média, mas o que realmente machuca é falta de coragem de assumir o Pedro como um personagem definitivamente mal caráter, dando justificativa até por uma falha genética onde o personagem é incapaz de sentir dor e medo.
Por fim, DOM é uma série de produção soberba e que acerta muito na ambientação e nos momentos de ação e adrenalina, mas que falha em dar contrapartidas a altura do seu protagonista e na soma de debates em que se permeiam.