Após um ano do inesperado sucesso do seriado The Boys da Amazon Prime Video, inspirado na graphic novel homônima The Boys: Os Rapazes de Garth Ennis, mesmo autor de Preacher que também já ganhou adaptação pra Prime Video. Apesar de Preacher ser uma HQ de maior sucesso, The Boys vem ganhando mais popularidade por sua adaptação que melhora consideravelmente o material bruto, mas será que a segunda temporada foi assim tão boa quanto a primeira?
Vamos começar falando sobre a sacada genial da Prime Video de lançar os três primeiros episódios da temporada de uma vez só e o resto semanalmente assim mantendo o hype do público por mais semanas, tendência esta que deveria ser aproveitada mais vezes como na vindoura terceira temporada de American Gods e em outras séries da Netflix como a concorrente de The Umbrella Academy na temática de série adulta sobre super-heróis. É inegável que foi muito investido no marketing do seriado para esta temporada, bem mais do que para qualquer outra série da Prime Video antes, possivelmente, a rede de streaming está, não só com este investimento mais também o lançamento de mais uma série de entrevista com o elenco e bastidores do seriado – Inside The Boys – confirmando que The Boys é atualmente o seriado mais rentável da Prime Video. Mas isto não garante a permanência da qualidade com a segunda temporada, mas sim, uma certa pressão e que pôde gerar um roteiro um tanto que corrido.
Spoilers de toda a segunda temporada de The Boys a partir daqui.
Com personagens novos e resoluções deixadas da primeira temporada, o andamento da trama foi muito mais corrido do que o da primeira, com várias subtramas que não necessariamente acrescentam em algo e que são até mesmo descartadas em algum momento enquanto outras que poderiam ser cadenciadamente resolvidas são deixadas para um final que não consegue resolver muito bem. Vamos começar com o primeiro episódio que já dá desfecho numa das maiores pontas deixadas da primeira temporada: a do super-terrorista Naqib (Samer Salem) que é morto logo no começo por Black Noir (Nathan Mitchell) – que por sinal, se mantém sendo o melhor personagem mesmo sem falas, enquanto a trama de Homelander (Anthony Starr) por ter sido o responsável pela distribuição do Composto-V e criação dos supervilões é totalmente esquecida após o CEO da Vought, Stan Edgar (Giancarlo Esposito), botar o Homelander em seu devido lugar e aproveitar a exposição da Vought sobre ser a responsável por criar os super-humanos, ou supes, enquanto mentia sobre seus nascimentos e declarar a empresa como uma grande corporação farmacêutica responsável pela fórmula do único composto criador de super-heróis e vilões. Além disto, nos despedimos de personagens importantes da primeira temporada, a vice-diretora da Vought Madelyn Stiwell (Elizabeth Shue) e a agente da CIA Susan Rayner (Jennifer Esposito) para dar espaço a Ashley Barret (Colbie Minifie) como vice-diretora e Victoria Neuman (Claudia Dormit) como secretária de assuntos super-humanos do congresso estadunidense, além de conhecermos a super-heroína que substitui o falecido Translúcido (Alex Hassel), Stormfornt (Aya Cash) que é quem carrega a maior parte da trama da temporada sobre os envolvimentos nazistas da empresa.
Enquanto isto, conhecemos também finalmente o irmão perdido da Kimiko (Karen Fukuhara), Kenji Myashiro (Abraham Lim), ainda dando voltas na trama da criação de super-terroristas que não dá em nada, pois ele é morto e logo depois temos um episódio inteiramente focado no Sanatório Sage Grove, uma clara alusão ao Asilo Arkham, onde prende os criminalmente insanos e fazem testes do Composto-V com eles só para depois serem descartados incinerados pelo Lamplighter (Shawn Ashmore) e onde ocorre uma rebelião repleta de revelações sobre a morte dos netos de Grace Mallory (Laila Robins) que a fez se afastar dos Rapazes e das investidas contra a Vought e um espetáculo de superpoderes além da aproximação de personagens como Starlight (Erin Moriarty) e Bill Butcher (Karl Urban), mas que tal investigação não leva a nada, pois, Lamplighter, que deveria servir de testemunha contra a Vought, se mata na Torre dos Sete só para dar lugar a posição de testemunha Jonah Vogelbaum (John Doman) que é morto por um super-terrorista que mais tarde descobrimos ser a infiltrada Victoria Neuman, deixando uma série de por quês não respondidos nessa temporada, como o furo sobre seu super-poder que não foi aparentemente usado durante a sequência de massacre na audiência aberta contra a Vought.
Ao mesmo tempo, com Stormfront vemos aberta uma discussão sobre a população seguir cegamente discursos nazistas, desde que não saibam que são nazistas, e sua bizarra e desconfortável relação amorosa e sexual com o Homelander sendo uma clara alusão a como a direita estadunidense abraça os grupos neonazistas e suprematistas brancos. Também vemos mais uma sátira a religião realizada através da Igreja da Coletividade que resgata super-heróis que estão em decadência e tenta levá-los de volta a sua popularidade conquistando espaço entre os conservadores estadunidenses a ponto de tentarem fazer aquele que foi expulso dos Sete por abuso sexual, o Profundo (Chace Crawford), conquistar redenção se aliando a Igreja, servindo de alusão a famosos e criminosos que recebem redenção após se afiliarem a uma igreja. Vemos também a resolução do gancho deixado pelo final da primeira temporada em que, para surpresa até mesmo de quem leu os quadrinhos, vimos Becca Butcher (Shantel VanSanten) e Ryan, seu filho com o Homelander, vivos e escondidos pela Vought, enquanto Billy tenta de tudo para resgatá-la, a ponto de ser perseguido pelo Black Noir em paralelo ás gravações de um longa-metragem Dawn of the Seven que servia de clara alusão aos recentes filmes de heróis Batman v Superman: Dawn of Justice com sua fonte e logo, Liga da Justiça com seu diretor abusivo e Vingadores: Ultimato com suas sequências forçadas de representatividade e em paralelo também a uma sequência incrivelmente assustadora e bem feita com o Homelander massacrando um grupo de protestantes em frente a Torre dos Sete, mas que, por uma decisão covarde da produção, era só ilusão.
Já a busca por incriminar a Stormfront rendeu bons momentos como a roadtrip com Annie, Hughie Campbell (Jack Quaid) e Mother’s Milk (Laz Alonso), mas que também não serviu de muita coisa já que no final, todas as provas que incriminavam a Stormfront foram entregues de bandeja pelo Trem-Bala (Jessie Usher) e que não serviram de nada, pois a personagem foi aparentemente morta por Ryan enquanto tentava salvar sua mãe, desperdiçando uma cena incrível em que poderia ter sido morta pisoteada pelas The Girls Starlight, Kimiko e Rainha Maeve (Dominique McElligot) que também se assumiu publicamente bissexual enquanto o marketing da Vought tentava de tudo forçá-la homossexual por mídia, fazendo-a se afastar de sua namorada Elena (Nicola Correia-Damude), se voltar contra o Black Noir e Stormfront para salvar sua colega Starlight, tudo isto, enquanto, com a ajuda do Profundo, recolhia provas que poderiam incriminar ela e Homelander pelo desastre do Avião que deixaram de salvar na primeira temporada, fazendo Homelander ficar calado sobre suas traições e trazendo-as, junto com o Trem-Bala que havia sido afastado, de volta para os Sete, mas sem o Profundo. Já o final da temporada deixa mais perguntas em aberto do que soluções, enquanto perde tempo com uma sequência longa de final feliz que nos faz questionar o que aconteceu com a Cindy (Ess Hodlmoser), fugitiva de Sage Grove completamente esquecida e furos como a revelação de Victoria Neuman, que na série é super-humana, e da aparição da Rainha Maeve no meio da batalha, já que a personagem na série não voa. Mas, podemos já imaginar o que esperaremos da vindoura terceira temporada com Jensen Ackles como o Soldier Boy, um retorno ou não de Aya Cash como Stormfront e se Victoria Neuman se tornará finalmente a Vice-Presidente dos Estados Unidos como seu personagem nos quadrinhos.
Apesar do roteiro confuso, mau explicado e as vezes mau dirigido, onde nos dava a impressão de que os diretores da cada episódio não conversavam entre si e deixando muito para ser resolvido de última hora e largando pontas soltas, esta segunda temporada está com aprovação e popularidade nas alturas confirmando já a quarta temporada e mais uma série derivada focada nas equipes de heróis adolescentes. Os efeitos visuais deixavam a desejar algumas vezes e em outras era até mesmo disfarçado, mas devemos parabenizar a equipe de computação gráfica por sequências como a do Homelander no protesto e os planos de voo da Stormfront e uma trilha sonora memorável em alguns episódios com Rolling Stones, Billie Joel, Aerosmith e até mesmo uma canção original da própria Erin Moriarty. Siga a Terra Nérdica no Spotify, pois sairá nesta sexta-feira, dia 16 de outubro, o nosso TNCast inteiramente focado em The Boys onde debateremos muito mais sobre o assunto!
