Saudades a toda a Nação Nérdica! Espero que você esteja bem, mesmo com tudo que está acontecendo no mundo. Lembrando que estamos todos juntos segurando a sua mão nesse momento difícil.
Cada vez mais descobrimos qual nosso papel como site de entretenimento, que é o de ajudar você a suportar a realidade indicando filmes, livros, séries e etc que podem te ajudar a escapar um pouco dela. A gente vem nos últimos dois meses realizando um trabalho intenso divulgando filmes, séries, animes e etc que você pode assistir via streaming e por outros meios durante este período de Quarentena por conta do Covid-19, mas com os recentes eventos envolvendo protestos e distúrbios, resolvemos dar vida a uma coluna que já havíamos planejado faz tempo.
Batizando a coluna como Vidas Negras, remetendo a principal tag usada nesta luta, vamos indicar trabalhos que nos ajudam a entender o que está acontecendo – tal como é o trabalho da História, estudando o passado, para entender melhor o presente, nós indicamos obras da cultura, que muitas vezes até fogem da realidade, mas que nos ajudam entendê-la com mais facilidade. Escolhemos iniciar pelo filme Infiltrado na Klan, porque, apesar de se passar em 1972, faz um paralelo com os distúrbios atuais e o crescente ódio mascarado, além de deixar o paralelo visualmente claro em sua sequência de encerramento e seu diretor, o renomado Spike Lee, ser um já recorrente guerreiro na luta pelo espaço de diretores e artistas afro-americanos no entretenimento – tal como o recente movimento por mais espaço para produções do apelidado cinema negro na Premiação da Academia de Cinema.
Mas o que está acontecendo? Bom, eu acredito que muitos devem estar sem entender o que está causando tais protestos e distúrbios, então farei um breve resumo: no dia 25 de maio de 2020 foi assassinado um atleta afro-americano chamado George Floyd, quando Derek Chauvin, um policial de Minneapolis, deitou-o de bruços após detê-lo na estrada e ajoelhou-se sobre seu pescoço por pelo menos sete minuto, enquanto outros três policiais assistiam. O incidente foi gravado em vídeo nos celulares por vários civis espectadores. Nas gravações, Floyd dizia repetidamente Não consigo respirar (I can’t breath) e o vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais. Os quatro policiais envolvidos foram demitidos no dia seguinte. A morte de Floyd foi comparada à morte de Eric Garner em 2014, um homem afro-americano desarmado que repetiu Não consigo respirar enquanto estava sendo sufocado por policiais. Os eventos reviveram a tona a lembrança dos crescentes grupos reacionários, neonazistas e integralistas tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e em outros lugares do mundo e a crescente manifestação da liberdade ao ódio.
No filme inspirado no livro BlacKkKlasman de Ron Stallworth, conhecido no Brasil como Desmascarando o Ódio, protagonizado por Ron Stallworth, o próprio autor do livro, interpretado por John David Washington, vemos sua vida de luta como o primeiro oficial negro do Departamento de Polícia de Colorado Springs. Designado para trabalhar na sala de registros, ele enfrenta discriminação racial de seus colegas de trabalho. Mais tarde, graças a seu bom trabalho após solicitar um trabalho secreto, infiltrando-se num comício local de direitos humanos, é transferido para a divisão de inteligência. Depois de ler sobre uma divisão local da Ku Klux Klan no jornal, ele se passa por branco ao falar pelo telefone com o presidente da divisão da Klan em Colorado Springs, mas logo percebe que não apenas usou seu nome real, mas também também tem que ir e conhecer os membros da Klan. Então, Stallworth recruta seu colega de trabalho, Flip Zimmerman (Adam Driver), para agir como ele para conhecer os membros da Klan enquanto ele continua a posar de branco no telefone. Um tempo depois, os dois conseguem impedir um atentado terrorista da Klan e incriminá-los.
Após o sucesso da missão e de serem ordenados a encerrarem a investigação e destruírem os registros, Stallworth é ameaçado da pela janela de sua casa por uma cruz flamejante na encosta de uma colina cercada por membros encapuzados da Klan. O filme termina com imagens da manifestação de extrema direita Unite the Right de 2017 em Charlottesville, Virgínia, o ataque de James Alex Fields matando Heather Heyer, um discurso do Presidente Donald Trump que postula uma equivalência moral entre os manifestantes supremacistas brancos e os protestantes antifascistas e a declaração do grande líder da Klan, David Duke, seguida por um plano com a bandeira americana de cabeça para baixo, desbotando em preto e branco. Acesse o artigo de Luan Enéas para uma crítica mais detalhada sobre o filme em si:
Infiltrado na Klan – Uma crítica que a branquitude não quer enxergar!
A Ku Klux Klan foi criada no sul dos Estados Unidos em 1860, revivida mais tarde em 1915 e o grupo atual, presente no enredo, foi criado em 1950 e permanece até hoje, com o número estimado de 8.000 membros. Os três movimentos, apesar de suas diferenças, tem sempre o mesmo objetivo em comum – a proclamação da supremacia branca. É notável que, na maioria dos casos de agressão e ameaça da Klan, os membros usam trajes brancos que escondem sua identidade, o que nos mostra como é perigoso o ódio mascarado e que muitos cidadãos que compartilham deste ódio podem estar do nosso lado, lembrando, é claro, que a Klan não é o único grupo que o prega. Casos como os assassinatos de George Floyd, Eric Garner e Heather Heyer e a luta de Ron Stallworth nos mostram como devemos nos preocupar em combater o ódio mascarado e que tais ocorrências não se limitam aos Estados Unidos, mas também todos os dias no Brasil.
Bom, este foi o nosso primeiro artigo da nova coluna sobre Vidas Negras. Vamos sempre indicar obras e vidas que nos lembram como é importante nossa luta e que estamos juntos nessa! Não se esqueça de compartilhar este artigo para seus amigos e nos seguir em nossas redes sociais para falar com a gente, comentar também sugestões, críticas e dicas de obras para abordamos nas próximas postagens. Um abraço cheio de saudades pra você!