Por: Marcelle Souza
Se existissem duas palavras que poderiam resumir, ou melhor, definir Amanda, essas seriam sutileza e simplicidade. O novo longa de Mikhaël Hers trata da perda e do recomeço focando nos detalhes de cada ação e, assim, comovendo o público.
Começamos o filme conhecendo e nos apaixonando rapidamente pela família de David (Vincent Lacoste), sua irmã, Sandrine (Ophelia Kolb) e sua sobrinha, Amanda (Isaure Multrier). Mesmo que por pouco tempo, entendemos que é uma família adorável e adoraríamos acompanhar o cotidiano. É dessa forma que sentimos e nos chocamos com a morte de Sandrine tanto quanto os protagonistas (não é spoiler! Esse é o motor do filme). Ophelia Kolb cria uma personagem carismática, animada e, principalmente, conectada ao máximo com sua pequena família. A partir desse momento, o filme se transforma e começamos a acompanhar uma mudança na vida dos que ficaram.
Eis que as sutilezas e simplicidades da direção e do roteiro começam a aparecer com mais clareza. Simplicidade de uma criança não entender completamente o que a morte de sua mãe significa; sutileza de como um objeto banal pode se tornar tão importante depois de sua perda. Simplicidade de um beijo de despedida de alguém que não quer partir; sutileza de um aperto de mão que poderia ser mais. Simplicidade de choros que fogem do controle em momentos errados; sutileza do silêncio nas horas certas. Simplicidade de como as crianças absorvem certos ensinamentos; sutileza de como outros ensinamentos podem ser bloqueados para alguns adultos por causa de seus problemas pessoais. Esses detalhes, entre muitos outros, que, caso o espectador preste atenção, transformarão Amanda em filme muito mais elaborado que apenas um drama para arrancar lágrimas. Amanda é mais do que isso.
E falando no nome da personagem principal, é impressionante o trabalho da atriz mirim Isaure Multrier. Cada sorriso e cada lágrima são tão verdadeiros que ficamos em sintonia com a menina. Destaque para cena final que é tão bela que, só ela, já vale a ida ao cinema. A atuação do ótimo Vincent Lacoste é essencial para a emoção tocar o público. Mesmo destruído depois de tudo o que passou, o rapaz se sente obrigado a ser forte para poder cuidar da sobrinha. Porém, algumas vezes, ele desaba. E é lindo. Ver sua constante luta interna contra a fraqueza torna esse personagem tão real quanto qualquer um que esteja assistindo ao filme. É fácil se identificar com David e perguntar “o que eu faria se estivesse na situação dele?”.
Apesar de tudo, Amanda não é perfeito. Possui uns dez minutos a mais que o necessário e algumas cenas que poderiam ser cortadas sem fazer falta (uma delas, inclusive, ainda estou me perguntando porque existe, já que foge de toda a experiência que o filme nos proporciona). Mesmo assim, essas pequenas falhas – se é que podem ser chamadas de falhas – não tiram o mérito de Amanda. O filme é um ótimo incentivo para quem não estiver em seus melhores dias, mostrando que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda não está no fim.