14 anos depois, eis que finalmente vemos no cinema a sequência de Os Incríveis, o qual está, na minha opinião, no Top 3 de animações da Pixar. Porém, a espera pode ter prejudicado um pouco a sequência.
Enquanto Toy Story prosseguiu acompanhando a idade dos espectadores – vimos o Andy criança, depois mais velho e com uma irmã recém-nascida, e por último indo para a faculdade – fico a pensar se seria ideal se, caso Os Incríveis lançasse nesse meio-tempo, veríamos também o crescimento das crianças, mas ficamos com uma sensação estranha da passagem de tempo, pois o filme inicia-se exatamente onde o primeiro parou: no ataque do Escavador (John Ratzenberger).
É claro que, mostrar a sequência completa do embate contra o Escavador foi mais para presentear os fãs, pois assistindo ao primeiro filme como um todo, a sequência com o vilão não é necessária. É tal filmes como O Espetacular-Homem Aranha 2 em que vemos no final o herói enfrentando o Rino e não sentimos falta de ver o embate completo e caso tivesse um terceiro filme, não teria necessidade de contar o que aconteceu depois. Lembro-me inclusive se contrariar um colega meu que, após vermos o primeiro filme quando crianças, disse que o Escavador seria o vilão do segundo filme e ele acertou? Bom, sim e não, né? O filme tem dois vilões, o que é bem normal para um roteiro de heróis. Tal como no primeiro episódio em que vimos no início uma sequência contra o Bomb Voyage (Dominique Louis), o primeiro vilão no arco serve normalmente apenas para gancho do problema que será o desenvolvimento que levará a criação do segundo vilão – no primeiro caso, a excelente trama da transformação do Gurincrível (Jason Lee) no Síndrome. Já neste segundo, a trama do vilão não foi assim tão interessante.
Talvez por termos sido prejudicados pela nova onda de divulgação que tende a mostrar quase tudo do filme e já nos trailers nos revelou que teríamos o Hipnotizador como vilão principal – confesso que eu esperei bastante que ainda tivéssemos mais um vilão surpresa no roteiro, mas não. Até mesmo o desenvolvimento do vilão não foi tão interessante quanto o do Síndrome – é claro, até porque ser melhor seria muito difícil, já que a motivação do Síndrome é a melhor possível – aquela que até a gente como espectador compra. Sem falar que o Síndrome não esperou por clichês de roteiro para se revelar – no primeiro embate com o Sr. Incrível (Craig T. Nelson), já se revelou, enquanto o Hipnotizador guardou a revelação para o final, sendo que na metade do filme já era previsível.
Ao mesmo tempo, o filme, apesar de polemizar alegando que não é para crianças, infantiliza neste episódio. Quando no primeiro, víamos questões bem adultas como desconfiança, traição, assassinato, depressão, desemprego, entre outros problemas dignos de um roteiro de Watchmen, – que inclusive inspirou a trama do primeiro – bem pesado para um filme de animação para todas as idades, mas que nós, como crianças da época, éramos presenteados por animações que não subestimavam de nossa inteligência – lembrando que somos da época de Liga da Justiça, entre outras animações bem maduras também. Não consigo nem entender qual foi o problema para polemizarem sobre isto neste segundo filme, sendo que nisto nem se compara ao primeiro. Por outro lado, o filme avança em debates bem atuais como o empoderamento feminino, mas sinto que vacilou na abordagem do assunto.
Mas a animação continua perfeita e melhor! E o ritmo bom como sempre, o humor também, e ainda me surpreende a dedicação que a Disney e Pixar tem para a tradução regionalizada tanto nos letreiros como na dublagem que desta vez teve as vozes de Evaristo Costa, Otaviano Costa e Flávia Alessandra respectivamente como o âncora Chad e os irmãos Winston e Evelyn Deavor como os personagens novos – palmas inclusive para um pedaço em que Winston atende uma ligação do próprio Otaviano. Os Incríveis 2 ainda vale a pena ser visto no cinema e esperamos que, se houver um terceiro episódio, que não demore tanto quanto este para chegar.