Não é de hoje que eu digo que Capitão América: O Soldado Invernal, segundo filme da franquia do Capitão América no Universo Cinemático da Marvel, e o primeiro dirigido pelos Irmãos Russo, é o melhor filme da Marvel Studios até então. Se não, é pelo menos o melhor da Fase 2, com certeza.
Mas por quê? Muitos sabem como eu por muito tempo defendi os filmes da DC por tratarem de assuntos mais complexos e realistas, sem subestimar da inteligência do espectador – infelizmente não é mais o caso atualmente. E na Marvel, nem sempre isso acontece, mas casos recentes como Pantera Negra mostraram que um filme de herói pode sim abordar questões importantes sem deixar de ser divertido ou infanto-juvenil. Capitão América: O Soldado Invernal ainda é um pouco mais sombrio em comparação, e sem que a maioria tenha percebido, fala de questões muito sérias, que é o poder político sobre nossa liberdade e segurança.
Tem filmes que são muito mais honestos e menos sutis sobre o assunto, como Tropa de Elite 2 por exemplo que mostra claramente a polícia se corrompendo e tenho o apoio de Brasília, bem similar a criação da Máfia italiana em Chicago nos anos 20. Batman Begins tocou no assunto também e provavelmente foi um dos primeiros filmes de herói convencional a abordar tal questão – dá-lhe a influência de Frank Miller e das graphic novels dos anos 80. Mas mesmo assim, Batman Begins ainda se refere a um assunto antigo – não só a Depressão Econômica, mas também o terrorismo, mesmo que funcione nos dias de hoje, mas não é muito atualizado como Capitão América: O Soldado Invernal. Por que? Não só pela internet, apesar de que sim, é um dos fatores importantes, mas por refletir o que é exatamente a nossa sociedade de hoje em dia. Pois anos anos 20 e em lugares onde a Mafia existe como em Gotham com a Família Falcone, as pessoas sabem e admitem que a Mafia existe, e mesmo que alguns achem que é necessária, todo mundo reconhece que não é legal.
Já por outro lado, temos um estado que domina e nos influencia, utilizando de quase que todo o nosso imposto caro para o bolso deles e criando um universo pior ainda para que nós nos sintamos obrigados a dar cada vez mais para eles. Me parece a situação em que o Ra’s Al Ghul conta em Batman Begins, que eles criaram fome para que os cidadãos aceitassem a Mafia como solução. Já em Capitão América: O Soldado Invernal, temos como metáfora a Hydra, uma organização criminosa que antes havia se infiltrado no nazismo e criou mais tarde a Shield como uma polícia internacional controladora. Infiltrados em várias organizações militares, eles criaram o caos pondo a culpa em marginais, para que as pessoas aceitassem que o totalitarismo da Shield era necessário. Vigilância 24 horas via telefone, cartões de crédito, internet, câmeras, satélites, tudo para assegurar que estivéssemos protegidos sob armas apontadas para nossa cara caso mostrássemos-nos ameaças. Se um de nós tem um passado similar ao de um Bruce Banner, nós já seríamos caçados, tanto que eles mencionam Stephan Strange antes mesmo deste se tornar o Doutor Estranho.
E agora? Não é de hoje que existe uma discussão sobre abdicarmos de nossa liberdade em troca da falsa sensação de segurança. Esquecemos até da tortura e da falta de expressão que tínhamos há algumas décadas atrás. Esqueceram até que, se voltássemos a aquele tempo, nem poderíamos ter voz para pedir por isto. A Hydra é uma metáfora para a podridão inserida no meio de nossos governantes e autoridades. Quero que lembrem-se, antes de pedir por proteção total, que como o Capitão América bateu de frente com o Diretor Nick Fury quando viu os Helicarriers – aqueles aeroporta-aviões armados prontos para decolar – que aquilo não significa segurança, significa medo.