Como todo mundo sabe, o Justiceiro foi introduzido no universo Marvel/Netflix na segunda temporada do Demolidor e, devido ao grande sucesso, acabou ganhando uma série própria. Depois de contextualizar bem a vida de todos os Defensores (Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e o próprio Demolidor), a Marvel apresenta a história sofrida de Frank Castle e como ele acaba se tornando um dos maiores antiheróis dos quadrinhos. O resultado é fabuloso, pois retrata o nível de maturidade que esse universo chegou, apresentando fatos atuais e de seu passado de forma bem equilibrada e violenta, como deve ser. Vamos começar do começo?
A abertura é bem badass, soturna e possui uma música bem marcante. Fora que a caveira formada com armas ficou linda. Aliás, eu adoro as cinco aberturas, pois se encaixam bem no estilo de cada personagem. No primeiro episódio, eles ditam qual será o ritmo da série, não tão frenético como muitos gostariam, mas acho que é justamente pelo fato do programa ter seu próprio ritmo que chama atenção. Ele é um fuzileiro naval treinado para matar. Quando ele descobre operações ilegais de seus superiores envolvendo tráfico de drogas, o sujeito tenta divulgar o ocorrido, mas termina tendo sua família assassinada e sendo dado como morto. Além do trauma da perda, o protagonista ainda precisa lidar com os fantasmas de guerra, lembranças de quando matou em nome do país, muitas vezes de forma cruel e injustificada.
Parece que a Netflix, depois de ouvir muitos fãs reclamarem de alguns aspectos de Punho de Ferro, por exemplo, cuidou de cada detalhe dessa produção. Posso estar enganada, pois ainda não vi a temporada toda, mas me parece que eles foram mais zelosos no roteiro, tentando não deixar pontas soltas e cometendo menos erros de continuidade. Ficam claras as referências ao Ano Um e Burn, HQs muito boas do Justiceiro.
Destaco, ainda, a coreografia das lutas e as cenas de perseguição e tiro, ensaiadas e dirigidas impecavelmente. Frank Castle, apesar de ser meio pirado, conquista o público. Se o espectador não conseguiu entender muito bem sua história e motivações que o levaram a caçar bandidos, aqui fica explícito, como um soco na boca do estômago. Ele sente ódio e frustração o tempo todo, pois não importa o que faça, nada daquilo trará sua família de volta. E vemos as maneiras que ele arranja para lidar com toda essa raiva. Destaco que o ator Jon Bernthal está totalmente incorporado no personagem. Lembrando o óbvio, mas não custa dizer, a série tem censura 18 anos e possui sequências de violência extrema. Creio até mais que no Demolidor.
Karen Page (Deborah Ann Woll) é uma personagem que tem um certo envolvimento com o Justiceiro, fazendo aquela costura básica entre as séries. Gostei, porque quem estava fazendo essa “costura” até então era a Claire Temple (Rosario Dawson). Por isso a presença marcante da Karen Page aqui me surpreendeu. Aliás, essas duas atrizes são maravilhosas.
Outro ator que participa da série, e sou fã, é Daniel Webber (da minissérie do Stephen King 11.22.63, interpretando Lee Harvey Oswald, o cara que matou JFK), fazendo o papel de Lewis Walcott. Sua primeira aparição no piloto, entitulado “Três da madrugada”, ele participa de uma reunião de ex-militares que possuem traumas pós-guerras. Aliás, considero essa cena emblemática pois é uma clara crítica ao governo americano que não valoriza seus militares tanto quanto merecem. E tem mais: criticam a sociedade atual, que tem crise de identidade, pois ninguém mais quer ser o que é. Lewis, ao voltar para casa de seu serviço militar, não acha lugar na sociedade, e começa a se fechar para o mundo. O lance é tão depressivo e pesado que ele é a personificação do fundo do poço. O intuito é trazer desconforto para o espectador mesmo.
Verdade seja dita: o Justiceiro estava merecendo uma obra audiovisual decente. Lembrando que o antiherói já esteve em três filmes malfadados (em 1989, 2004 e 2008) e, ainda bem, o programa parece ser sério e à altura do personagem. O que acho interessante são as discussões políticas levantadas como a questão do desarmamento da população. Um exemplo disso é ver a até então indefesa Karen estar cansada de ser atacada por bandidos e agora andar armada. Esse paralelo entre ficção e realidade é o tempero da série. No mais, é aproveitar a sinfonia do sangue jorrando e ossos quebrando, como uma linda orquestra violenta.
Nota: 5/5