A ideia até poderia ser boa, mas falha muito em tentar ser hollywoodiano.

Quando saiu a notícia de que o cinema russo iria tentar reproduzir um filme de super-grupo, e foi divulgado até demais, não levei a sério, pois dava para ver pelo marketing que claramente era uma imitação mal feita de filmes americanos. Até que vi o filme: e descobri que é isso mesmo.
E digo mais: mesmo em toda sua limitação, acaba até sendo muito melhor do que muito filme de Marvel e DC por aí. É aquele filme que até a metade você está achando tudo muito ruim. A abertura lenta demais, e quando você acha que a abertura passou, ela volta. E o que mostra na abertura é contado em diálogos novamente por mais 10 minutos de uma sequência longa e que não acrescenta e nem desenvolve personagens, e depois no final do filme, essa mesma sequência de abertura é posta nos créditos.

E então o filme começa a seguir os vícios de roteiros de filmes de heróis americanos, a agência Patriot que precisa reunir os super-humanos criados na Guerra Fria para contra-atacar o ocidente, mas que o projeto foi desativado após o fim da Guerra e estes se espalharam, mas tiveram de ser reunidos, pois tem um vilão August Kuratov (Stanislav Shirin) – que é convenientemente o único dos super-humanos que tem a cara deformada, parece até o Sloth de Os Goonies – que tem poderes eletromagnéticos e não usa isto para atacar, mas somente para controlar as máquinas – é um típico Doutor Destino, mas que tem um plano muito melhor do que o Doutor Destino nos filmes do Quarteto Fantástico, mas que peca em tomar as decisões mais estúpidas. O plano é dele é retomar a guerra contra o ocidente – pra quê? Criar mais filmes de heróis, eu acho que a motivação é somente essa – usando um satélite russo criado secretamente para atacar durante a Corrida Espacial, mas que você descobre quando o roteiro decide que ele existe, e caso o ocidente descubra que a Russia tem um satélite mirado pra eles, toda relação vai por água abaixo. Genial?

Então corta para a sequência de apresentação e reunião dos personagens. Enquanto a agência comenta em narração e mostra a origem de cada um, eles são recrutados enquanto convenientemente faziam a coisa mais típica de suas vidas no exato instante. Neste momento somos apresentados a Ler (Sebastien Sisak), que tem o super-nome criativo Landman, um geomante que parece uma mistura de dobrador de terra do Avatar: A Lenda de Aang com o Coisa quando este usa a terra para criar uma armadura e que nunca usa este poder quando realmente precisa – ah, mas pra intimidar a chefe, ele usa! – e que a gente se questiona como que com tanto poder ele não faz muito mais do que ele mostra? Como por exemplo, criar um exoesqueleto em batalha para defesa e ataque.
Somos apresentados também ao personagem que também tem o nome mais criativo para um mongoliano: Khan Windman (Sanzhar Madiev), um personagem que mistura a essência de um guerreiro mongol com um ninja de G.I Joe e que inclusive tem uma origem parecida e é claramente o personagem mais letal do grupo, tanto é que ele é usado quase que nada no filme, pois se ele estivesse em cena, não teria mais ação, pois ele resolveria tudo – é tipo a Katana em Esquadrão Suicida que é apresentada no meio como a mais letal da equipe, mas não faz nada. Daí em uma sequência de infiltração, guardam ele para o final, pois é preciso mostrar a equipe trabalhando em equipe – mas sem ele. O terceiro membro é o Arsus Wildman (Anton Pampushniy), que seu nome significa claramente Homem-urso silvestre e ele é exatamente isto. Um homem que se transforma em urso e é o personagem mais russo do roteiro, com o poder de produzir calça usando o pelo em torno de suas pernas – eu tô falando, é brilhante! E tem uma origem a la Bruce Banner, e inclusive um dilema parecido, mas que não leva a nada.

A última personagem é a mais ridícula de todas, a Xenia Waterwoman (Alina LaNina) que tem o mirabolante poder se tornar invisível se em contato com a água, me lembrou aquele personagem do filme Heróis Muito Loucos, de 1999, que se torna em invisível somente quando ninguém está olhando. Ela claramente só está lá para ser a modelinho do filme, inclusive com algumas sequências que eles aprenderam com a Marvel, de mostrar a Viúva Negra sempre de costas primeiro. E então os personagens vão para sua primeira missão que claramente dá errado, porque subestimam o oponente e ainda não sabem trabalhar em equipe. O vilão usa todas as suas forças para capturar – e não matar – os heróis e deixa o membro mais forte solto, acreditando que tinha o destruído. É claro que eles se reúnem, pois o vilão não deixou se quer uma de suas máquinas mortíferas para proteger o covil. Mas não sem a ajuda, é claro, de um cientista que participou do projeto do vilão e nos conta o que não queremos saber, mas que para os personagens, parece informação útil. E então vamos lá salvá-los e impedir o mirabolante plano do vilão que é mudar uma antena de lugar – ele até faz uma remodelação bacana em Moscow, que poderia acrescentar muito ao turismo.
Bem como eu disse, o problema do filme é tentar ser americano, o terceiro ato é uma sequência de referências a Os Vingadores, – o vilão na torre usando a tecnologia para atirar um raio azul ao céu e a agência querendo atirar um míssil contra a torre, mesmo sabendo que os heróis estão lá, e o final com os heróis reunidos numa ponte, vestidos de civis, indo embora para cada lado com a recrutadora dizendo que vai precisar deles de novo – Tartarugas Ninja, – piadinhas no elevador, – Guardiões da Galáxia, – os heróis se reunindo para, de mãos dadas, usarem sua força para deter o inimigo inesperadamente – Transformers: O Lado Oculto da Lua, – tem uma sequência ali com os prédios caindo que eu acho até que reaproveitaram do filme do Michael Bay, sem falar na ligação com a Guerra Fria e a fotografia do filme inteiro – Capitão América: O Soldado Invernal – o major-general Nikolai Dolgov ( Vyacheslav Razbegaev) que faz um complô com o inimigo e é morto por isso, e você nem perceberia se eu não tivesse te lembrado – e se não podia ficar ainda mais estereótipo de filme de herói americano – tem pós-créditos, é claro!

O orçamento foi todo para o visual, e é realmente, é muito bonito, mas faltou investir em atuação, edição, sonorização e todo o resto que é o que realmente importa num filme. Faltou, para mim, mais referências da cultura russa, que gostaríamos de ver, – um presidente amigo dos pombos, cardeais do Kremlin, vodka e dragão assado no café na manhã, homem adulto nascendo do gelo – pois na verdade parece até um filme feito por americanos, mas daqueles de orçamento bem baixo. Era o que eu pensava, até eu ver a Xenia montada no Arsus totalmente transformado em urso portando uma metralhadora e foi aí que eu entendi: isso é Russia!
Nota: