O que dizer da série baseada em livro mais aguardada do ano?
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Para quem não sabe, – se você não acompanha a saturação de informações que a Terra Nérdica expôs sobre este seriado precisamente – American Gods é uma série encomendada pela rede Starz, uma concorrente da Netflix, mas bem parecida. Com aquele mesmo ritmo de oito episódios por temporada. O seriado adapta o livro Deuses Americanos do autor Neil Gaiman, responsável pelos quadrinhos do Sandman.
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É perceptível o amor por filosofia que tem Neil Gaiman, e sua relação com o mundo dos quadrinhos abriu sua mente para o que seria a inspiração para vários outros autores – cito, dentre eles, o próprio Rick Riordan, autor da série de livros infanto-juvenil Percy Jackson e os Olimpianos com similaridades como – deuses humanizados e vivendo entre humanos em plenos Estados Unidos do Século 21, um herói que descobre tudo junto com o público, personificações dos deuses relacionadas a elementos da Era Contemporânea, limitações criadas por territórios de deuses que não podem ser invadidos, um background mitológico onde tudo que acontece hoje é influência dos deuses, até mesmo as guerras, e por aí vai.
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Gaiman abre o livro com a pergunta Por que não existem santos na América? remetendo que todos os homens canonizados pela Igreja Católica são dos continentes antigos. E tal como nas histórias em quadrinhos que lemos, como as do Thor, Shazam, Mulher Maravilha, em que deuses existem e vivem até hoje e novos deuses nascem – os chamados super-heróis – adorados, cada um com sua atribuição, tal como também vimos em Hancock, outro filme provavelmente inspirado pela mesma ideia. Mas para tal, se existem tantos deuses, e de tantas culturas, e sempre surgem novos deuses, como é que o mundo não está lotado deles? A resposta é simples: imortais também morrem.
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Como também em outras obras recentes, Fúria de Titãs, Imortais, ou mesmo Thor e Mulher Maravilha, deuses são perpétuos enquanto existe alguém adorando ele. A partir do momento em que um homem começou a adorar o sexo, Afrodite saiu das bolhas quando o órgão reprodutor de outro ídolo do homem – o céu – entrou em contato com outro ídolo – o mar. E hoje, como o homem adora as máquinas, computadores, carros, televisões, não poderiam faltar deuses para tais como novo deus dos computadores e internet Technical Boy – estreante Bruce Langley – e a aterrorizante nova deusa da telecomunicação Mídia – Gillan Anderson, a estrela de Arquivo X – que se fortalecem com o sacrifício humano que é seu tempo vital gasto em adoração aos aparelhos . E os antigos, esquecidos, que não se adaptam a sustentar-se de maneiras humanas, ao contrário de Anubis – Chris Obi – que usa seu conhecimento de mumificação para abrir uma funerária de sucesso, enfraquecem até morrerem de velhice e serem esquecidos para sempre.
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A série, trazida pela equipe responsável por Pushing Daisies, que tem uma colorização e ritmo parecidos, aborda questões filosóficas, mas com entretenimento e ação para adultos, acompanhando a aventura do mortal clarividente Shadow Moon – Rick Whittle, conhecido pelo seriado The 100 – leia aqui as primeiras impressões da série com a análise dos primeiros episódios e comparação ao livro – um homem que perdeu tudo. Começa sua jornada solitário e aberto a novas possibilidades, tal como qualquer herói dos mitos antigos. Shadow, sem saber, acaba caindo no meio de uma iminente guerra definitiva pela sobrevivência dos deuses, de um lado, os antigos deuses que buscam reconquistar seu espaço, e do outro, os novos deuses tentando manter-se populares. Em certo momento da trama, você começa a se questionar – qual lado é o certo mesmo? Pois vemos do ponto de vista de Shadow Moon, que acompanha Mr. Wednesday, – Ian McShane, o Barba Negra de Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misterioas – o misterioso líder dos antigos deuses – leia aqui se quiser saber quem é cada um dos deuses – e vemos os novos deuses como inimigos, mas será que são mesmo?
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Cada lado tem sua sujeira, tal como os novos deuses tem planos malignos que envolvem o extermínio de uma nação inteira simplesmente para perpetuar o nome de um aliado, mas também os antigos deuses com planos que envolvem gerar a fome, simplesmente para que os mortais passem a clamar por eles novamente. Deuses que se diziam amigos e cortam a cabeça um do outro. Não existe lado bom, pois tudo se trata de um conflito de interesses, em que cada lado não tem escrúpulos desde que mantenha seu nome no auge, não é a toa que existem personagens que mudam de lado, dentre eles o, criado para a série o deus armeiro Vulcan, – Corn Bernsen, conhecido por L. A. Law – que tem seu auge na América do Século 21 por conta da adoração dos norte-americanos às armas, e portanto, sem interesse em aliar-se aos antigos deuses, e também a súcubo Bilquis – a maravilhosa atriz nigeriana Yetide Badaki – que perdeu força após a criação do medo das doenças sexuais, e quase que a deusa primavera Easter – Kristin Chenoweth conhecida por Pushing Daisies e Glee, que encerrou a temporada resolvendo seus conflitos causados pelo ciúme ao engrandecimento messias Jesus Cristo, – Jeremy Davies, o Daniel Faraday de Lost – que é hoje conhecido como a principal entidade da Páscoa e ganhou para a série uma importância muito maior do que foi dada no livro.
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Apesar, Mr. Wednesday mantem a vantagem com Shadow Moon a seu lado, pois tem a partir dele um crente, que pode, porém, se balancear com as circunstâncias do acidente que causou a morte de sua esposa Laura, – Emily Browning, a eterna Violet Baudelarie do filme Desventuras em Série – que agora retornou a vida e, acompanhada do leprechaun Mad Sweeney – Pablo Schreiber, conhecido por Orange is the New Black – tem o propósito de proteger Shadow e expor a ele toda a verdade sobre seu novo chefe.
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O seriado aparentemente dividiu o livro em três partes, para termos três temporadas, pois a história é um volume único de vinte capítulos, mas a adaptação, com roteiro do próprio Neil Gaiman, transporta fielmente o texto para tela, mas com uma liberdade criativa que leva a série a novos caminhos para serem explorados pelo autor. Com um ritmo que começou bem lento e estranho para o público no primeiro episódio, mas que melhorou a cada semana que se passava, abordando questões filosóficas como a importância da fé para o ser humano e a relatividade da vida e do tempo, porém encontrando seus baixos, mas terminando muito bem com uma deixa para segunda temporada onde – quem já leu o livro – vai entender muito bem a referência. Esperamos que a próxima temporada mostre muito mais da mitologia do livro, pois ainda existem muitos personagens para aparecer e muita ação para acontecer. A guerra definitiva dos deuses acaba de começar.
Nota: 4/5.
