Cinco mil passageiros estão em uma gigantesca nave, hibernando, em uma viagem espacial da Terra para outro planeta similar e que durará 120 anos. No meio do caminho, ocorrem falhas na nave, acordando um dos passageiros, Jim Preston (Chris Pratt) 90 anos antes do término da viagem. Essas falhas vão ficando cada vez mais críticas, fazendo com que a missão agora seja muito mais preocupante: salvar a vida de toda a tripulação.
Olhando essa sinopse, você imagina: “Ah, o roteiro não é muito original, mas deve ser um bom filme de ficção científica”. É aí que você se engana. Ao ver ontem o filme Passageiros em sua estreia no Brasil, cheguei a conclusão de que essa não é a trama principal do longa, servindo apenas de pano de fundo para o romance entre Jim e Aurora Lane (Jennifer Lawrence), outra passageira da nave.
Ao acordar, ela começa a interagir com Preston e com o adorável androide Arthur (Michael Sheen) que é o garçom do bar da espaçonave, uma espécie de Wilson do filme Náufrago, mas com uma inteligência artificial muito eficiente, a la Westworld, da HBO. A interação do casal, o momento da briga e de reconciliação (que é a estrutura narrativa de qualquer filme de romance) estão lá, com todos os clichês que já conhecemos, mas que funciona muito bem.
Eles têm química, se duvidar chega aos pés da infalível química entre ela e Bradley Cooper. Esse casal já atuou juntos em quatro filmes durante quatro anos seguidos e foram muito bem sucedidos. Não me espanta contrarem os dois para fazerem um longa juntos já que Pratt está tão na crista da onda de Hollywood quanto ela. Resumindo, um casal que eu gostaria de ver de novo fazendo um outro filme.
No trailer, você até imagina que alguns momentos poderiam ser parecidos com Gravidade ou Interestellar. Muita gente ao ver o filme se sentiu enganada porque Passageiros não tem nada disso, não é nem um pouco científico. O foco está, além do romance, em discutir questões morais. Nesse quesito, o filme foi bem sucedido.
— Alerta de spoilers —
No entanto, a falta de explicação científica para algumas coisas me deixou intrigada. Por exemplo, se durante toda a viagem ninguém deveria acordar, por que a nave avisa aos dois que estão chegando perto de uma estrela parecida com o Sol? Outra: como plantar uma árvore no meio das ferragens de uma nave? Será que isso foi uma tentativa frustrada de dar vida em um lugar inóspito? E sem explicação científica, de novo. Não é como plantar batatas em Marte, como se vê em Perdido em Marte (muito bom esse longa com Matt Damon, por sinal). E outra, como um trage de astronauta aguentaria tanto calor, em uma temperatura tão absurda que estava destruindo uma nave com uma estrutura super forte?
— Fim dos spoilers –
Esses e outros furos do roteiro estragam um pouco a experiência de assistir ao filme. Enfim, é um bom romance no espaço, mas não é nem um pouco bom no quesito ficção científica. Portanto, se leu essa crítica e se interessou mesmo assim pelo filme, assita, porque o objetivo de entreter descompromissadamente, pelo menos, é atingido. Principalmente pelas cenas mais leves e cômicas. Ah, a minha nota está muito equiparada a do IMDb, que deu 7,1.
Nota: 3,5/5