Existem coisas na vida que acontecem e que não parecem ter muito sentido – e na real, vamos admitir: de verdade não tem mesmo. Nós só aceitamos, pois fomos ensinados a acreditar que a vida segue uma série de ordens sem sentido e que isto de alguma forma é normal. Porém, quando algo foge da ordem sem nexo das coisas e passa a fazer algum sentido, gera uma certa estranheza para o nosso cérebro conformado.
E foi assim que aconteceu. Quem me conhece, sabe que eu sou uma pessoa que raramente clico para assistir algo que não conheço ou que não ouvi falar sem antes procurar saber do que se trata ou se é bem avaliado, mas quando por coincidência – ou não – eu estava com a página inicial do Netflix aberta, após assistir um episódio da segunda temporada de Flash, e apareceu o pôster-anúncio do novo seriado com Elijah Wood – o Frodo de O Senhor dos Anéis – e um britânico que me lembrou personagem de Dr. Who, eu pela primeira vez me vi na sensação que muitos tem de clicar para ver simplesmente o que primeiro aparece no catálogo e avaliar por si mesmo e é exatamente sobre isso que a série trata. De cara já me pegou com a cena inicial – um estranho cenário de homicídio num quarto de hotel, com sangue espalhado para todo lado, membros humanos, marcas de queimaduras e mordidas de um animal grande em um maravilhoso plano-sequência que termina com um gato preto saindo do banheiro e sendo recolhido por um homem de pé.
É daí que entramos na vida de Todd Brotzman (Elijah Wood), literalmente um ferrado da vida que trabalha como carregador de malas num hotel de luxo e acaba sendo quem descobre a cena do crime, o que atrapalha sua – não tão sucedida – carreira, que dependia da posição que tinha para sustento não só dele, mas também da sua irmã Amanda – interpretada pela jovem atriz Hannah Marks na qual me apaixonei na série, e ainda mais quando descobri que tem a minha idade. E nesse estado da vida, sem rumo é que Todd conhece Dirk Gently (Samuel Barnett), um detetive britânico que se auto proclama um holístico – pessoa que é carregada pelo destino para onde o universo precisa – o que faz sua cabeça explodir quando chega a abertura e você percebe que está assistindo a uma obra de Douglas Adams, autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias e vários episódios de Dr. Who.
O enredo pode não parecer atraente, até que você descobre todas as camadas por de baixo da trama principal – e qual é a trama principal? O curioso caso da família Spring, o sequestro de Farah Black (interpretada pela maravilhosa atriz estreante Jade Eshete), e toda a relação que envolve o CSI, o FBI, a CIA, um grupo de fanáticos que tem a ligação mais bombástica com A Vida, O Universo e Tudo Mais (referência de O Guia do Mochileiro das Galáxias), fantasmas, viagem no tempo, o cômico grupo de vampiros arruaceiros, a misteriosa doença paralibulitus e uma dupla de assassinos que é movida pela Praticamente Inofensiva super-máquina chamada Planeta Terra.
Tudo isto numa perfeita sintonia onde você começa irritado pela repetição da frase everything is connected (tudo está ligado) e até o último episódio você se surpreende tanto com a relação inimaginável de tudo, típica de um enredo de Douglas Adams, e no final se pega dizendo para todo mundo em sua vida, onde quer que você for, que everything is connected, tudo está ligado, eu sou um holístico, a vida, o universo e tudo mais é quem me guia, terminando a série também com um perfeito cliffhanger para a segunda temporada, muito mais explode-cabeças do que o final de Stranger Things – última série da Netflix que liderou visualizações – e fazendo qualquer fã de Douglas Adams brilhar os olhos por ver seu universo expandindo-se para as telinhas, na esperança de que tudo culmine na já anunciada série baseada na franquia do Guia.
Nota: 5/5.