Esta resenha pode possuir spoilers, mas não falará além do necessário pois a intenção e que você queira ler o livro.
Escrito por 加布瑞埃拉·泽文 (Gabrielle Zevin) e lançado no Brasil em setembro de 2022 pela editora Rocco, “Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã“, conta a história de dois amigos que se unem em uma parceria criativa na indústria dos videogames.
Sinopse
Em um dia congelante de dezembro, no seu terceiro ano em Harvard, Sam Masur sai do metrô e vê, entre uma horda de pessoas esperando na plataforma, Sadie Green. Ele a chama. Por um momento, ela finge não ouvir, mas então se vira, e um jogo começa: uma colaboração lendária que vai levá-los ao estrelato. Esses amigos, próximos desde a infância, pegam dinheiro emprestado, pedem favores e, antes mesmo de se formarem, lançam seu primeiro sucesso, Ichigo. De um dia para o outro, o mundo é deles. Com menos de vinte e cinco anos, Sam e Sadie são brilhantes, bem-sucedidos e ricos, mas essas vantagens não vão protegê-los de suas próprias ambições criativas e das traições do coração.
Abarcando mais de trinta anos da vida dos protagonistas, de Cambridge à Califórnia, passando por lugares distantes, reais e virtuais, Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã é uma história intrincada, imaginativa e tocante que examina a natureza múltipla e complexa de nossos fracassos, identidades e deficiências, das possibilidades redentoras dos jogos e, acima de tudo, de nossa necessidade de conexão, de amar e sermos amados. Sim, é uma história de amor, mas diferente de tudo que você já leu.
Resenha
A história acompanha principalmente a amizade cheia de altos e baixos de Sam e Sadie desde os 12 e 11 anos até a faixa dos 35 e 36, aproximadamente. Sam e Sadie se conhecem no hospital, mais especificamente na sala de videogames, e o amor em comum pelos jogos é a conexão para o nascimento de uma amizade. Devido a um desentendimento, eles param de se falar ainda crianças e se reencontram por acaso após seis anos em uma estação de metrô, onde novamente o amor pelos jogos reconecta os dois.
O livro é escrito em terceira pessoa e em alguns momentos parece ser contada de um ponto de vista jornalístico, de alguém que ouviu cada um deles ou esteve presente o tempo inteiro e após o fim.
A história é para quem ama videogames, assim como os personagens, o processo criativo e todos os conflitos de se trabalhar em equipe é o principal assunto da primeira metade do livro. Para alguns essa narrativa pode acabar sendo um tanto cansativa, e se você por acaso for parte desse público, peço que insista na leitura, nas páginas subsequentes você irá encontrar um livro sobre relações humanas e sentimentos intensos.
Assim como na vida, há também os personagens que rodeiam a vida de ambos, Marx, o colega de quarto de Sam, Dov, professor de Sadie, Freda, avó da Sadie, Dong Hyun, avô de Sam.
Uma das primeiras passagens que me fez ler e refletir é uma fala de Marx para Sam:
Amizade é como ter um Tamagotchi.
(Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã, Gabrielle Zevin)
Marx, mostra-se um personagem que deixa de ser coadjuvante com o passar da história, ele é o fio de energia que liga Sam e Sadie para que as coisas funcionem corretamente. Talvez ele tenha sido meu personagem favorito no livro e talvez a intenção da autora era que de fato ele se tornasse um personagem bastante querido.
O avô de Sam [Dong Hyun] tinha duas crenças centrais: (1) todo mundo era capaz de aprender qualquer coisa; e (2) qualquer coisa podia ser consertada se você tirasse um tempo para descobrir o que estava quebrado.
(Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã, Gabrielle Zevin)
A ancestralidade e a familia são tópicos presentes em diversos momentos da história, seja de um jeito bom ou ruim. A abordagem sobre família traz reflexões, e mostra que família vai muito além de laços sanguíneos.
O livro de Gabrielle Zevin traz diversos temas universais e importantes pra dentro da trama com naturalidade. Aborda a deficiência física de modo ambientado e contextualizado; relações abusivas e dependência emocional; o perigo do acesso às armas e as consequências letais dessa política; relacionamentos homoafetivos e a injustiça envolvendo a impossibilidade de casamentos na Califórnia entre casais do mesmo sexo; depressão e saúde mental, entre outras questões. Mesmo que pareça que são muitos temas a serem abordados, eles são pequenas partes do enredo ou características dos personagens, então em nenhum momento a história força para um ou outro assunto, ao mesmo tempo em que trata de todos eles de forma verossímil e séria.
– O que é um jogo? – Quis saber Marx. – É amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã. É a possibilidade de renascimento infinito, de redenção infinita. A ideia de que, se você continuar jogando, pode ganhar. Nenhuma perda é permanente, porque nada é permanente, nunca.
(Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã, Gabrielle Zevin)
Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã, é um livro que usa o universo dos jogos pra levantar questões sobre a imprevisibilidade da vida, sobre as mudanças de percurso e sobre a força de recomeçar. Todo dia é uma oportunidade de apertar o botão “reiniciar” e recomeçar do último checkpoint.
Lembre-se minha Sadie: a vida é muito longa, até não ser mais.
(Amanhã, Amanhã, e ainda outro Amanhã, Gabrielle Zevin)
Amanhã, amanhã, e ainda outro Amanhã está em processo de adaptação para o cinema pela produtora Temple Hill e pelo Paramount Studios.