Então, finalmente assisti a Megatubarão 2 (Meg 2: The Trench), e não tinha a intenção de fazer um review do filme. No entanto, devo admitir que fiquei um pouco desapontado.
O primeiro filme me pegou de surpresa, pois era uma mistura épica de ação, ficção científica, suspense submarino e comédia que realmente me cativou. O trailer do segundo filme também vendeu essa mesma ideia, então vocês podem imaginar minha surpresa quando assisti ao filme e percebi que todas aquelas cenas engraçadas do trailer eram, na verdade, cenas sérias e sombrias no filme. Fiquei pensando: “Mas como assim? Esse não foi o filme que me venderam!” Não foi culpa minha esperar um filme um pouco mais voltado para a comédia, e acredito que a culpa recaia na estratégia de marketing, já que, pelo que descobri, foi realmente intenção que este segundo filme fosse um pouco mais sombrio que o primeiro.
Portanto, decidi pesquisar se a intenção original do primeiro filme era ser uma comédia ou se isso acabou acontecendo por acaso e descobri que ambos os filmes são baseados nos livros do autor Steven Alten, que são livros de terror dos anos 90, seguindo a tendência da época de filmes de terror com animais gigantes, como aranhas gigantes, vermes gigantes, lulas gigantes, etc. Megatubarão foi concebido desde o início como um projeto para se tornar um filme pela New Line, o que acabou demorando muito tempo – porque os livros são ruins, já adianto.
Quando o diretor do primeiro filme, Ben Wheatley, assumiu o projeto, sua intenção era fazê-lo como uma comédia exagerada, no estilo de Sharknado ou Piranha 3D, que estavam em alta naquele momento. No entanto, o ator de ação Jason Statham, escalado para interpretar o protagonista Jonas Taylor, insistiu em um tom mais sério para o filme, ou pelo menos para seu próprio personagem, para que ele continuasse a ser o herói de ação que estamos acostumados a ver, mesmo que seus personagens raramente sejam completamente sérios.
Essa abordagem funcionou muito bem! O filme não se tornou uma comédia exagerada, mas sim um filme de ação, ficção científica, com elementos de suspense e um toque de comédia, tudo equilibrado de forma surpreendente. Eu estava esperando que o segundo filme seguisse ainda mais nessa direção, talvez até menos sério, já que isso foi o que tornou o primeiro filme tão divertido, mas não foi o caso. Então, decidi dar uma olhada nos dois livros, The Meg e The Trench, e descobri que os filmes misturaram elementos de ambos os livros, melhorando a história no processo. Pontuarei aqui as principais diferenças, mas também algumas semelhanças dos dois filmes para com a série de livros.
1 – A motivação de Jonas
Para começar a destacar as diferenças, para quem não se lembra ou não viu, o primeiro filme começa com o personagem Jonas Taylor, um mergulhador aposentado, sendo chamado para uma missão de resgate nas profundezas da Fossa das Marianas, onde uma expedição enfrenta um possível ataque de uma fera marinha que ele havia alertado previamente sobre. A bordo do submarino, está sua ex-esposa, Lori (Jessica McNamee), e é isso que o convence a sair da aposentadoria e resgatar a expedição. Aqui já surgem algumas diferenças em relação ao livro, pois a relutância de Jonas em retornar ao mergulho é uma característica do segundo livro, onde ele está traumatizado pelos eventos do primeiro.
No primeiro livro, Jonas também se afasta de sua esposa, Maggie, mas por motivos mais egoístas, já que ele passa anos tentando provar que estava certo, o que, curiosamente, também o motiva a mergulhar e resgatar a expedição. Ao combinar a motivação do primeiro filme com o background do segundo livro, o personagem se torna mais heróico, uma alteração intencional que melhora o personagem em relação ao livro, uma vez que suas motivações eram menos altruístas. Essa é uma das áreas em que o filme se destaca em relação à obra literária.
2 – Reorganização de cenas
Outras diferenças significativas incluem o momento em que, no livro, logo após saírem da Fossa, são surpreendidos por um ataque de um tubarão macho, seguido imediatamente por um tubarão fêmea muito maior. No filme, essa surpresa acontece mais para a metade da trama, o que, apesar de ser previsível, torna-se mais chocante por terem guardado essa reviravolta até então. Inicialmente, o público vê apenas um tubarão, que acaba sendo morto, e só depois é apresentado ao tubarão fêmea devorando o tubarão macho que haviam capturado. Essas cenas estão presentes no livro, com o tubarão fêmea chegando e devorando o tubarão macho que os atacava, mas no livro, isso ocorre logo no início, pouco depois de saírem da Fossa. Portanto, o filme também melhorou nesse aspecto.
Outras mudanças que se destacam no filme envolvem a personagem oceanógrafa Suyin (Li Bingbing), que é filha do biólogo Zhang (Winston Chao). No filme, Suyin entra na jaula para atrair os tubarões, marcá-los e ajudar a rastreá-los, visando eliminá-los antes que se tornem uma ameaça maior. No livro, a personagem Maggie faz algo semelhante, mas com o objetivo de filmar a Meg, usando baleias como isca. No entanto, essa cena no livro ocorre depois que o tubarão já passou pela costa, matando centenas de banhistas e causando estragos, o que torna a atitude de Maggie um tanto insensível, sendo punida com sua própria morte quando a Meg a ataca então. Eles reorganizaram essa sequência, tornando o ataque aos banhistas a cena final, o que cria um clímax muito mais intenso. A corrida contra o tempo para impedir o tubarão de matar os banhistas e a batalha final contra o tubarão dão um tom mais dramático ao desfecho.
Além disso, no filme, eles utilizam tubarões menores, , em vez de baleias, e iscas de carne ao redor da gaiola para atrair o Meg. A baleia é usada em outro momento da trama, quando o investidor Morris (Rainn Wilson) decide caçar a Meg por conta própria, a fim de evitar que as autoridades descubram o erro cometido pela Mana Um e fechem o projeto, o que resultaria na perda dos milhões de dólares investidos.
O personagem do investidor foi inspirado em um personagem do segundo livro, o magnata Benedict Singer, que adquire o Instituto Oceânico, uma trama que também foi incorporada no segundo filme com a personagem da Hilary Driscoll (Sienna Guillory), uma bilionária que financia o Instituto Oceânico, apesar de ser uma magnata de energia. A baleia, então, no filme, é usada como distração pela Meg, já que os humanos a matam acidentalmente, achando que haviam derrotado a criatura, tornando-se assim uma isca usada pelo próprio tubarão, que acaba devorando o investidor.
3 – Jonas sendo Jonas
Outra mudança notável diz respeito à forma como Jonas mata a Megalodon no final do primeiro filme. Ele acaba enfiando um arpão no olho da Megalodon enquanto esta salta, depois de afastá-la de devorar vários banhistas na costa. No livro, a cena não ocorre na costa, mas em alto mar, e Jonas decide usar uma abordagem ousada, mostrando por que o autor lhe deu o nome do personagem bíblico, navegando dentro do Megalodon com seu submarino e inflamando óleo de baleia para provocar uma explosão interna que destrói a Megalodon. Ambas as maneiras são igualmente absurdas para sobreviver, então a gente só releva.
4 – Início no Período Cretáceo
O segundo filme, por sua vez, inicia com uma cena no período Cretáceo, onde vemos um Tiranossauro caçando pequenos dinossauros anfíbios chamados ichthyostega, apelidados de Snappers. Ao adentrar o mar, o Tiranossauro é morto por um megalodon. Essa cena é inspirada no começo do primeiro livro, porém, em vez do Tiranossauro, era um grupo de shantungossauros que estava sendo caçado. Portanto, ao utilizarem o contexto do início do segundo livro para o começo do primeiro filme, a cena inicial do primeiro livro se torna o ponto de partida do segundo filme.
5 – “007 Verde”
No segundo filme, há uma inovação ao retratar Jonas ainda mais como um herói de ação, envolvido na luta contra crimes ambientais, e ele até ganha o apelido de “007 verde”. Em contrapartida, no livro, ele se concentra principalmente em continuar auxiliando a Mana Um e o Instituto Oceânico, uma característica que também é preservada no filme.
6 – Jonas pai de adolescente
Outro aspecto que o segundo filme aproveita é a história de Jonas tendo uma filha adolescente com quem ocasionalmente tem desentendimentos. No filme, essa filha é Meying, a mesma criança do primeiro filme, filha de Suyin, com quem Jonas se casa em algum momento entre o primeiro e o segundo filme. No entanto, no livro, Danielle é filha de Terry, que inspira a Suyin do filme, com quem Jonas também se casa. Porém, os filhos de Jonas com Terry só aparecem no terceiro livro.
7 – A filhote de Megalodon
O segundo filme também se aproveita de um plot deixado em aberto no final do primeiro livro, que continua no segundo livro. Trata-se do casal de megalodons que deixou para trás uma filhote, chamada Angel no livro e Haiqi no filme. No enredo de ambos, eles acabam acolhendo a filhote e a criando em cativeiro no Instituto Oceânico. No entanto, em determinado momento, quando a filhote já está crescida e no período de acasalamento, ela foge e parte em direção à Fossa das Marianas para procriar.
8 – A maracutaia
Outro detalhe que o segundo filme realmente adapta do segundo livro é a descoberta de um laboratório secreto e as tramas do novo investidor para adquirir combustíveis fósseis, que acabam criando uma abertura na termoclina. Ele então toma medidas para eliminar a equipe da Mana Um, a fim de culpá-los como bode expiatório. A parte em que os vídeos das câmeras de segurança são editados para encobrir as sabotagens também é uma trama presente no segundo livro.
9 – Dinossauros aquáticos
Outro detalhe que o segundo filme também incorpora do segundo livro é a introdução de novos dinossauros que acabam causando a morte de vários antagonistas. No livro, esses dinossauros aquáticos recém-descobertos são conhecidos como cronossauros. No filme, porém, eles são substituídos pelos snappers da cena inicial. Os cronossauros desempenhavam um papel crucial na eliminação de vários personagens inimigos, mas essas cenas ocorrem no mar. No filme, esses dinossauros aparecem apenas no terceiro ato, quando os personagens visitam uma ilha de veraneio.
É nesse momento que ocorrem as mortes de banhistas, repetindo a dinâmica do terceiro ato do primeiro filme, juntamente com o ataque de vários megalodons e do Kraken. Essas cenas foram criadas para dar ao segundo filme um clímax emocionante, com os monstros atacando banhistas e os protagonistas correndo para salvá-los. Isso acabou melhorando significativamente o filme, que estava ficando um tanto monótono até então, com a maior parte da trama se passando na Fossa, que é o título do filme, ao contrário do segundo livro, que tem esse título, mas se desenvolve principalmente em alto mar, assim o filme fazendo bem mais sentido que o livro.
10 – Megalodons livres no Oceano
Outro aspecto do segundo filme que é aproveitado do segundo livro é o fato de, no final, eles serem salvos pela filhote de Megalodon que criaram em cativeiro. O problema é que ela eventualmente fica livre, pois estava claramente infeliz sendo mantida em cativeiro. No final do livro, a filhote de Megalodon também é vista tendo seus próprios filhotes, e o segundo filme sugere que ela também terá filhotes, o que significa que agora há bebês Megalodons crescendo no oceano. Este final em aberto é bem semelhante ao final do segundo Jurassic World, que também deixa em aberto que os dinossauros agora estão se espalhando pelo mundo. O terceiro livro The Meg também se passa muitos anos depois e com os megs já povoando o oceano.
Essas são todas as semelhanças e diferenças entre os dois filmes de Megatubarão e seus respectivos livros. Se você gostou, tem algo acrescentar ou corrigir, deixe aí nos comentários e sugira também mais assuntos para que eu traga aqui.