Alucinação Fatal (Mercy Black, no original) possui uma das aberturas mais chamativas já presenciadas em filmes de terror, mas será que o resto faz jus a esse início?
Apesar de ter chegado recentemente na Netflix, o filme teve sua estreia em março de 2019 nos cinemas. Tal anonimato, até então, só mostra o quanto a plataforma de streaming consegue popularizar qualquer tipo de produção. Embora tenha figurado o “Top 10 no Brasil hoje” em sua estreia na plataforma, Alucinação Fatal não agradará grande parte do público, mesmo não sendo tão ruim assim.
Sinopse: Após ter passado 15 anos no sanatório, Marina volta para casa indo morar junto à sua irmã e sobrinho. Ao retornar, uma entidade começa a se manifestar. Caberá a Marina tentar salvar sua família e resolver suas pendências do passado.
A direção de Owen Egerton (Festival Sangrento, 2018 e Perseguição Virtual, 2014) consegue um feito muito louvável, uma abertura de filme enigmática e chamativa. Os minutos iniciais da obra te prendem de uma forma muito singular, lhe dando aquela sensação de “agora vai! Agora vou ver um filme bom!”. Um início impactante o suficiente para querer entender mais as motivações por trás dos atos dos personagens.
Arrisco dizer que esse sentimento se estende até o final. Toda as dúvidas envolta do passado de Marina mostrados em pequenos fragmentos são suficientes para querer ver o final dessa história, e tentar entender o que de fato aconteceu/acontece ali.

Marina Hess, interpretada por Daniella Pineda (Jurassic World: Reino Ameaçado, Cowboy Bebop 2021) é uma personagem muito boa. Você sente toda a desatualização, assim como inocência, de uma pessoa 15 anos confinada e “isolada” do mundo. Alice Hess (Elle LaMont) convence como irmã mais velha e protetora. Bryce Hess (Miles Emmons) convence como filho gradualmente estranho e obcecado pelo passado da tia.
Se até agora só falei coisas boas, como esse filme pode ser de ok para ruim? Bem, voltemos ao Owen Egerton. Escrito e dirigido por Owen, Alucinação Fatal carece de um desenrolar tão impactante quanto seu início. Após as cenas iniciais você aguarda um filme denso, misterioso, um verdadeiro quebra cabeças para ir encaixando as peças aos poucos. O problema é essa densidade diluir tanto quanto um café ralo.
A ambientação do filme é propícia para render boas cenas de terror: casa de campo isolada com floresta nas proximidades. Contudo, temos uma má utilização desses elementos na trama. Das seis locações presentes, apenas uma de fato é explorada, as outras ficam jogas ao vento. Uma tensão natural emana desses lugares e a direção até consegue criar bons momentos em certas situações, mas como se está procurando o impacto inicial, todo o resto é só legalzinho, sobrando apenas aquele sentimento de “beleza… e o que mais?”.
Se eu falar toda história do filme a vocês com certeza acharão bom, mas se virem a construção disso na obra se decepcionarão. O clímax final é bem mais ou menos, contribuindo ainda mais para o sentimento de diluição de coisas positivas. Entretanto, não considero esse filme ruim, vide bombas como Espiral (2021), Halloween Kills (2021), Rogai Por Nós (2021), Mudança Mortal (2021), Sem Conexão: Parte 2 (2021), entre MUITOS outros.
Não obstante temos um plot twist bem orquestrado, mas que perde força rapidamente pelas cenas posteriores. Isso me leva a questionar se essa é uma característica do diretor ou se ele cometeu esses deslizes exclusivamente neste obra. O filme tem elementos muitos bons a serem trabalhados, mas infelizmente não alcançaram seu ápice, deixando o público sem entender em qual parte o interesse foi perdido.
Em Alucinação Fatal ao menos nos é fornecido momentos realmente tensos, apesar de poucos. No geral temos uma trilha sonora esquecível, bons personagens, ambientação ruim, construção de desconforto legal, sustos medianos, premissa excelente e desenrolar pífio.
Curiosidade:
Esse filme foi inspirado em uma história real de 2019 nos EUA, tendo envolvimento direto a figura da creepypasta, Slander Man (revelar mais informações seria spoiler, desculpe 😁).