Posso dizer que a opinião das pessoas que foram questionadas sobre filme ao término da sessão foi unanime:
– Chocante.
”Querido Evan Hansen”, assim começa a carta de Evan Hansen, interpretado por Ben Platt, ator original da peça da Broadway e que permaneceu como escolha para o filme. A peça foi inspirada num livro escrito por Steven Levenson, que a partir de uma carta feita como exercício de terapia, contendo um desabafo de um jovem depressivo e com tendência suicida, acaba sendo roubada pelo bully da escola, Connor, e encontrada com ele pelos próprios pais após seu suícidio. Os pais de Connor então decidem descobrir quem é Evan Hansen, já que seu filho Connor não tinha amigos, mas escreveu uma suposta carta que começa ”Querido Evan Hansen”, qa tal carta roubada no inicio do filme.
Ao decorrer do filme, Evan conta mentiras sobre sua suposta amizade com Connor , e antes algo que nasceu inocente, apenas para tentar confortar a Sra Murphy, logo vira algo maior que acaba unindo a familia e incluindo Evan nela, mas uma mentira é sempre uma coisa complicada e fácil de se perder o controle. É quando entra a jovem Alana, líder de vários grupos escolares e que tinha uma paixão secreta por Connor. Alana luta para manter sua memoria viva, criando assim uma iniciativa para pessoas que sofrem de depressão, convencendo Evan, que supostamente seria o melhor amigo de Connor, a impulsionar isso em nome dele. Mais uma vez por um motivo nobre, mais mentiras são contadas. Você afunda na cadeira de nervoso profundo e a atuação de Ben transmite todo desconforto possível, seja cantando, chorando ou mentindo.
Quando recebi o convite para assistir, eu não fazia ideia de que era baseado em um musical da Broadway, e muito menos que mantiveram o formato de musical no filme. Isso traz estranheza e menos aceitação, não sò na minha opinião, mas também nas que ouvi ao término da sessão. Se tratando de um tema delicado e triste, podem imaginar o choque que é ouvir diálogos sobre suicídio, embalados por um musical com uma música contagiante logo de inicio usando o jovem Connor já pós a sua morte?
A cada momento tenso e triste lá estava uma musica, que quando soava os primeiros toques me faziam afundar na cadeira pedindo ”Por favor, não começa uma música agora…”, porém, inevitável, você está em um musical.
Particularmente tive muita dificuldade com o filme. Era como estar assistindo um extremo desrespeito ao tema. Mas o filme vai amenizando essa sensação ao tentar abordar de uma forma menos convencional, mais natural e por vezes mais leve esse tema frágil, mostrando como o diálogo escapa entre casais, amigos, mãe e filho. Pessoas que se veem todos os dias e não conhecem as cicatrizes uma das outras. Falta de diálogo por medo de ser julgado ou incompreendido e a maior mensagem que o filme tenta passar é que ninguém está sozinho, independente de como as pessoas escolham lidar ou esconder suas dores. Um filme forte e muito emocionante, eu não parei de chorar e toda a sessão estava chorando quase que o filme inteiro.
Ao sair da sala, fomos convidados a falar o que achamos, e pela primeira vez todos pararam pra debater seus pontos de vista, falar mais sobre si e até fazer amizades. (Bem, essa pessoa mais ousada fui eu)
Me surpreendi com as pessoas que estavam lá; desde os desavisados aos mais avisados. O dublador de Evan estava lá e nos convidou para assistir a versão dublada. Um rapaz que tinha visto a peça em 2013 na Broadway e apontou todas as principais diferenças no roteiro. Um entusiasta do musical, indignado pelo atraso na estreia que seria no Setembro amarelo, mas que elogiou que o filme conseguiu criar um final mais tocante e bem amarrado. Um outro entusiasta de musicais que defende que essa é a magia do musical: Transformar tristeza em alegria, peso em leveza, e que isso não é pra todo gosto.
Enfim… Querido Evan Hansen estreia amanha, dia 11 de Novembro de 2021, leve lenços, você vai precisar.