O Esquadrão Suicida, ou Força Tarefa-X, é um super-grupo de anti-heróis da DC criado por Robert Kaningher e Ross Andru em 1959 na revista Os Bravos e Destemidos edição 25 e recriado por John Ostrander em 1986 na revista Lendas da DC Comics edição 3. Esta versão moderna do grupo, reunida por Amanda Waller, sob o comando do Coronel Rick Flag, contava com personagens como o Pistoleiro, Capitão Bumerangue, Magia, e outros. Houve um encarnação ainda mais moderna, em 2011, com o reboot dos Novos 52, que inseriu a Arlequina e o Tubarão Rei, entre outros. Esta fez um enorme sucesso nos quadrinhos e inspirou, além a animação Batman: Ataque ao Arkham (2014), aparições no Arrowverso, além de um filme do Universo Animado Compartilhado da DC, Esquadrão Suicida: Acerto de Contas (2018) e o primeiro filme live-action da equipe em 2016, dirigido por David Ayer.

O filme do David Ayer, tal como outros como Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e Liga da Justiça (2017) na época, sofreu muito pelas intervenções executivas da Warner Bros. Pictures que almejava que os filmes da DC seguissem os padrões da Marvel Studios, fazendo com que sofressem regravações e reedições que não deram muito certo e acabaram sendo exibidos não muito bem finalizados. Porém, ao contrário de Liga da Justiça que teve uma nova chance de se redimir com a edição do diretor em 2021 na HBO Max, Esquadrão Suicida (2016) de David Ayer não recebeu a mesma chance e, pelo contrário, um soft reboot foi gravado por James Gunn – diretor da trilogia Guardiões da Galáxia – e chegou aos cinemas no dia 5 de agosto de 2021.
Atenção: spoilers (revelações de enredo) a partir daqui.
O novo longa teve, ao contrário do último, total liberdade para o diretor e inclusive uma censura 18+ (que o tema realmente exige). Esquadrão Suicida deveria, desde sempre, tal como Deadpool (2016), ser um filme para maiores, com liberdade e com uma história coesa sobre uma equipe de subvilões reunida para limpar a sujeira do governo. Aqui, tudo o que se espera de um filme do Esquadrão Suicida foi incluído – temos mortes de personagens, não só os descartáveis, além da trama política intensa, humor e muita violência, é claro. E sem reedições notáveis.
O filme começa com a ironia típica da Horrivelmente Brilhante Mente de James Gunn nos apresentando personagens com os quais achamos que devemos nos importar como o Savant (Michael Rooker), o Guardião Negro (Pete Davidson), a Doninha (Sean Gunn), o Capitão Boomerangue (Jai Courtney) que retorna do primeiro filme, entre outros, e todos são mortos nos primeiros 5 minutos de filme – você realmente se surpreende com o tempo mínimo que tais personagens tiveram em tela – só para servirem de distração da equipe principal liderada pelo Sanguinário (Idris Elba) – que basicamente substitui o personagem Pistoleiro (Will Smith) com uma trama idêntica – e que conta com os principais personagens como o Pacificador (John Cena), Homem-Bolinha (David Dastmalchian), Tubarão Rei (Silvester Stallone) e a Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior). A missão da Força Tarefa-X reunida por Amanda Waller (Viola Davis), que retorna do primeiro filme, é, desta vez, além de resgatar o Coronel Rick Flag Jr. (Joel Kinnaman) que também retornou para liderar a equipe-distração e que, sobreviveu, tal como a Arlequina (Margot Robbie) que retornou também do primeiro filme e teve sua evolução em Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020) que foi muito importante para a definição de sua personagem agora.
A trama segue fugindo de clichês do que se espera de filmes de equipe de super-heróis ou de assassinos, além da ironia inicial, entramos em outra sequência ainda mais irônica quando a Força Tarefa-X, na missão de resgatar o Coronel Flag, acaba por matar, – de forma na qual não deveríamos achar graça, mas achamos – enquanto disputavam por números de mortes, todo o exército rebelde que pretendia recuperar a paz na fictícia Corto Maltese, liderados por Sol Soria (Alice Braga). Logo em seguida, também temos a Arlequina sendo capturada e pedida em casamento pelo Presidente de Corto Maltese, mas matando-o logo em seguida por lembrar-lhe traços de toxicidade de sua relação anterior, além de libertar-se em uma sequência incrível enquanto a Força Tarefa-X organizava um excelente plano para resgatá-la, o que acabou não sendo necessário.
A ironia é realmente o prato aqui: o roteiro não descarta, inclusive, utiliza em momentos-chave argumentos apresentados logo no início da trama como a disputa de tamanho de balas entre o Sanguinário e o Pacificador, tal como o simplório Tubarão Rei ser o membro mais forte da equipe, o Homem-Bolinhas simplesmente ser útil fazendo o que se espera de seu nome: tacar bolinhas nos outros, a Arlequina acreditando ter um plano divino ao herdar o dardo do falecido Javelin (Flula Borg) e a Caça-Ratos vencendo a ameaça intergaláctica utilizando criaturas pequenas que são os ratos. E por falar na ameaça, apesar da trama pôr como vilões os ditadores de Corto Maltese numa sátira bem genérica de países comunistas típica dos quadrinhos dos anos 80, a trama também reforça como o governo estadunidense é o verdadeiro vilão ao capturar Starro, a estrela-do-mar espacial, e usá-la num acordo em que faria experiências com os cidadãos rebeldes cortomaltesenses. Por fim, você fica até triste pelo monstro que apenas vagava entre as estrelas quando foi capturado e forçado e matar e escravizar adultos e crianças.
Com a liberdade que a Warner Bros. Pictures deu a James Gunn de matar qualquer personagem, você fica realmente tenso e surpreso sem saber o que esperar – apesar de, obviamente, menos a Arlequina. Aliás, esta é tão imorrível para o roteiro que acaba usando isso a favor dela, pois não existe nenhuma outra explicação, como sempre, para sua presença na Força Tarefa-X a não ser o seu poder de ter o roteiro ao seu lado. Todas as suas sequências são incrivelmente cinemáticas e nem chegamos a questionar como ela não leva nem um tiro, pois ela mesma sabe que ela é protegida pelas diretrizes que impedem de matarem-na no filme. A própria nem questiona a razão de ela estar na equipe e ainda assim permanecer nela mesmo depois de se libertar (de novo! Na real, eu acho que ela nem tem a bomba implatada no pesçoco, ela só está na equipe porque quer). Porém, ainda assim, outros personagens superimportantes são mortos no decorrer da trama, afinal, se não isso não seria o Esquadrão Suicida.
Diferente do primeiro filme, a trilha sonora encaixa bem, porém, não é composta por tantas músicas famosas – o que de certa forma é bom, pois não distrai tanto e, afinal, uma história precisa ser contada e não uma sequência de uma dúzia de videoclipes. Destaco, porém, a canção brasileira Quem Tem Joga das cantoras Drik Barbosa, Gloria Groove e Karol Conká que toca na cena da balada em Corto Maltese. Diferente do primeiro, o filme é muito bem dirigido e editado – existem sequências incríveis, James Gunn mais uma vez usa e abusa dos recursos cinemáticos. Os efeitos sonoros estão muito bem produzidos, tal como os efeitos especiais – tirando aqueles que realmente tiveram propósito em serem cômicos, o que funciona muito bem no tom – apesar do filme ter sido facilmente gravado por si passar em único cenário, a trama funciona bem redonda e não extrapola além do que deveria. O filme encerra contando uma história, com início, meio e fim, e assim que deveria ser, mas, com cenas pós-créditos, é claro. Agora resta é esperar pra saber como a Warner Bros. Pictures reagirá à aprovação do filme, visto que está sendo muito mais elogiado justamente pela falta de intervenção, se retornarão com o Universo Compartilhado da DC ou se continuarão apostando em filmes isolados.

O Esquadrão Suicida (2021) já está nos cinemas e chega em breve no streaming HBO Max.