O tão aguardado longa do diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok), que já havia estreado lá fora em outubro, finalmente está chegando ao Brasil.
Se passando na Alemanha durante os últimos meses da Segunda Guerra Mundial, a trama acompanha o jovem Johannes Betzler (o estreante Roman Griffin Davis) que cresceu durante os anos de nazismo sofrendo a influência e ilusão de que Adolf Hitler era um ícone divino, construindo até mesmo um Melhor Amigo Imaginário que é a imagem infantilizada de Hitler (Taika Waititi), algo que, aparentemente, era bem comum entre as crianças da juventude hitlerista. O diretor aproveita a visão das crianças no quartel com a intensa lavagem cerebral para fazer uma alusão a alienação que muitos sofrem em muitos países, como na primeira noite do quartel em que a diversão das crianças é fazer uma fogueira queimando livros de história.
Johannes tinha o sonho de se tornar um dos soldados na Guerra, mas não fazia ideia de como funcionava este mundo, se acovardando em suas primeiras tarefas na academia, ganhou o apelido de Jojo Rabbit após recusar-se a matar um coelho e para tentar se provar digno, incentivado por seu Hitler imaginário, rouba uma granada e acaba se ferindo com a explosão, levando a sua expulsão da Academia – fico a imaginar aqui se Taika Waititi se inspirou na figura jovem do atual Presidente do Brasil ou se é somente uma coincidência. Após recuperar-se, mas não totalmente, o pequeno Jojo é forçado a trabalhar como carteiro, e como não vivia mais no quartel, acabou passando mais tempo em casa, o que fez com que descobrisse Elsa (Thomasin McKenzie), uma jovem judia refugiada por sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) nos fundos do quarto de sua falecida irmã.
A partir daqui a filme sai de um tom de comédia ácida e sátira política para uma história sobre amor ao próximo. É através da jovem judia que Jojo descobre que tudo o que lhe foi ensinado sobre judeus era mentira, como a imagem de que eram monstros demoníacos. A própria Elsa brinca com isto, incentivando o jovem Jojo a acreditar que ela era perigosa e a escrever um livro sobre como os judeus são para ajudar outros jovens a reconhecerem quando virem, mas com o tempo passando juntos, ele acaba se apaixonando e protegendo-a também, entendendo com o tempo os motivos de sua mãe ser uma militante pregando rua a fora mensagens de amor e contra o anti-semitismo. Ao mesmo tempo, tal como fez Del Toro em A Forma da Água, a trama do pequeno alemão com a jovem judia serve de metáfora para aceitação de outras minorias, como vemos também na relação queer do Capitão Klenzendorf (Sam Rockweel) com seu súdito Finkel (Alfie Owen-Allen) e suas extravagâncias.
É claro, o filme não é somente um mar de flores de lições de amor. Tem momentos bem tensos e que nos faz emocionar e chorar – é lógico que um filme sobre Segunda Guerra Mundial tem que ter suas tragédias – alternando bastante entre comédia e drama, ou até momentos de dramédia onde você não sabe mais se chora, ri, fica horrorizado ou agoniado torcendo pela sobrevivência de Jojo, Elsa e seus amigos, valendo aqui como comparação talvez uma versão bem mais leve e divertida da trama pesada de O Menino do Pijama Listrado e A Vida É Bela que faz você sair emocionado do cinema, não por horrorizado, mas com vontade de dançar, pois esta é, segundo o filme, a maior manifestação da liberdade humana.
Além da direção incrível, o filme carrega uma maravilhosa fotografia e trilha sonora que emociona e também brinca, o que já há de perceber logo na abertura com a ironia da música I Want To Hold Your Hand (Beatles) enquanto mostra o fanatismo nazista entregando as mãos a Hitler, ao mesmo tempo em que sugere o final que nos ensina a ter empatia e não soltar a mão de ninguém. Apesar do elenco já consagrado, os jovens atores-mírins dão um show, é impossível não sentir a emoção e confusão de Jojo ou não se apaixonar por Elsa, além de rir e adorar a relação de Jojo com seu amigo Yorki (o estreante Archie Yates)
Jojo Rabbit estreia dia 6 de fevereiro no Brasil e está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme.