Definitivamente é muito fácil um filme me fazer chorar, mas, a maioria das vezes, é algo momentâneo que ocorre durante uma cena e passa logo depois. É raro que eu realmente fique chocada, impressionada ou impactada com o que eu acabei de assistir na tela grande. Atentado ao Hotel Taj Mahal é um desses casos. O longa dirigido por Anthony Maras conta a história real da série de atentados realizados em Mumbai, na Índia, em 2008. Esse filme me marcou de tal jeito, que estranhei quando subiram os créditos porque tinha esquecido que estava dentro de uma sala de cinema.
O longa segue o padrão do gênero de desastre e foca em personagens específicos para que acompanhemos suas trajetórias. Dessa maneira, com todo o cuidado da direção e do roteiro, conhecemos um pouco sobre as vítimas desse massacre: a família rica que acabou de chegar ao hotel, a jovem babá que os acompanha, o funcionário que vive em uma situação precária, o chefe que vê os hóspedes como deuses, o empresário rabugento que se mostra uma boa pessoa, o casal de turistas que é surpreendido no meio do mochilão e várias outras pontas que vão aparecendo e sumindo no decorrer do filme. O elenco estelar conta com Dev Patel, Armie Hammer, Nazanin Boniadi, Anupan Kher e Jason Isaacs. Todos estão excelentes. Eles entenderam a agonia de cada um de seus personagens e, assim, conseguiram transmiti-las para os espectadores com facilidade.
O filme nos ganha na tensão e na empatia. Na tensão, porque sabemos o que aconteceu, mas não temos ideia de como tudo se desenrolou e muito menos quem sobreviveu. É uma eterna dúvida sobre o que é real e o que foi inventado para o filme. Os planos são longos, o que nos deixa esperando, e esperando, e esperando até acontecer alguma coisa – ou não. E é aí que entra a empatia. Nós estamos em cada um desses personagens e nos imaginamos nas mesmas situações. O temor aparece quando o personagem toma a ação que seria nossa escolha e morre logo em seguida. Quantas vezes não me peguei pensando “eu já estaria morta nessa hora”. A situação de caos é presente o tempo inteiro e não temos como julgar a reação de cada um deles. Não existe mais certo e errado. Não existe mais sentido.
A direção acerta ao explorar o máximo possível da beleza do hotel, dando toda a sensação de castelo impenetrável, para depois, desconstruir tudo isso e mostrar o ambiente em pedaços. De novo, sentimos como se fôssemos hóspedes, como se frequentássemos o hotel e lamentamos sua destruição – muito próximo da sensação que pairou no ar depois do incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris. A edição de som também funciona perfeitamente trazendo os barulhos de bombas e tiros para o ouvido do espectador de forma surpreendente. É um tipo de jump scare que, em uma situação realista, funcionam muito melhor que em filmes de terror preguiçosos.
Embora cheio de méritos, o longa não consegue se livrar de alguns clichês típicos do gênero, como todos os celulares acabando as baterias ou o bebê que pode chorar a qualquer momento e entregar a localização das vítimas. Por mais que o roteiro tenha se preocupado em marcar a passagem do tempo com legendas explicativas, fica a impressão de que ele poderia ter escolhido outro recurso para que determinadas ações acontecessem. Outra questão incompleta são alguns personagens que são introduzidos, mas esquecidos com o passar da trama. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a sensação de desperdício com relação à história dos terroristas. Mesmo mostrando alguns de seus propósitos, conhecer um pouco de cada um deles daria uma profundidade a mais no longa.
Atentado ao Hotel Taj Mahal é um filme forte, envolvente, que me fez tremer até do dedo mindinho a ponta de cada fio de cabelo. Ele consegue prender o espectador, emocionar e apavorar através de um dos fatores mais incontroláveis do mundo: a crueldade humana.