Depois de 15 anos, finalmente um reboot da morta franquia Tomb Raider no cinema, adaptando o reboot da franquia nos jogos. Confuso? Saiba mais lendo o nosso artigo que explica tudo.
Atenção, este artigo contém spoilers – revelação do enredo.
Baseado na terceira geração da franquia Tomb Raider, Tomb Raider: A Origem apresenta uma jovem Lara Croft – Alicia Vikander, a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por A Garota Dinamarquesa, lá pelos seus 21 anos, com um cotidiano que até então não havia sido explorado – a jovem rica mimada de sempre, agora não quer mais o dinheiro da herança do pai, porque para isto deveria assinar o termo de óbito, sendo que esta ainda acredita que está vivo. Assim, tendo de trabalhar de entregadora e fazendo outros bicos para sustentar-se. O primeiro ato do filme foi adicionado ao roteiro somente para explicar como a jovem Lara Croft sabe manusear arco e flechas, lutar e se livrar de armadilhas – apesar de fraquejar quando há falta motivação.
Em contato com os objetos de herança de seu pai, descobre pistas de que pode ainda estar vivo na misteriosa ilha de Yamatai e vai em busca de alcançar a ilha, atravessando coincidentemente uma tempestade no impetuoso Mar do Diabo, região perigosa do Oceano Pacífico, que por acaso só tinha tempestade no dia em que ela chegou – no jogo Tomb Raider – 2013, ela vai atrás da ilha em uma expedição arqueológica, sem ligação com o pai, e o navio é atacado pela fúria de Himiko, deusa japonesa das tempestades, que não deixa ninguém se aproximar ou escapar da ilha, também sabe se lá por quê. Baseando-se nas anotações de seu pai sobre o mistério da deusa Himiko, no filme, conhecida como uma rainha e necromante japonesa esquecida pela história ao ser enterrada viva na ilha, acaba cruzando seu caminho com Mathias – Walton Goggs, aqui representado como um encarregado da Trindade – organização inimiga principal da franquia – e que confessa ter sido o responsável pela morte do Lord Richard Croft, diferente do líder cultista do jogo.
Ao chegar na ilha, o filme fica bem mais interessante e visualmente incrível. Mais impressionante ainda com a semelhança visual com o jogo, sendo em cenas e movimentos que quem jogou vai identificar de cara – destaco aqui a cena do para-quedas. O filme até então tinha um tremendo potencial até cruzar o caminho de Lara com o vivíssimo Lord Richard Croft – Dominic West – sim! O pai da Lara estava vivo, mesmo depois de Mathias e testemunhas terem admitido que o viram matá-lo a sangue frio. Acreditando, sem razão, que a deusa Himiko os mantinha presos na ilha, dedicou-se a impedir que a descobrissem, até que Lara, cismada em fazer todo o contrário do que seu pai pede, entrega de bandeja as instruções para encontrar a tumba, depois de Mathias caçá-la por sete anos. Não fica muito bem clara a importância para o enredo da presença do pai de Lara a não ser para servir de catalizadora de emoção e sacrifício a fim de transformá-la na heroína.
Assim começa uma sequência de ação e aventura adentrando a tumba perdida de Himiko, muito semelhante aos jogos clássicos que tinham quebra-cabeças e armadilhas, e mais interessante também é a decisão da adaptação de negligenciar a presença da magia do universo Tomb Raider. Toda a magia envolvendo Himiko era tecnologia ou biologia, incluindo sua ligação com a morte – tratava-se de uma doença semelhante ao vírus zumbi, que matava o infectado, ou não, e o transformava, depois de falecido, num morto-vivo descerebrado e sedento de sangue. É claro que, como é de costume, Lara é obrigada a destruir a tumba, pois se não, não tinha por que dela estar ali. Perguntas ficam em aberto, e que até seria interessante se terminasse de forma sutil, mas o roteiro inocente entrega de bandeja também a protagonista descobrindo alegremente toda a trama da antagonista Anna – Kristin Scott Tomas, namorada do Lord Croft em Rise of Tomb Raider – 2015, aqui uma sócia de sua empresa, e que tal como no jogo, atual líder da Trindade e responsável por tudo o que aconteceu. Para ficar ainda mais clichê, termina com Lara comprando revólveres para assemelhar-se a personagem clássica, mas sem motivação alguma.
Apesar de toda trama clichê, o filme assemelha-se muito a trama inspiradora e é carregado de fanservice. Carrega também um visual incrível, e não tinha como ser difícil, já que não envolve magia. A sonoridade está muito bem editada e a fotografia muito boa também, quase achei que fosse aparecer o letreiro sobre a praia. Contudo, Tomb Raider: A Origem pode agradar o público que esperava ver a formação da heroína, e o público do cinema de ação, principalmente com relação a mulheres, logo que a personagem forte não é hiper-sexualizada como era antigamente, mas senti falta de expressividade na atriz, apesar de cativante no primeiro ato. Na verdade, nenhum dos personagens transmitiu expressividade e nem me envolveu com eles, nem mesmo o capitão do navio Lu Ren – Daniel Wu.
Tomb Raider: A Origem pode servir de um bom recomeço para franquia, mas não é tão melhor do que a franquia anterior no cinema. De qualquer forma, estou ansioso para ver como prosseguirão a trama, casa haja uma continuação, afinal, o universo já foi estabelecido, e Lara já se transformou na Tomb Raider que conhecemos.