A história sobre um menino que nasceu com a síndrome de Treacher Collins, uma anomalia congênita rara, retratada no filme Extraordinário, em cartaz nos cinemas desde ontem, está emocionando expectadores do mundo inteiro. No longa, Julia Roberts e Owen Wilson vivem os pais de um menino que tem a síndrome e tenta superar o obstáculo de encarar uma escola regular pela primeira vez.
A má-formação afeta 1 a cada 50 mil bebês no mundo todo, e requer o acompanhamento de uma equipe multiprofissional como dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos e geneticistas, além de uma série de cirurgias para a correção da face. No caso de Auggie, foram 27 cirurgias em seus 10 anos de vida. É óbvio que, só de ver o trailer, você saca que precisará não de um lenço e sim de um lençol para assistir ao longa.
Apesar de não ter lido o livro de J. R. Palacio, a obra que serviu de inspiração, conversei com dois leitores que disseram estar muito bem adaptado pro cinema. Não tem muitos detalhes, mas a essência está presente, uma história de melancolia infantil, porém contada com doçura e até uma certa leveza, apesar do tema.
O menino luta bravamente pela vida e os obstáculos que aparecem em seu caminho, mas se desmonta ao saber que tem que enfrentar crianças em uma escola. Preciso destacar a maravilhosa atuação de Jacob Tremblay, que fez O quarto de Jack. Ele consegue transmitir toda a ansiedade e medo de um garotinho fã de Star Wars ao enfrentar um bando de crianças más. Sim, crianças são naturalmente más, não sabem lidar com o desconhecido e não têm filtro, falam o que passa pela cabeça sem medir consequências. Aliás, muitos chegam a idade adulta assim, né? O preconceito e a ignorância ficam bem visíveis no filme.
Julia Roberts e Owen Wilson estão nos papeis dos preocupados pais de Auggie, mas não têm atuações memoráveis. Aliás, parece que ele está interpretando novamente John de Marley e Eu (até porque rola um drama com a cachorrinha da família também). Há, ainda, uma pequena participação da brasileira Sonia Braga fazendo o papel da avó do menino. Mas, a trama dos outros jovens do filme foi o que mais me chamou a atenção. O diferencial não é só focar em Auggie, mas dar atenção às pessoas ao seu redor, para mostrar que todo mundo tem problemas, grandes ou pequenos.
Podemos conferir, por exemplo, o drama da irmã Via (interpretada por Izabela Vidovic) que quase não tem atenção dos pais, já que eles vivem preocupados com Auggie por motivos óbvios. Ela é compreensiva e ama o irmão, mas é sempre deixada de lado. Sem contar que a adolescência já é um período difícil e de muitas incertezas, imagina não ter com quem conversar? Até porque, logo de cara, vemos que sua melhor amiga nas férias parou de falar com ela e não sabemos o motivo. Claro, depois tudo é explicado e você acaba ficando com pena da menina também. Destaco, ainda, a interpretação de Bryce Gheisar, que faz Julian, o clássico garoto popular e praticante de bullying.
Ou seja, todo mundo tem problemas. Não julgue alguém antes de conhecer sua história de vida. Ninguém sabe da batalha que o outro está enfrentando. Essa é uma lição e tanto nos dias de hoje em que todos querem expressão sua opinião mesmo quando a mesma não é solicitada. Mais duas observações: a maquiagem de Tremblay está sensacional e a plateia costuma aplaudir o filme. Aconteceu nas sessões de conhecidos meus, até na que eu estava. É inegável que o filme tem carisma, apesar de não ser perfeito. E ter referências à Star Wars uma semana antes da estreia de Os últimos Jedi é bem bacana também.