Netflix aposta em tom mais sombrio, acertando em cheio toda a mística e problemáticas de Frank Castle
Ao pensar em uma adaptação de Justiceiro logo vem aquele problema a tona “Será que vão o conteúdo violento famoso da HQ?”. De cara já te respondo que além de trazer essa marca registrada do anti-herói a Netflix soube trabalhar para não ficar trash. Apesar de não ser fiel quanto à origem Steve Lightfoot reinventa uma origem bem elaborada e digna de fúria não somente para Frank, aos espectadores que acabam por simpatizar pelo anti-herói.
O desafio principal era retratar um personagem que usa de métodos que burlam a lei para conseguir seus objetivos, na medida em que ele não pode ser odiado e sua motivação deve ser convincente. Não somente a equipe conseguiu tal feito, mas inseriram problemáticas a serie que estão em debate atualmente nos Estados Unidos, como o porte de armas, terrorismo e a não assistência do governo para os ex-ecombatentes de guerra.
Jon Bernthal já havia convencido o público na segunda temporada de Demolidor que nasceu para o papel de Frank Castle e agora além de se reafirmar como tal em sua série teve êxito em retratar toda a problemática do personagem com o acidente envolvendo sua família. A série soube fielmente abordar esse tema, não somente com flashbacks, mas por vezes Maria Castle(Kelli Barrett) aparece quase como um fantasma fazendo Frank lembrar de bons momentos com sua esposa e logo em seguida voltando para a sua dura realidade.
Se você não viu ainda toda a temporada é melhor tomar cuidado, a partir daqui começam os SPOILERS.
O ritmo inicial da série é frenético, nós vemos Frank Castle ir atrás das últimas pessoas responsáveis pela morte de sua família, já nas primeiras cenas vemos as habilidades táticas de tortura e bélica do personagem. A apresentação do personagem Micro/David Lieberman(Ebon Moss-Bachrach) é muito boa e melhor ainda é o desenrolar da interação dele com Frank Castle que é um dos pontos altos da série.
Além do núcleo principal que é a história de Frank, somos apresentados a outros núcleos que não deixam de dialogar com o principal, que por ventura no futuro se juntam, que são importantes para abordar as temáticas atuais já ditas no início. Dinah Madani(Amber Rose Revah) e Sam Stein(Michael Nathanson) são agentes da segurança nacional que buscam um crime que envolve o passado militar de Frank e querem expor um inimigo que eles acreditam que fazer parte do governo. Suas cenas levam a série para um tom mais policial e investigativo que não destoa com a temática principal.
Curtis Hoyle(Jason R. Moore) é um amigo de Frank Castle e veterano de guerra que perdeu uma perna em combate e agora lidera um grupo de ajuda para também veteranos que precisam de ajuda. Aqui é abordada não só a problemática do abandono do governo para com os ex-combatentes de guerra, mas também os problemas psicológicos que os mesmos podem vir a sofrer. Lewis Scott(Daniel Webber) é o personagem que vive esses transtornos e por não achar que se encaixa na sociedade, acaba por cometer atos terroristas e acaba por achar que está agindo como o Justiceiro. Aqui é mais um ponto alto da série que faz uma distinção dos atos terroristas com o do personagem principal, mas sem deixar também os atos do Justiceiro como certo ou errado, deixando o assunto em aberto no qual os próprios personagens da série debatem.
Os vilões são bem estabelecidos e apresentados. Rawlins(Paul Schulze) é coordenador de operações especiais da CIA que no passado fez com que no passado Frank Castle cometesse crimes no Afeganistão para ganho próprio com exportação de heroína. Para aqueles que já conheciam o anti-herói desde a história em quadrinho tiveram uma feliz surpresa, o principal vilão de Justiceiro, Retalho/Billy Russo(Ben Barnes) tem sua origem mudada e nos é apresentado como melhor amigo e companheiro de batalhão de Frank Castle. Apesar do nome Retalho não ser mencionado a sua face é deformada semelhante aos quadrinhos
A série consegue trabalhar todas as problemáticas que apresenta ao decorrer dos seus 13 episódios, com ressalvas em relação ao porte de armas. Manteve um tom sombrio e realista, bem característico dos quadrinhos sem chegar ao ponto de gore sabendo dosar as cenas onde o Justiceiro mata os inimigos em emboscada e invasão muito bem. Não tem alívio cômico, mas além das abordagens de núcleos que como já dito, dialogam entre si, o alívio dessa violência fica na interação entre Micro e Frank e a família de Micro e Frank.
Único ponto fraco é o grande número de episódios que pode desinteressar uma pessoa de “maratonar” a série, mas afirmo que todos os episódios não caem de qualidade, pelo contrário acrescentam positivamente para a narrativa da história. O final termina com uma incógnita, sem deixar pistas para um futuro, possivelmente por conta da saída da Marvel da Netflix. Se não houver um futuro para Frank Castle prosseguir com sua história na Netflix, com certeza os fãs tiveram um grande presente com essa excelente temporada que vale muito assistir.
Nota 5/5