Nota: esta crítica refere-se ao filme Liga da Justiça de 2017 e o artigo foi publicado no mesmo ano, mas atualizado com links para as novas críticas.
Este artigo tem a classificação L – Livre de Spoilers.
Não é de hoje que os estúdios sonham com filme-evento. Durante as últimas décadas, tivemos várias criações de universos compartilhados e crossovers, mas é claro que a DC – que agora se auto-denomina como apenas DC e não mais DC Comics – faz isto nos quadrinhos desde os anos 40. Fez isso muito bem nas animações nos anos 90 e 2000 e tenta reproduzir no cinema desde então, mas não obteve sucesso graças a limitações como quando havia o processo sobre os direitos de criação do Superman, que impediu o personagem de aparecer desde 2006 até 2013.
Várias foram as tentativas, mesmo em 2006 já estavam nos planos da Warner Bros. Pictures de apresentar Batman Vs Superman – tanto é que a aquela clássica sequência de Eu Sou A Lenda, com o pôster do filme, deve-se a estes planos. Havia também um filme que seria dirigido pelo próprio George Miller, teria Brandon Routh e Christian Bale reprisando seus papéis como Superman e Batman, o vilão seria o Ra’s Al Ghul e terminaria com a morte do Flash. Anos se passaram, e finalmente, bem atrás da concorrência, que por acaso apenas se inspirou na ideia destes, Liga da Justiça chega aos cinemas.
O filme, que não pode ser denominado como um filme-evento, pois não trata-se de um crossover de franquias que nasceram paralelas, mas sim de uma sequência da franquia iniciada em O Homem de Aço, de 2013, traz de volta os personagens já apresentados e apresenta novos – alguns com mais espaço do que outros. É claro que o playboy amargurado Bruce Wayne (Ben Affleck de volta em seu papel) e a experiente amazona Diana Prince (Gal Gadot, também de volta em seu papel) ganham mais tempo em tela e importância em trama do que os novos protagonistas – o atlante badboy Arthur Currie (Jason Momoa, o Khal Drogo de Game of Thrones), o jovem meta-humano Barry Allen (Ezra Miller, o Patrick de As Vantagens de Ser Invisível) e o dramático ciborgue Victor Stone (o estreante Ray Fisher) – por questões de política cinematográfica e o primeiro ato até tenta dar um foco nos personagens a fim de desenvolver e apresentá-los a grande público, mas a correria – proveniente culpa da recente decisão da Warner Bros. Pictures de reduzir o tempo de tela para 1 hora e 59 minutos, não deixa que nos afeiçoemos o bastante pelos personagens. Eu nunca achei que eu fosse lamentar tanto por terem diminuído o tempo em tela do Ciborgue e na verdade até queremos ver mais sobre o background destes, em especial tudo o que cerca o novo mundo apresentado de Atlântida e o povo atlante, que só empolga ainda mais para o vindouro filme Aquaman.
Editado¹ – Confira aqui a crítica do filme Aquaman.
As sequências das amazonas são novamente um espetáculo e ainda se superam com relação a sua última aparição em Mulher Maravilha, deste mesmo ano, mesmo em tão pouco tempo de tela, e o background do vilão conhecido como Lobo da Estepe (Ciarah Hinds, o Mance Rayder de Game of Thrones) que, apesar de não ter a menor carisma e impacto e sua posição ser um tanto que confusa em relação aos superiores, também dá vontade de conhecer muito mais sobre a cultura da qual o gerou, os Novos Deuses, que dá a entender apenas que são deuses que nasceram após a morte dos Olimpianos, segundo menção do próprio antagonista.
São duas interações do vilão com o núcleo de amazonas, mas a segunda – que trata-se de um flashback, como vocês já puderam ver em trailers – é ainda mais impressionante, pois guarda surpresas como menções a personagens clássicos e bem conhecidos pelos fãs da DC. E falando em service, os fãs podem ficar realmente felizes com todos os presentes como menções ao background de cada um dos personagens introduzidos.
Assista: Conheça a história do Lobo da Estepe
Personagens que, ao serem introduzidos, servem de sugestão para outros personagens clássicos, e, é claro, a cena durante os créditos, que em nada acrescenta a trama, mas é um agrado, e a cena depois dos créditos que contribui bastante para o futuro da DC no cinema e constrói ainda mais o universo compartilhado, ao contrário do que prometiam alguns furos de notícias.
Sobre a qualidade do filme, lamento muito em dizer que fica bem claro que o filme passou por baitas processos de re-edição – alguns personagens são inconsistentes e existem cortes mal posicionados e isso muitas vezes incomoda demais, apesar de não atrapalhar em informação, pois parece que apenas oculta onde não a havia e isso também enfraquece o conjunto. Fica claro que há mais de uma direção, em especial em questão de planos, que sofreram com as regravações. A fotografia recebeu um upgrade na pós-edição, mas a computação gráfica mal finalizada para com personagens que dependem dela pode não me incomodar, mas com certeza incomodará alguns.
É visível também que Ben Affleck não está satisfeito com seu personagem e pouco se esforça – ao contrário de sua dedicação para o filme anterior, – enquanto os outros protagonistas até se esforçam, mas não conseguem passar veracidade. A trilha sonora composta por Hans Zimmer mais uma vez faz falta – apesar de repetições de alguns trechos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, – mas não dá lugar a uma playlist de canções licenciadas e sim a orquestra composta por Danny Elfman, que reproduz trechos antigos como o tema noventista de Batman, composto por ele mesmo, mas não fica claro qual a música tema para cada personagem – o tema da Mulher Maravilha não está presente – e muito menos qual o tema para o filme ou para o super-grupo.
O roteiro, apesar de mais redondo que os dois primeiros filmes do universo compartilhado, no sentido de que conta uma história que encerra o arco dos três, mesmo que com ganchos para o futuro, ignora inúmeros ganchos do passado e não é eloquente consigo mesmo, dando a impressão de que foi escrito com preguiça ou desânimo, e que vende uma fórmula pronta, mas que serviria muito bem, caso o filme lançasse anos atrás.
Assista também: Primeiras Impressões de Liga da Justiça – 5 Perguntas Sem Spoilers.
Parece que o filme não foi corajoso por conta da recepção dos anteriores e assim perdeu em originalidade, entregando a fórmula mais comercial e pronta para aceitação do público em geral e que, mesmo assim, teve preocupação com sua dinâmica cansativa atrapalhando até mesmo a narrativa e deixando de fora muito do que, provavelmente, contribuiria para a experiência e a informação.
O filme vai funcionar e provavelmente venderá mais que os outros, principalmente por sua característica divertida, o design mais cartunesco e as consequências mais caricatas, que infelizmente, trazem um filme mais imaturo do que foi a série animada produzida da TV, que fez a geração anterior se apaixonar por Liga da Justiça, mas que provavelmente conquistará a geração que vibra com o cinema atual e finalmente conquistará novos fãs para o universo.
Editado² – Ouça: Podcast sobre a Liga da Justiça e a DC no Cinema
Editado³ – Leia: Liga da Justiça de Zack Snyder – as principais diferenças e os pontos negativos e positivos da nova versão.