Larissa Siriani é uma autora e booktuber bastante conhecida nas mídias sociais. Ela é a mente por trás dos livros As Bruxas de Oxford, O Coração da Magia, O Senhor das Almas e do mais recente: Amor Plus Size. Esta última obra está intimamente ligada a história da autora, que confessa ter crescido sem grandes modelos ou exemplos que seguissem seu biotipo.
Amor Plus Size narra a história de Maitê, uma adolescente de 17 anos que além de enfrentar os dramas normais à qualquer menina de sua idade, tem que lidar com o fato de pesar mais de 100 quilos e não se enquadrar nos padrões impostos pela sociedade. A vida de Maitê muda completamente depois que ela aceita uma proposta de trabalho para atuar como modelo plus size. Então, somos apresentados a uma narrativa interessante, cercada de muito empoderamento e sensibilidade.
É interessante notar que há poucas personagens principais em livros que atendam aos padrões de Maitê e foi pensando nisso que Larissa Siriani decidiu dar início a este romance. O Terra Nérdica quis saber um pouco mais sobre o livro e a história da autora. Curtam essa entrevista:
TERRA NÉRDICA: Quando foi que você percebeu que precisava contar essa narrativa? Qual foi o momento em que você pensou “preciso falar sobre isso” ?
LARISSA SIRIANI: Eu sempre fiz muitas dietas e tratamentos loucos para perder peso, e foi um pouco depois de um desses tratamentos que resolvi dar um basta. Quando comecei a rever meus conceitos de beleza e comecei a me questionar por que eu não conseguia me sentir bem, comecei a perceber que me faltavam inspirações. Eu nunca tinha conhecido ninguém que tivesse passado pelo que eu passava – ou melhor, conheci, mas ninguém falava sobre isso. Percebi que, se eu não tinha um modelo, talvez devesse criar um, e daí nasceu a Maitê.
TN: Nós mulheres passamos por muitos altos e baixos em relação a nossa percepção de beleza e boa parte disso se dá pelos padrões impostos pela sociedade. Hoje em dia eu vejo as meninas um pouco mais livres em relação a como elas enxergam sua beleza. Muito diferente daquilo que enfrentei na minha adolescência e creio que você tenha tido o mesmo tipo de experiência que eu. Você poderia falar um pouco mais sobre essa fase da sua vida? Como era de fato para você encarar bullying? Como era crescer não atendendo esses padrões?
LS: Eu sofri muito mais com as pressões pessoais e familiares do que com o bullying na escola. Rolaram aqueles apelidinhos clássicos, mas eles não eram nem de longe tão ruins quanto as coisas que eu falava para mim mesma. Eu cresci acreditando que havia uma lista de coisas que eu podia ou não fazer e que eu deveria ou não ser. Eu podia ter peitos, mas não demais, senão viram motivo de chacota; não podia ser gorda; não podia comer muito; tinha que me exercitar e controlar meu peso; tinha que esconder ou disfarçar as minhas imperfeições. Cresci me privando de tudo. Aos catorze anos, não usava mais saias, nem shorts, muito menos biquíni. Entrava na piscina de short de lycra e camiseta para não mostrar nada. Com dezesseis, já estava me entupindo de remédio e contando as horas que ficava sem comer. Eu era muito cruel comigo mesma. Ironicamente, só fiz engordar. Quando me dei conta de que eu estava lutando contra algo impossível, decidi que era hora de parar.
TN: Maitê, a personagem principal de seu livro, possui uma mãe que está sempre preocupada com dietas. Creio que muitas meninas, principalmente jovens, passam por isso em casa. Muitas vezes essas dietas estão embasadas em questões de saúde, mas sabemos que às vezes essa não é a maior preocupação. Como você enxerga a influência familiar na autoestima de alguém fora dos padrões? Você acha que a família pode aliviar as pressões sociais para se encaixar ou que ela não é suficiente?
LS: É normal que os pais se preocupem com a saúde e o bem-estar dos seus filhos, e é normal que eles expressem essa preocupação. O que os pais (e a família, num todo) não entendem é que há maneiras e maneiras de se fazer isso. Dizer coisas como “você fica ridícula com essa roupa”, “você precisa de uma dieta”, “você não faz nada para se ajudar” ou até os mais suavemente ofensivos como “você ficaria linda se emagrecesse” não são coisas que ajudam: só pioram um quadro de autoestima já baixa. Incentivar um acompanhamento médico e a prática de exercícios pelo exemplo é muito mais eficaz. Eu sentia muito mais vontade de ir na academia quando a minha mãe ia comigo. É importante que os pais saibam equilibrar a preocupação com a saúde física sem esquecer da saúde mental. A família é quem mais cria traumas na gente, porque tem muita expectativa envolvida. Seja gentil.
TN: Nos últimos anos temos visto um movimento enorme para que as pessoas se aceitem como são. Você acha que a sociedade está realmente mudando ou que é apenas oportunismo das mídias e das marcas?
LS: Rola um oportunismo, mas não acho isso negativo. Se o mercado está entendendo que a aceitação e a inclusão são o caminho, isso significa que já estamos conquistando algum espaço. É lógico que a gente precisa ficar atento e questionar a forma como essas coisas são feitas, afinal, levantar a bandeira só por levantar é muito fácil. Mas acho bom que essa mensagem se espalhe por todos os veículos. Espero que chegue tão longe que, um dia, nem precisaremos mais bater nessa tecla; apenas vai existir e ponto.
TN: O que você espera alcançar com este livro? Que impacto você deseja causar?
LS: Quero ser para alguém o que não foram para mim. A coisa que eu mais gosto de escutar é que a Maitê mudou a maneira como a pessoa se enxerga. Para mim, é isso. Não é a solução dos problemas do mundo, mas já é alguma coisa.
TN: Por último, hoje você está super bem e escrevendo livros de sucesso e com um canal no Youtube bombado. Se você pudesse escrever um whatsapp aconselhando a Larissa da adolescência o que você diria?
LS: “Você é suficiente.”
O livro, que foi publicado através da Editora Verus, já está disponível nas livrarias.