Não é um filme mega ambicioso, do qual pretende ou deve ser uma franquia.
Eu não tinha muita expectativa para Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, novo filme de Luc Besson, que nos trouxe ótimas experiências como O Quinto Elemento e outras nem tanto como Lucy. O diretor já declarava havia muito tempo como ele se inspirava nos quadrinhos franceses para criar seu visual – dentre sua principal inspiração para O Quinto Elemento, estava as artes do Moebius. Valérian, para muitos que não sabem, é uma série de quadrinhos premiada, ilustrada por Jean-Claude Menezes e escrita por Pierre Christian.
Há muito tempo já dizia-se como os quadrinhos de Valerian inspiravam a ficção científica, até mesmo, diz-se, Star Wars e Star Trek – neste então, vemos bastante influência. E com isto, em muitos, criou-se a expectativa de mais uma franquia de sucesso espacial no cinema. Mas fala sério, né? Qual foi a última vez que um filme de fantasia espacial se destacou tanto para se tornar uma franquia? Tirando Guardiões da Galáxia, que veio com o selo Marvel, é claro. E por isto, assisti mais com a esperança de ver uma beleza visual, sem muito trabalho para enredo e direção, e nisso cumpriu.
Já para quem vai assistir esperando um entretenimento, devo dizer que o filme é cansativo demais. Não é longo, mas é tanta história e sub-história, idas e vindas de enredo, enrolação para desenvolvimento da trama e personagens, infinitas sequências de ação intercaladas pelo romance não-muito bem desenvolvido de Valerian (Dane deHan, o Harry Osborn de O Espetacular Homem-Aranha 2) e Laureline (Cara Delevigne, a Magia de Esquadrão Suicida). O filme começa muito bem explicando o surgimento de Alpha – A Cidade dos Mil Planetas – que seria uma grande novidade para o cinema, se já não tivéssemos visto a mesma ideia em filmes como Wall-E, Interestellar, Star Trek: Sem Fronteiras ou na série The 100, ou até mesmo no jogo Halo, e nos animes como Gundam e Edge of Tomorrow. É claro que Valérian possivelmente inspirou todos estes, mas veio muito tarde para as telonas – mas isto não é que incomoda no filme, o prelúdio, mesmo que desnecessário, foi até aceitável para situar o espectador no universo.
A sequência inicial é seguida de outra sequência inicial, que inclusive, devo dizer, que eu queria que não acabasse, para não nos levar a trama principal. Uma visão sobre um planeta e uma raça primitiva que foi exterminada por estar no caminho de uma guerra espacial. A sequência trazia uma cultura muito interessante, com costumes que não havíamos visto, com uma imaginação criativa por apresentar conceitos que até então não haviam sido explorados, pois normalmente quando vemos uma cultura primitiva é inspirada nos índios americanos – Avatar, por exemplo. Mas a sequência dá lugar a cansativa interação de Valerian e Laureline, que não acrescentam muito a trama. Somos apresentados aos agentes espaciais que tem missões nas quais nos importamos pouco, as quais perde-se muito tempo apresentando personagens nos quais também nos importamos bem pouco, nem mesmo quando se vão – e aparentemente nem o elenco se importa. Como assim soldados tão importantes morrem e depois não tem um período de luto, mas piadinhas?
E então, por mais motivos nos quais pouco nos importamos, somos depois de muito tempo apresentados a atual Cidade dos Mil Planetas, que lembra muito um conjunto habitacional brasileiro, com centenas de ambientes distintos. A missão em Alpha é descobrir o que um distrito incomunicável que antes não existia faz no meio do complexo, com técnicas de roteiro para surpreender o espectador, mas que falham por terem antes apresentado a revelação acreditando que teria baixa relevância e culminar em retirá-la da hora certa em que deveria se pontuar. Inclusive com construções não-lineares que não criam um ambiente de mistério – O vilão mostra o rosto na cena do crime, mas é claramente o cara! E uma resolução com caráter Hannah-Barbera e que se estende mais do que devia.
Fora isto, o filme é um espetáculo visual, apesar da direção um tanto preguiçosa para com o elenco, e aparentemente falta de esforço de tal – Cara Delevigne é claramente talentosa, mas ela nem mesmo se esforça para o papel. O filme guarda boas sequências de ação – as quais já haviam sido reveladas em trailers e no marketing – e que, são as que a gente mais queria ver, mas são as que passam mais rápido – esperei muito para ver definitivamente aquele plano-sequência com Valérian correndo e atravessando as barreiras de pelo menos dez ambientes de Alpha, mas que pelo construção, motivação e duração da sequência, ela também se tornou pouco memorável. Para mim, cumpriu o papel de ser mais um filme espacial, bonito de se ver, especialmente no Netflix, mas não para se tornar uma franquia.
Devo dizer muito obrigado a assessoria do Espaço Z que nos convidou para assistir o filme.
Comentamos em vídeo nossas primeiras impressões sobre o filme:
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