Quem me acompanha nas redes sociais sabe como eu relutei para escrever esta resenha.
O seriado terminou sua sétima temporada no domingo dia 9 de abril e desde então venho pensando numa forma de como começar este artigo.
Para quem não conhece, ou não acompanha, The Walking Dead é um seriado da TV norte-americana AMC que adapta a série em quadrinhos de Robert Kirkman conhecida no Brasil como Os Mortos Vivos. A série em quadrinhos segue as aventuras de Rick Grimes, um policial que é baleado numa troca de tiros e acorda no hospital três meses depois e descobre que quase que a cidade inteira está morta e pior: que alguns mortos andam. Segue então a busca implacável de Rick por sua família e a proteção de seus novos amigos, tornando-se a cada ano que passa, o maior líder do novo mundo. A série iniciou-se adaptando cada capítulo dos quadrinhos em um episódio, mas mudou o ritmo a partir da quarta temporada, pois percebera que não dava para estender tanto. A partir da quarta temporada, cada episódio equivalia a um capítulo e meio da série em quadrinhos e assim acelerou sua trama dando às telas a melhor temporada.
Já a sétima temporada, iniciada no fim do ano passado, não teve o mesmo desempenho. Comparação talvez que eu possa fazer com a terceira temporada, que até então eu considerava uma das piores da série, mas que parece que os showrunners decidiram realmente refazê-la. O sétimo ano começa muito bem revirando o odioso cliffhanger deixado no final da sexta, toda a esperança pelo seriado havia se perdido neste último final, mas o seriado soube se reinventar com boas surpresas e o antagonismo impressionantemente bem interpretado entre Rick Grimes (Andrew Lincoln) e Negan (Jeffrey Jean Morgan – ele mesmo, de Watchmen, Supernatural e Batman Vs Superman, que é claramente o ator mais caro do seriado, tanto que boa parte da temporada só aparece em voz e silhueta).
Também fomos apresentados a novos grupos para o público que já estava cansado de dois anos acompanhando a vida pacata de Alexandria – que começara interessante até – para acompanhar um ano da vida pacata do Reino – uma comunidade de sobreviventes liderados pelo auto-proclamado Rei Ezekiel (Khary Payton) que, acompanhado de sua tigresa viva, faz todos viverem em parcimônia como num marquesado feudal a salvo dos errantes e ocultamente a serviço dos Salvadores – grupo que já havia sido apresentado na temporada anterior, mas ganhou mais profundidade neste último ano. Os Salvadores são o grupo liderado por Negan, concentrados no Santuário, que criaram uma espécie de milícia em Washington e oprimem as comunidades com sistemas de troca desvantajosas e foram os responsáveis pela inconsequente criação das Oceânicas – grupo de mulheres guerreiras que sobrevivem numa vila à beira-mar escondidas do domínio patriarcal. E por último, os Escavadores – o grupo mais misterioso e silencioso dos apresentados, que o roteiro tenta empurrar goela abaixo de que são a melhor solução para os problemas de Alexandria.
Andrew Lincoln dá um show de emoções entregando nesta temporada o maior número de transições de personalidade já apresentada por este – o personagem é popularmente conhecido por mudar a cada dois anos, mas só neste último, teve pelo menos três facetas. Desde o selvagem e vingador, passando pelo submisso e protetor, resultando no paciente e perdedor. Enquanto isto, do outro lado, Jeffrey Dean Morgan revela também pelo menos duas facetas, as quais bizarramente aparentam dois lados de uma mesma cara, – observe que eu disse cara e não moeda – como uma luz e uma sombra, em que se apresenta na camada de debochado e falso amigo e quando preciso, aterrorizante e penitente, tratando a todos, companheiros ou inimigos, como seus próprios filhos.
Já outros personagens não ganharam tanta força nesta temporada, que parece ter sustentado-se no antagonismo principal. Mal vale a pena descrever os novos personagens do Reino – importantes e interessantes a princípio, mas que por decisões erradas de plot twist, perdem o sentido. O mesmo para alguns coadjuvantes de Alexandria que ganham seus próprios episódios e que se apresentam nada interessantes, inclusive tediosos, e por esforço da produção em torná-los mais agradáveis ao público, tornaram-se ainda piores, com decisões estúpidas que parecem ter vindo de um seriado romântico adolescente de super-heróis.
Alguns personagens que até serviram bem como coadjuvantes, inclusive para os melhores episódios da temporada que são o Mid-Season Finale e o Mid-Season Premiere, que os tratam da maneira certa – no lugar onde deveriam estar, fazendo o que deveriam fazer e mesmo assim ganhando seu espaço. Já o decorrer da temporada, desanda prometendo um Season Finale de quebrar o queixo, e quebra mesmo, mas de decepção por fazer o mesmo que o fim da temporada anterior – prometer o que há de bom para a próxima temporada. E é esta promessa que nos faz reclamar por metade de um ano sobre a covardia da produção, mas nos faz assistir de novo o próximo Season Premiere questionando-se o por quê disto, pois no fundo lembramos que a produção sabe como começar uma temporada, mesmo não sabendo como terminá-la.
Nota: 2.5/5